A decisão do Fed (o BC americano) em manter estáveis as taxas básicas de juros nos próximos meses, por causa do enfraquecimento da atividade econômica, pode facilitar o fluxo de capitais para países como o Brasil. Instituições financeiras e corretoras ouvidos pelo BC projetam a entrada de US$ 80 bilhões em investimento direto em 2019.
E nos próximos anos pode ser mais, se as reformas avançarem, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Projeções iniciais feitas no Relatório Focus indicam para uma entrada de US$ 87,4 bilhões em 2021. “Em 2020 pode ganhar fôlego, caso as reformas sejam aprovadas”, destaca Sílvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.
“Esse cenário de estabilidade nos juros americanos era uma situação inesperada há dois meses”, destaca Luís Afonso Lima, economista-chefe da Mapfre Investimentos. Segundo ele, o que levou à adoção desse comportamento foi a divulgação de indicadores que mostram a fraqueza da atividade econômica nos Estados Unidos. O FMI projeta que a economia americana crescerá 2,5% neste ano e 1,8%, em 2020.
A flexibilização na política monetária não se restringe aos Estados Unidos. A decisão dos principais players mundiais em manter uma política monetária mais flexível deve-se às expectativas de menor crescimento da economia mundial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu, para baixo, em janeiro, a sua projeção para o PIB. A expectativa é de uma expansão de 3,5%, a menor em três anos.
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Outros importantes bancos centrais, como o chinês, o europeu, o inglês e o japonês também estão adotando essa estratégia. Na China, para fazer frente à redução no crescimento, o Banco do Povo (o BC chinês) vem reduzindo compulsórios para aumentar a disponibilidade de dinheiro e disponibilizando linhas suplementares de crédito. Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) vem agindo frente ao enfraquecimento da economia europeia, que deve crescer 1,9% em 2020. E o Reino Unido enfrenta o risco de uma recessão por causa do Brexit, o processo de saída da União Europeia.
“A liquidez internacional ainda é grande”, destaca Lívio Ribeiro, pesquisador sênior do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A consequência, segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) - órgão mundial que reúne as principais instituições financeiras mundiais -, é que a busca de maiores rendimentos por parte dos capitais está “claramente em andamento”. A entidade estima que o fluxo de capitais em direção ao Brasil poderá aumentar mais de 50%.
Impactos no Brasil
Segundo Ribeiro, este afrouxamento da política monetária internacional pode, até, favorecer uma valorização da moeda brasileira. Bancos e corretoras já estão refazendo suas previsões para a cotação da moeda americana no final do ano. De acordo com o Relatório Focus, a previsão é de o câmbio seja de R$ 3,70 em 31 de dezembro. No início do ano, essa projeção era de R$ 3,80
Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais, aponta que o Brasil está em um momento mais propício para captar recursos vindos de fora. “Muitos emergentes estão pesadamente endividados em moeda forte, o que não é o nosso caso. Isto contribui para uma avaliação de risco menor.”
Bandeira destaca que esta liquidez nos mercados internacionais ajuda muito o processo de privatização que o presidente Jair Bolsonaro pretende desencadear nos próximos meses. “É preciso dar segurança jurídica para absorver estes recursos.”
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Outro fato que contribui para que o Brasil se torne mais atraente, de acordo com Ribeiro, é a perspectiva de um bom retorno para o capital investido. Mas não é só isso, destaca Campos Neto, da Tendências: “o Brasil tem bons ativos financeiros e de mercado.”
Os impactos também são indiretos, ressalta Luís Afonso Lima, da Mapfre Investimentos: o câmbio mais valorizado reduz a pressão sobre a inflação, favorecendo menor corrosão dos salários e taxas de juro menores.
Outra área que pode ser beneficiada com essa liquidez é o de fusões e aquisições. Em janeiro, foram 17 transações envolvendo capital estrangeiro, 20% a menos do que no mesmo mês de 2018, segundo a consultoria PwC.
Mau começo
Apesar das boas expectativas para o investimento direto em 2019, o ano não começou bem. O investimento estrangeiro no setor produtivo do país caiu 30% em janeiro, na comparação com igual período de 2018. No mês passado, o investimento direto no país (IDP) chegou a US$ 5,866 bilhões (R$ 21,917 bilhões). No mesmo mês de 2018, esses investimentos somaram US$ 8,363 bilhões (R$ 31,247 bilhões).
Para o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o resultado do mês passado é “pontual”. Segundo ele, pode ter havido uma antecipação de fluxos de IDP no segundo semestre de 2018, quando houve aceleração desses investimentos. Além disso, Rocha destacou que os dados preliminares deste mês indicam aumento da entrada desses recursos. Em fevereiro, até o dia 21, o IDP chegou a US$ 5,7 bilhões (R$ 21,3 bilhões), com estimativa de US$ 7 bilhões (R$ 26,16 bilhões) para o mês.
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