Efeito indesejado
Calote por "descontrole" sobe em SP
Folhapress
A outra face do crédito fácil, o descontrole dos gastos, vem crescendo nos últimos meses. Cerca de 18% dos consumidores inadimplentes responderam que esse foi o motivo para ficarem devedores, segundo pesquisa feita em setembro deste ano sete pontos porcentuais a mais que no mesmo mês do ano passado (11%). Os dados foram apresentados ontem pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e Boa Vista Serviços.
"A facilidade de crédito resultou em maior endividamento do consumidor", diz a ACSP em nota. O presidente da associação, Rogério Amato, observa, contudo, que nos últimos meses os bancos e o varejo se tornaram mais seletivos na concessão de crédito, "o que deve se refletir nas próximas pesquisas", acrescenta.
Outras causas da inadimplência são desemprego (que foi de 48% para 51% no período), ter sido fiador, avalista ou emprestado o nome (de 9% para 10%), queda de renda (estável em 6%), doença em família (de 6% para 4%) e alguém da família ter ficado desempregado (de 2% para 4%).
O levantamento mostra ainda que 67% dos inadimplentes têm até 35 anos em setembro de 2010, eram 59%. A faixa que concentra o maior índice é a de 26 a 30 anos (24% do total). Já os que têm mais de 60 anos representam apenas 1%. A pesquisa, que diz respeito ao comércio da cidade de São Paulo, foi realizada em setembro com 804 consumidores que procuram o balcão de atendimento do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
A taxa média de juros cobrados à pessoa física em operações de crédito caiu para 6,69% ao mês em setembro e atingiu o menor índice mensal da série histórica, iniciada em 1995. A média, no entanto, não é inédita é a mesma registrada em outubro de 2010 (veja quadro), segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).Pela primeira vez nos últimos 12 meses, houve dois recuos seguidos na taxa média de juros. Para o vice-presidente da Anefac e coordenador do estudo, Miguel José de Oliveira, os principais fatores que motivaram a queda são a perspectiva de novas quedas da taxa básica de juros (a Selic) e a competitividade entre as empresas do setor, em busca de novos clientes.
"A queda da Selic registrada em agosto [de 12,5% para 12% ao ano] pode não ter trazido um resultado direto já neste mês. No entanto, a diminuição deu sinais ao mercado de que os juros em geral têm espaço para ficar mais baixos, além de ter gerado a expectativa de novas quedas na própria Selic nas próximas reuniões do Copom [o Comitê de Política Monetária do Banco Central]", afirma Oliveira.
Na composição da média divulgada pelo levantamento, cinco das seis linhas de crédito apresentaram queda entre agosto e setembro; apenas o cartão de crédito manteve seus juros mensais estáveis em 10,96% o maior entre os índices pesquisados. Os itens que apresentaram as maiores variações em pontos porcentuais foram os empréstimos pessoais por financeiras (que caíram 0,17 ponto) e por bancos (decréscimo de 0,11 ponto).
Segundo Oliveira, os fatores que poderiam motivar estas quedas estariam ligados a uma certa estabilidade na inadimplência e à competitividade no setor. "No caso dos empréstimos pessoais, a competição está grande e isso inclui algumas ofertas, o que acaba por derrubar os juros cobrados", diz o vice-presidente da Anefac.
Percepção
Mesmo com a média recorde e a possibilidade de novas quedas, esse novo cenário ainda deve demorar a ser sentido pelos consumidores. Para o professor do Ibmec Reginaldo Nogueira, as quedas ainda são praticamente imperceptíveis aos brasileiros. "As taxas praticadas continuam altíssimas. Mesmo que tenham caído um pouco, elas se mantêm assustadoramente altas", afirma, citando como exemplo o valor acumulado desses juros em um ano: média de 117,51%.
É o que observou Thais Gonçalves, que está desempregada e deixou de usar o cartão de crédito para evitar gastos maiores. Sem perceber nenhuma melhora no quadro, continua deixando de lado esse meio de pagamento. "Eu costumava fazer as compras do supermercado todos os meses, mas, como os juros são muito altos, agora é só à vista", conta.
Para que haja uma diferença efetiva e que possa representar melhores condições aos consumidores, Nogueira indica a necessidade de uma continuação nas quedas das taxas de juros, o que poderá ocorrer se forem confirmadas as novas quedas da Selic, esperadas por boa parte do mercado. A Anefac acredita que, com mais duas quedas de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros que são aguardadas pela instituição , a média dos índices poderá fechar o ano entre 6% e 6,3% ao mês.
Ganho de bancos com crédito segue em alta
A diminuição da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 12,5% para 12% em agosto, acabou levando o patamar do spread bancário (a diferença entre os juros pagos pelos bancos e os que eles cobram do cliente) ao seu maior nível desde maio de 2009. O índice chegou a 27,8 pontos porcentuais ao ano, de acordo com dados do Banco Central apresentados pela Agência Brasil. O movimento é exatamente o contrário do que se esperava, uma vez que uma Selic menor motivaria cortes nos juros cobrados no país. A taxa média de captação dos bancos baixou de 12,3% para 11,9%, enquanto os juros médios cobrados permaneceram no mesmo índice, de 39,7% ao ano.
Para o professor do Ibmec Reginaldo Nogueira, a situação resume um quadro antigo do Brasil: taxa de juro alta e spread gigantesco. "E nem mesmo quando os juros baixam um pouco isso resulta numa diminuição do spread", analisa. De acordo com o professor, o quadro seria reflexo da inadimplência no país, que continua alta e oferece, assim, um argumento para os bancos manterem altas taxas de juros para créditos e financiamentos.
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