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Análise

Outros bancos têm pouco espaço para seguir a Caixa

Dificilmente os outros bancos conseguirão seguir o ritmo de reduções de juros da Caixa Econômica Federal no diz respeito ao financiamento imobiliário. Essa é a opinião dos analistas que apontam a Selic mais baixa, em 9% ao ano, como o principal impeditivo para tal movimento.

"No caso do setor imobiliário, que empresta a juros entre 8% e 10% ao ano, em média, a gordura que existe para queimar é muito pequena se comparada à do cheque especial, que está na faixa de 180% ao ano. Pode ser que, por uma questão de competitividade, os bancos privados criem condições especiais para clientes, tirando meio ponto porcentual ou algo assim, mas nenhum aplicará uma margem semelhante à Caixa", explica o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. Ele crê que a quantidade de pessoas que provavelmente aproveitarão as taxas mais baixas do banco estatal é pequena. "Basta vermos as médias para o crédito em geral medidas pelo Banco Central, que estão sempre mais próximas das taxas máximas."

O gerente de mercado de pessoa física do Banco do Brasil no Paraná, Paulo Henrique Gomes Amaral, comenta que não é possível afirmar que a instituição siga os mesmos passos da Caixa na redução de juros para habitação. Segundo ele, a intenção do banco é atrair clientes oferecendo taxas atraentes, mas sem obrigar o consumidor a contratar outros serviços. "A taxa que oferecemos é a definitiva, e não obrigamos o cliente a permanecer no banco para poder manter taxas mais baixas", afirma.

Alerta

Embora os juros da Caixa estejam mais baixos, Oliveira lembra que a base de comparação do consumidor precisa incluir mais elementos, como a taxa de administração e outros serviços embutidos no financiamento imobiliário, valor do seguro obrigatório e qualquer outro produto: "A venda casada é proibida, mas muitos bancos acabam induzindo os clientes a adquirir serviços dos quais eles não precisam. Cabe ao consumidor colocar na ponta do lápis e ver se a taxa de juros mais baixa compensa o gasto mensal que terá com tudo o que está incluído nos serviços condicionais."

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Para Abecip, crédito crescerá 30% neste ano

Agência Estado

A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imo­biliário e Poupança (Abecip) prevê que as concessões de crédito imobiliário crescerão 30% em 2012, para R$ 103,9 bilhões. No ano passado, a alta foi de 42%. "Um crescimento menor não significa um resultado ruim", disse Osmar Lazari, presidente da Abecip. Segundo ele, o nível de expansão dos anos anteriores era insustentável e causou dificuldades para incorporadoras, como falta de insumo, alto preço da mão de obra e atraso na entrega de imóveis Lazari não prevê aceleração significativa em razão dos cortes dos juros. "Não é um produto que pode ser disponibilizado no mercado de um dia para o outro", explicou.

A Caixa Econômica Federal vai diminuir as taxas de juros para o financiamento imobiliário a partir de 4 de maio, quando começa o Feirão da Casa Própria da instituição. A redução pode chegar a até 21% em relação às atuais taxas de juros efetivas, nas condições do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). O anúncio, feito na manhã de ontem, não deve provocar mudanças bruscas na oferta e na demanda no setor, porque ainda há uma quantidade de imóveis estocados, oriundos dos dois últimos anos de animação no setor da construção civil, que fez com que os preços subissem.

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"Com a redução das taxas, será necessária uma menor renda para comprar imóveis que custam abaixo de R$ 500 mil. Isso é animador e bom para o cliente e para o mercado, que se manterá aquecido, mas não severo. A reação do mercado nesta e na próxima semana deve ser mais emocional do que concreta", explica o professor João da Rocha Lima Junior, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

Em imóveis dentro do SFH com valor inferior a R$ 500 mil, os juros passaram de 10% para 9% ao ano para todos os clientes e caíram a 7,9% para quem tem relacionamento com o banco. Para imóveis com valores maiores de R$ 500 mil, as taxas caíram de 11% para 10% para todos os clientes.

Para a Caixa, que tem a expectativa, de no mínimo, repetir o número de contratações de 2011, a redução da taxa de juros significa apoio e incentivo ao crédito, além de estratégia para ganhar mercado. "As taxas mais baixas diminuem o spread do banco, que vai atuar com margens mais estreitas. Mas, para manter um cliente por um longo prazo, vale a pena", comenta Lima Junior.

"O mercado desse setor, nos últimos anos, tem curva de ascensão. Com o dinheiro disponível a um custo mais baixo, a tendência é de que o mercado se estabilize e não aponte perdas", diz Suely Molinari, gerente regional da Caixa Econômica Federal no Paraná. No primeiro trimestre de 2012, a Caixa fechou 17 mil contratações de financiamento imobiliário, num valor total de R$ 1,3 bilhão. Em 2011, no mesmo período, os contratos alcançavam R$ 1,1 bilhão.

Contratos antigos

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A Caixa Econômica Federal ainda não confirma se haverá variação nas taxas para financiamentos que já estão contratados. A instituição não confirma o que poderá acontecer, mas admite que, no momento, os juros mais baixos vão valer apenas para os novos contratos, fechados a partir de 4 de maio. "Quem já está incluído em um contrato deve aguardar. As novas taxas passam a valer a partir de maio e até lá o banco terá um posição mais concreta sobre os contratos antigos", afirma Suely.

Para quem está prestes a fechar negócio com o banco, ela aconselha esperar o período de vigência das novas taxas. "É possível ir juntando a documentação para fechar o negócio assim que as taxas mais baixas estiverem valendo."

Errata As taxas de juros efetivas ao ano, no Banco do Brasil, são de 8,40% para imóveis até R$ 500 mil e 11% para aqueles que excedem esse valor.