A alta dos juros começa a afetar o ritmo de concessões de crédito e impulsionar as compras à vista. Com o novo ciclo de elevação da taxa básica de juros (Selic), iniciado em abril, os juros cobrados pelo sistema financeiro para o consumidor atingiram 25,5% ao ano, o maior patamar dos últimos 12 meses, segundo o Banco Central.
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Com o crédito mais caro, a inflação mais alta e os bancos ainda seletivos na aprovação dos cadastros, o ritmo de concessões está menor. Em setembro, caiu 3% na comparação com o mês anterior, para R$ 147,5 bilhões, de acordo com dados do Banco Central. No trimestre, o crescimento foi de 1,7%.
Com os juros mais altos, o comércio vem registrando um aumento dos pagamentos à vista. Segundo Claudio Shimoyama, consultor da Associação Comercial do Paraná (ACP), eles já representam 40% das vendas na região de Curitiba. No mesmo período do ano passado, era de 35%. "Há uma concentração maior de pessoas que pagam à vista com desconto. Os juros mais altos desestimulam a venda a prazo", diz.
Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que será divulgada nessa semana deve revelar a sexta alta consecutiva dos juros nas operações de crédito no país, adianta o vice-presidente da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira. "Os juros vêm subindo na maioria das categorias de financiamentos", diz.
Queda
Entre os setores que mais sofreram com a redução dos empréstimos foi o de veículos, com queda de 8,1% em setembro em relação ao mês anterior. No ano, os volumes estão 4,4% menores.
O desempenho mais fraco já fez a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) revisar as projeções de crescimento para o ano de 6% para 2%. Segundo a Anef, os bancos passaram a exigir entradas maiores - de 40% a 50% - nos financiamentos com taxas zero, o que reduz a parcela a ser financiada dos veículos.
Outras categorias de crédito também sofreram em setembro em relação ao mês anterior, como aquisição de bens, com queda de 4,5%, cheque especial, com recuo de 0,8%, crédito pessoal, com menos 6% e consignado, com 16% de retração.
Apesar do crédito mais caro, no acumulado do ano o crédito ainda deve fechar com crescimento próximo de 15%, segundo projeção da Anefac - mais de cinco vezes o que cresce a economia brasileira. Em setembro, o saldo de financiamentos para pessoas físicas estava em R$ 1,2 trilhão. A parcela do crédito de pessoas físicas sobre o Produto Interno Bruto (PIB) está em 25,7%.