As oportunidades para a redução no juro neste ano estão se fechando rapidamente. Há quatro semanas, as expectativas sinalizadas por corretoras, consultorias e instituições financeiras no boletim Focus, do Banco Central, era de que 2023 encerraria com a Selic a 12,25% ao ano. Atualmente, a projeção está em 12,50%, diante de uma taxa que foi mantida em 13,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), encerrada na quarta-feira (1°).
Um dos fatores que vem contribuindo para esse cenário é a deterioração das expectativas para a inflação, que passaram de 5,31%, no início de janeiro, para 5,74%, nesta semana, de acordo com o Focus. Este cenário vem sendo influenciado pela demora nas definições em relação ao arcabouço fiscal, a regra de controle de gastos do governo.
E também deve reforçar o clima de desaquecimento da atividade econômica. A mediana das projeções para o crescimento da economia brasileira em 2023 está em 0,8%, também segundo o Focus. É quase um quarto do que foi registrado no ano passado. Segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil registou um incremento de 3,1% do PIB.
Atividade econômica tende a ser mais tímida em 2023
“Juros mais elevados tendem a retrair a atividade econômica”, diz o economista e sócio fundador da consultoria Sarfin, Bruno Mori. Mas não é só isso que vai reduzir o crescimento brasileiro.
Um estudo divulgado pelo Santander, dias antes da decisão do Copom, mostra que o esgotamento de importantes vetores de crescimento em 2022, como a normalização da mobilidade e o impulso de preços das commodities trazem desafios para a dinâmica da atividade econômica em 2023.
Por outro lado, a reabertura da economia chinesa, após o fim das restrições severas no combate à Covid-19, pode dar um alento, explica Mori. “Abre espaço para maior oferta de produtos e insumos.”
Outro benefício é que pode ajudar a aquecer a atividade econômica do Brasil, uma vez que a China é o principal destino dos produtos brasileiros no exterior, comprando principalmente soja, minério de ferro, carne e petróleo.
Há também outras variáveis em jogo, afirma o economista da Sarfin: uma delas é a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, que leva a um cenário mais nebuloso em relação às commodities energéticas e fertilizantes.
“O BC vem sinalizando estratégia de manutenção dos juros em patamar elevado. Nos próximos meses, autoridade vai observar as condições macro (correntes e prospectivas) para verificar se, de fato, o plano de voo será ainda compatível com a convergência da inflação no horizonte relevante (18 meses à frente)”, cita o Santander.
A instituição financeira aponta que trazer a inflação para 3% no médio prazo não será uma tarefa fácil devido a uma série de fatores:
- O elevado grau de persistência inflacionário gerado por uma composição onde os serviços respondem por boa parte das pressões;
- A baixa ociosidade econômica de forma geral;
- A adoção de impulsos fiscais, que ainda se propagam na economia; e
- Um contexto de juro internacional mais elevado.
Segundo a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitória, o BC deve seguir com cautela no atual cenário, aguardando a evolução da inflação corrente. Nova alta está prevista para fevereiro, por causa do reajuste da gasolina e da educação. E, em março, deve haver reflexos por causa do fim da desoneração do PIS/Cofins sobre os combustíveis.
Previsão de queda empurrada para a frente
Corretoras, consultorias e instituições financeiras vem empurrando para frente a previsão de data em que o Copom deve mudar a estratégia em relação aos juros e começar a baixá-lo.
“Não vemos mais a possibilidade de os juros começarem a cair no segundo trimestre. Acreditamos que uma redução poderá ocorrer somente no segundo semestre, mas tudo vai depender do balanço de riscos, que inclui a questão fiscal, fatores políticos e o cenário internacional”, afirmou o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti.
A XP Investimentos é mais pessimista. Desde dezembro que a corretora não vê espaço para a redução na taxa Selic em 2023. Tatiana Nogueira, economista da corretora, diz que o último comunicado do Copom, reforça o cenário-base divulgado em dezembro e mantido em janeiro.
Já o banco holandês Rabobank vê possibilidade de uma redução no último trimestre do ano, desde que o atual governo mantenha a credibilidade fiscal e as expectativas para a inflação não se deteriorem significativamente. “É esperado que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anuncie um novo arcabouço fiscal que substitua a regra do teto de gastos no controle das finanças públicas”, citam economistas da instituição.
Postura mais cautelosa
O último comunicado do Copom reiterou uma postura mais cautelosa diante da inflação mais elevada e dos ruídos fiscais. “Eles elevam os custos à convergência às metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional”, diz o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.
Segundo o Itaú, o comitê também destacou que segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juro por período mais prolongado será capaz de assegurar o cumprimento das metas de inflação.
“Novamente, o texto enfatiza que o comitê irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, enfatiza o Itaú. Isto significa que, os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados, inclusive com alta na Selic, caso o processo de redução na inflação não ocorra como o esperado.
“A manutenção dos juros básicos mais altos por um período maior visa garantir a estabilidade dos preços, mas também mostra que o BC optou por cumprir não apenas seu papel no curto prazo, mas também a longo prazo”, diz o economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso.
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