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Jovens e pequenas, as fintechs brasileiras sofrem para atrair talentos e capital

Quase metade das fintechs do país surgiram depois de 2016. | Bigstock/
Quase metade das fintechs do país surgiram depois de 2016. (Foto: Bigstock/)

As fintechs brasileiras chacoalharam o mercado financeiro do país ao surgir como uma alternativa aos bancos e dar mais poder de escolha aos consumidores, mas a maioria dessas empresas ainda é jovem, pequena e sofre para atrair profissionais qualificados e capital para crescer. É o que revela uma pesquisa inédita que mapeou esse setor no Brasil feita pela consultoria PwC em parceria com a ABFintechs.

De 2015 para cá, o mercado de fintechs cresceu rapidamente no país, mas poucas conseguiram visibilidade para atrair investimentos e ganhar escala: mais da metade, por exemplo, está no início da operação. Ao todo, são cerca de 400 fintechs no país. Das 224 fintechs que participaram da pesquisa, a maioria está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, nas áreas de meios de pagamento (25%) e crédito, financiamento e negociação de dívidas (21%). Quase metade nasceu depois de 2016, 52% têm até 10 funcionários e 35% faturaram R$ 350 mil em 2017. Só 12% delas dizem ganhar mais de R$ 10 milhões por ano.

Segundo o levantamento, embora as fintechs tenham conseguido reformular a experiência do usuário e acelerar o ritmo de inovação em um mercado altamente concentrado e regulado como o financeiro, a maioria ainda não conseguiu obter participação mensurável de mercado e conquistar uma boa base de clientes. A maioria tem dificuldades para atrair profissionais qualificados, ganhar escala, conseguir visibilidade e atrair investimentos, exatamente nesta ordem.

Enquanto no resto do mundo o investimento de fundos de venture capital é feito justamente no estágio inicial do negócio, no Brasil a realidade é diferente, entre outros fatores, também pelo cenário econômico desfavorável.

Os empreendedores relatam dificuldades em atrair investidores dispostos a assumir os riscos do negócio. Em geral, eles se interessam por investir apenas depois que a empresa atinge o break-even, diz o levantamento.

Na prática, elas não conseguem dinheiro porque falta escala e não ganham escala porque falta dinheiro. Entre as participantes da pesquisa, 57% já receberam investimentos, contudo, são valores pequenos destinados mais para quem está expandindo e consolidando a operação. Em 40% desses casos, os aportes são inferiores a R$ 1 milhão. Quase 30% receberam valores entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões.

Precursor deste mercado no país, o Nubank centralizou mais da metade dos investimentos feitos por fundos de venture capital em fintechs da América do Sul no primeiro trimestre deste ano. Dos US$ 271 investidos, US$ 150 milhões ficaram com a fintech brasileira criada em 2013, dona do cartão de crédito roxo sem anuidade.

O acesso limitado ao capital justamente na fase de provação do negócio é um dos maiores desafios à sobrevivência das novas fintechs. “No Brasil, o capital de risco é escasso e, como a oferta de investimento não é aquecida, as negociações demoram. Pode levar até 15 meses para o empreendedor ter acesso aos recursos. Nesse tempo, há startups que morrem tentando captar investimento”, afirma Rodrigo Soeiro, presidente da ABFintechs.

Mercado exige reinvenção

Mesmo as fintechs que conseguem sobreviver e se concolidar no mercado terão de se reinventar. Segundo Luis Ruivo, sócio da PwC, o que as elas fizeram até agora não vai ser o que as diferenciará no futuro próximo. As tecnologias que lançaram essas empresas ao mercado, como serviços de nuvem e mobile, viraram commodities. E as fintechs sabem disso. A pesquisa mostrou que 19% das empresas do setor pretendem dominar no futuro a inteligência artificial, enquanto 16% querem o mesmo com blockchain e 13% com data analytics.

A nova fronteira de oportunidades para essas empresas, segundo Ruivo, é focar no consumidor final. “A disputa é para ver quem vai dominar o relacionamento com o cliente, não quem vai fornecer a melhor conta corrente. As empresas conhecem pouco sobre nosso estilo, preferências para oferecer algo realmente personalizado. Não adianta ter o dado; é preciso saber o que fazer com ele, e em larga escala”.

O foco no consumidor vai exigir mais conhecimento e, principalmente, investimentos maiores. Hoje, apenas 17% das fintechs atendem apenas pessoas físicas, no mercado denominado B2C. A grande maioria dos participantes atua no mercado B2B, com soluções para nichos corporativos que atendem lacunas deixadas pelos grandes bancos e seguradoras. Muitas, inclusive, têm como clientes as próprias instituições financeiras.

“Quando se isola as grandes fintechs, o impacto das demais no mercado ainda é muito baixo”, diz Ruivo. Mas pesar dos desafios, a expectativa é positiva. De acordo com a pesquisa, 67% projetam um crescimento da receita superior a 30%.

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