São Paulo O país teve deflação de 0,21% em junho. O dado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), resultou em uma inflação acumulada nos últimos 12 meses de 4,03% inferior à meta de 4,5% para o ano, estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O primeiro semestre do ano fechou em 1,54%, contra 3,16% apurados no mesmo período do ano passado.
Segundo explicou o instituto, o principal responsável pela redução nos preços foi a desvalorização do álcool, que contribuiu com -0,11 ponto percentual do índice geral. O preço do litro ficou 8,77% mais barato para o consumidor entre maio e junho, como resultado da maior oferta da cana-de-açúcar em plena colheita e menor demanda pelo produto. A gasolina, com 20% de álcool em sua mistura, passou a custar 1,60% menos e ficou com a segunda menor contribuição individual do mês (-0,07 ponto percentual). Os artigos de vestuário (de 0,90% para 0,59%) e os remédios (de 1,41% para 0,21%) também contribuíram na redução do índice de um mês para o outro. O resultado do grupo alimentos ficou em -0,61%, depois de registrar uma taxa perto de zero (-0,03%) em maio. Nos alimentos, apesar de poucos produtos apresentarem alta, o frango e o pão francês foram os destaques.
Quanto aos índices regionais, apenas Recife (0,21%) e Belo Horizonte (0,15%) não mostraram deflação. Brasília (-0,69%) registrou o mais baixo resultado.
A variação negativa em junho foi a menor desde setembro de 1998 (-0,22%), período em que a economia mundial e principalmente os países emergentes passava por uma recessão gerada pela crise do sudeste asiático, em 1997, e aprofundada pela crise da Rússia.
A deflação de junho confirma que "há uma consolidação de todo um processo de estabilização de preços que vem desde o início do Plano Real", segundo avalia Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE. O IPCA de junho apresentou a menor taxa apurada pelo IBGE desde agosto de 1998. Para Eulina, "sem dúvida" o Brasil pode abandonar a cultura inflacionária.
"As pessoas estão sentindo maior segurança de que os preços estão controlados", analisou, acrescentando que "o Brasil entrou numa fase de completa desindexação, colhendo os frutos de um câmbio muito favorável".
Eulina argumentou que, ainda que a deflação significativa de junho esteja vinculada à queda nos preços dos combustíveis, "muitos outros itens se mostraram relativamente estáveis ou com pequenas quedas de preços". Segundo a coordenadora, este momento de estabilidade da inflação em baixo patamar resulta da boa safra agrícola deste ano (118 milhões de toneladas) e, especialmente, do dólar favorável.
"O dólar tem sido o principal instrumento para a estabilidade da inflação, com auxílio muito grande da safra", disse.