As reduções de juros dos bancos privados pela primeira vez foram significativas e superaram os 10 pontos porcentuais nas taxas anuais. Os bancos já vinham fazendo reduções pontuais nos juros, mas eram cortes marginais, anunciados sempre que o Comitê de Política Monetária (Copom) baixava a Selic.
Agora, a estratégia mudou, por conta da pressão do governo, que fez Banco do Brasil e Caixa reduzirem os juros. A dúvida agora é se o grande público vai ter acesso a essas taxas menores. Em todos os bancos, públicos e privados, os juros menores e os prazos maiores são oferecidos somente para quem já é cliente e, em certos casos, com algum tempo de casa.
O vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, lembra que pouca gente tem 50% disponível hoje para dar de entrada e financiar um carro em 24 meses com juro mais baixo. O Itaú, por exemplo, exige essas condições para cobrar o mínimo de 0,99% ao mês no financiamento de veículo.
As taxas anualizadas do Bradesco mostram queda ao redor de dez pontos. No crédito pessoal, por exemplo, baixaram de 37% ao ano para 26,4%. Mesmo no consignado, que já tem margens menores, houve queda forte, baixando de 17% ao ano para 11%.
No Itaú, houve queda de 66% em linhas como cheque especial para pequenas empresas, que ficaram em 26% ao ano. No financiamento a veículos, a redução foi menor, de 8%, mas a taxa mínima, de 0,99% ao mês (12,5% ao ano), chegou a níveis anunciados na semana passada por BB e Caixa. Santander e HSBC também anunciaram juros menores.
Para o professor de economia do Ibmec, Ruy Quintans, havia risco de fuga de correntistas de Bradesco e Itaú para Caixa e BB, sobretudo daqueles que recebem salários nos bancos privados. "Foi uma reação natural", disse ele.
O analista do setor financeiro da consultoria Lopes Filho, João Augusto Salles, destaca que Itaú e Bradesco só reduziram os juros porque estão vendo um cenário menos problemático que no início do ano, quando desaceleraram o crédito. Com Selic em queda e inflação sob controle, a expectativa é de que as taxas de inadimplência também parem de subir. "Elas podem ter alcançado o pico em março", disse ele.