O Comitê de Política Monetária (Copom) decide nesta quarta-feira (21) o que fará com a taxa básica de juros, principal referência para o "preço do dinheiro" nos empréstimos feitos no Brasil. Atualmente, ela está em 13,75% ao ano. A maioria das expectativas sinaliza pela manutenção da Selic nesse patamar, já que o cenário para a inflação vem melhorando nas últimas semanas. O dia também é de definição nos Estados Unidos, mas lá a maior possibilidade é de aumento dos juros.
No Brasil, as projeções para a alta nos preços em 2022 caem há 12 semanas, e as de 2023, há cinco. Segundo o mais recente relatório Focus, do Banco Central, o ponto médio (mediana) das expectativas das instituições financeiras sinaliza para um IPCA de 6% neste ano e de 5,01% para o próximo. Em ambos os casos, taxas superiores ao teto da meta de inflação em cada exercício, que é, respectivamente, de 5% e 4,75%.
A redução nas projeções é reflexo da redução de tributos sobre combustíveis e energia; cortes de preços de combustíveis nas refinarias; e alguma desaceleração no custo da alimentação em domicílio.
O Itaú avalia que o cenário melhorou e que, portanto, o Copom deve manter a taxa de juro brasileira no patamar de 13,75% ao ano, encerrando o ciclo de alta na Selic. Porém, o banco considera que o ritmo de redução da inflação será lento, o que significa que será necessário conviver com juros elevados por algum tempo, com cortes na taxa básica ocorrendo apenas no segundo semestre de 2023.
“A intensidade e data de início de um eventual ciclo de cortes estarão particularmente condicionadas a sinalizações sobre o rumo das contas públicas, em especial no que diz respeito a potenciais mudanças no atual arcabouço do teto de gastos que alterem a capacidade de convergir para superávits primários recorrentes e estabilização da relação dívida/PIB”, diz o banco em relatório.
Quem também projeta a manutenção da taxa nos atuais níveis é a XP Investimentos. A corretora considera que o comitê deixará as portas abertas caso precise aumentar mais os juros, diante das elevadas incertezas locais e externas.
“A força da demanda doméstica e do mercado de trabalho podem manter a inflação elevada por mais tempo, o que pode exigir mais aperto monetário adiante. Também seria o caso se o próximo governo não oferecer uma âncora fiscal confiável para substituir o teto constitucional de gastos, ou se o Fed [banco central dos EUA] subir as taxas de juro muito acima do discutido pelo mercado”, apontam os economistas Caio Megale e Tatiana Nogueira em relatório.
O Santander também acredita em uma taxa a 13,75%. O banco considera que o efeito defasado da alta do juro, que começou em março de 2021, e “forças desinflacionarias globais prevalecerão na dinâmica da inflação no médio prazo”.
A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, projeta estabilidade da Selic. Mas considera que, apesar da inflação em queda, o comunicado ainda deve ser mais duro, indicando que a taxa deverá permanecer nesse patamar por um longo tempo, em razão da incerteza sobre potenciais novos gastos públicos que possam afetar a demanda no próximo ano.
Nova alta na taxa Selic não é descartada
A continuidade do ciclo de alta na Selic não é descartada. Uma pequena parte do mercado sinaliza para uma taxa de 14% ao ano. “Vai ser uma decisão muito aberta. Há justificativas para os dois lados”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
De um lado, ele destaca que a inflação está mais controlada; por outro, aponta que os riscos fiscais e a incerteza em relação ao próximo governo tornariam justificável uma nova alta. Nas últimas semanas, tanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, quanto o diretor do política monetária, Bruno Serra, subiram o tom em relação ao combate à inflação.
Quem espera uma nova elevação da Selic é a Suno Research. A taxa iria para 14% ao ano, com fim do ciclo de alta nos juros. “O Copom deve sinalizar que pode mudar de postura no futuro, caso o cenário se deteriore”, destaca, em nota, o economista-chefe, Gustavo Sung. Ele aponta que nesta reunião, o comitê deverá ponderar as incertezas domésticas e globais antes de tomar qualquer decisão.
Sung lembra que, em agosto, sete dos nove grupos pesquisados tiveram alta nos preços em comparação ao mês anterior. “Se retirarmos do IPCA os combustíveis e energia, o índice apresentaria uma variação positiva”, diz.
O que também pode pesar na decisão do Copom é que as expectativas para a inflação em 2024 estão subindo. “Se a autoridade monetária (BC) não quiser perder de vista a convergência da inflação de médio prazo, dar um ajuste residual agora pode ancorar melhor as expectativas”, diz Sung.
Outros fatores que poderiam resultar em uma alta na taxa de juro na reunião desta quarta, segundo a diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, são a atividade econômica mais acelerada no Brasil e o contexto global. "A inflação no resto do mundo vem vindo mais forte, o que está levando os bancos centrais a serem mais agressivos na política monetária", diz.
Depois de um crescimento do PIB de 1,2% entre o primeiro e o segundo trimestre, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a "prévia do PIB", fechou julho com uma alta de 1,17% com relação ao mês anterior.
Mudanças nos juros nos Estados Unidos e outros países
Quem também vai se reunir para definir a taxa básica de juros nesta quarta é o Federal Reserve (Fed), o BC americano. Por lá, há uma possibilidade de um aperto monetário mais agressivo, que poderia resultar na elevação do juro em um ponto percentual, indo para a faixa de 3,25% a 3,5% ao ano.
Os últimos dados de inflação vieram acima do esperado. Segundo dados do US Bureau of Labor Statistics, ela aumentou 0,1% em agosto, e a expectativa do mercado era de uma deflação de 0,1%. Uma das principais preocupações é com o preço da comida, que nos últimos 12 meses aumentou 11,4% – a maior alta desde maio de 1979.
Vale, da MB Associados, prevê que os juros americanos devem aumentar em 0,75% nesta reunião. Segundo ele, a maior economia global está mais atrasada do que o Brasil no combate à inflação. “Os riscos por lá são mais complexos.”
Segundo Hugo Perea, analista do banco espanhol BBVA, esse novo ciclo de alta da taxa do Fed continuará tensionando os mercados financeiros da América Latina. Mas ele aponta em relatório que os melhores fundamentos existentes na atualidade – bancos centrais independentes, sistemas financeiros mais bem capitalizados e supervisionados, taxas de câmbio flexíveis e finanças públicas mais sólidas – ajudarão a minimizar os “impactos do temporal”.
Além do BC e do Fed, alguns dos principais bancos centrais estão se reunindo para definir os juros. Apesar de a China, a segunda maior economia global, manter a taxa em 3,65%, a tendência é de aumentos na maioria dos países.
O pontapé inicial foi dado pela Suécia, que aumentou em um ponto percentual a sua taxa básica de juros. O mercado também aguarda decisões de outros países como a Suíça, Noruega, Reino Unido e Japão, entre outros.
Expectativas para a taxa Selic ao fim de 2022
Anefac | 13,75% |
Bradesco | 13,75% |
Inter | 13,75% |
Itaú | 13,75% |
MB Associados | 14% |
MUFG | 13,75% |
Paraná Banco | 13,75% |
Santander | 13,75% |
Sicredi | 13,75% |
Suno Research | 14% |
Tendências | 14% |
XP Investimentos | 13,75% |
Congresso prepara reação à decisão de Dino que suspendeu pagamento de emendas parlamentares
O presente do Conanda aos abortistas
Governo publica indulto natalino sem perdão aos presos do 8/1 e por abuso de autoridade
Após operação da PF, União Brasil deixa para 2025 decisão sobre liderança do partido na Câmara
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast