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Juros ao consumidor caem ao menor nível desde 1995

Para Thais, juros continuam altos demais e o cartão de crédito foi deixado de lado | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Para Thais, juros continuam altos demais e o cartão de crédito foi deixado de lado (Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo)

A taxa média de juros cobrados à pessoa física em operações de crédito caiu para 6,69% ao mês em setembro e atingiu o menor índice mensal da série histórica, iniciada em 1995. A média, no entanto, não é inédita – é a mesma registrada em outubro de 2010 (veja quadro), segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Fi­­nanças, Administração e Con­­tabilidade (Anefac).Pela primeira vez nos últimos 12 meses, houve dois recuos seguidos na taxa média de juros. Para o vice-presidente da Anefac e coordenador do estudo, Miguel José de Oliveira, os principais fatores que motivaram a queda são a perspectiva de novas quedas da taxa básica de juros (a Selic) e a competitividade entre as empresas do setor, em busca de novos clientes.

"A queda da Selic registrada em agosto [de 12,5% para 12% ao ano] pode não ter trazido um resultado direto já neste mês. No entanto, a diminuição deu sinais ao mercado de que os juros em geral têm espaço para ficar mais baixos, além de ter gerado a expectativa de novas quedas na própria Selic nas próximas reuniões do Copom [o Comitê de Política Monetária do Banco Central]", afirma Oliveira.

Na composição da média divulgada pelo levantamento, cinco das seis linhas de crédito apresentaram queda entre agosto e setembro; apenas o cartão de crédito manteve seus juros mensais estáveis em 10,96% – o maior entre os índices pesquisados. Os itens que apresentaram as maiores variações em pontos porcentuais foram os empréstimos pessoais por financeiras (que caíram 0,17 ponto) e por bancos (decréscimo de 0,11 ponto).

Segundo Oliveira, os fatores que poderiam motivar estas quedas estariam ligados a uma certa estabilidade na inadimplência e à competitividade no setor. "No caso dos empréstimos pessoais, a competição está grande e isso inclui algumas ofertas, o que acaba por derrubar os juros cobrados", diz o vice-presidente da Anefac.

Percepção

Mesmo com a média recorde e a possibilidade de novas quedas, esse novo cenário ainda deve demorar a ser sentido pelos consumidores. Para o professor do Ibmec Reginaldo Nogueira, as quedas ainda são praticamente imperceptíveis aos brasileiros. "As taxas praticadas continuam altíssimas. Mesmo que tenham caído um pouco, elas se mantêm assustadoramente altas", afirma, citando como exemplo o valor acumulado desses juros em um ano: média de 117,51%.

É o que observou Thais Gon­­çal­ves, que está desempregada e deixou de usar o cartão de crédito para evitar gastos maiores. Sem perceber nenhuma melhora no quadro, continua deixando de lado esse meio de pagamento. "Eu costumava fazer as compras do supermercado todos os meses, mas, como os juros são muito altos, agora é só à vista", conta.

Para que haja uma diferença efetiva e que possa representar melhores condições aos consumidores, Nogueira indica a necessidade de uma continuação nas quedas das taxas de juros, o que poderá ocorrer se forem confirmadas as novas quedas da Selic, esperadas por boa parte do mercado. A Anefac acredita que, com mais duas quedas de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros – que são aguardadas pela instituição –, a média dos índices poderá fechar o ano entre 6% e 6,3% ao mês.

Ganho de bancos com crédito segue em alta

A diminuição da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 12,5% para 12% em agosto, acabou levando o patamar do spread bancário (a diferença entre os juros pagos pelos bancos e os que eles cobram do cliente) ao seu maior nível desde maio de 2009. O índice chegou a 27,8 pontos porcentuais ao ano, de acordo com dados do Banco Central apresentados pela Agência Brasil. O movimento é exatamente o contrário do que se esperava, uma vez que uma Selic menor motivaria cortes nos juros cobrados no país. A taxa média de captação dos bancos baixou de 12,3% para 11,9%, enquanto os juros mé­­dios cobrados permaneceram no mesmo índice, de 39,7% ao ano.

Para o professor do Ibmec Reginaldo Nogueira, a situação resume um quadro antigo do Brasil: taxa de juro alta e spread gigantesco. "E nem mesmo quando os juros baixam um pouco isso resulta numa diminuição do spread", analisa. De acordo com o professor, o quadro seria reflexo da inadimplência no país, que continua alta e oferece, assim, um argumento para os bancos manterem altas taxas de juros para créditos e financiamentos.

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