Com o custo do dinheiro crescente por causa dos seguidos aumentos de juros básicos feitos pelo BC para conter a inflação, os bancos reajustam as taxas cobradas dos clientes| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Quem está com as finanças apertadas e precisa recorrer ao cheque especial para pagar as contas tem de arcar com os maiores juros dos últimos 20 anos. De acordo com o Banco Central, a taxa dessa modalidade de crédito chegou a nada menos que 241,3% ao ano. É a mais alta desde 1995.

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Com o custo do dinheiro crescente por causa dos seguidos aumentos de juros básicos feitos pelo BC para conter a inflação, os bancos reajustam as taxas cobradas dos clientes. No entanto, aqui há ainda um outro componente: cobrar caro e lucrar pelo risco que assume com saque a descoberto.

Somente no mês passado, houve um salto de nada menos que 9,3 pontos porcentuais na taxa média cobrada pelas instituições sobre dívidas no cheque especial. Nos últimos 12 meses, o aumento foi de 69,6 pontos porcentuais.

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Cartão

Apesar de serem juros proibitivos – segundo classificação do próprio BC – as taxas do cheque especial não são as maiores do país. Se ficar no rotativo do cartão de crédito, o brasileiro paga ainda mais caro. Segundo a autoridade monetária, as operadoras cobram, em média, 372% ao ano para quem usa apenas o mínimo do cartão: uma alta de 11,5 pontos porcentuais no mês passado e de 63,7 ponto porcentual nos últimos 12 meses. É o maior patamar já registrado pelo Banco Central, desde quando começou a registrar os dados em 2011.

Na média, a taxa de juros cobradas pelos bancos às pessoas físicas – com créditos livres, aqueles que as instituições podem escolher como emprestar – subiu de 57,3% ao ano para 58,6% ao ano. É o maior patamar já registrado desde quando o BC passou a registrar os dados em 2011. E com o aumento da taxa básica, a tendência é que os juros continuem a aumentar.

BNDES

Esse é um dos desdobramentos da desaceleração da economia, promovida pelo BC para conter a inflação. A recessão econômica é evidenciada também em outros dados, divulgados nesta quinta-feira (30) pela autoridade monetária. Um dos exemplos é a desaceleração do crédito do BNDES. O saldo de crédito com recursos direcionados para empresas ficou estagnado no mês passado e R$ 832,7 bilhões.

“Há uma desaceleração do crédito bem nítida do crédito do BNDES. As taxas do setor mudaram e houve variação das condições em diversos programas. Nesse primeiro semestre, isso (a desaceleração) ficou bastante caracterizado”, frisou o chefe do departamento de estudo econômico do BC, Túlio Maciel.

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Uma das surpresas do relatório divulgado pelo Banco Central é o desempenho da inadimplência. No geral (dados de créditos direcionados e livres), o nível de calote de empresas e famílias chegou a recuar de 3% para 2,9%. A queda foi causada pela organização das contas das pessoas físicas.

Somente em contratos das famílias com bancos com recursos direcionados, a inadimplência caiu de 2% para 1,7%. Empréstimos com esse tipo de crédito são, na maioria, financiamento da casa própria.

“A despeito da maior taxa de juros mostra-se bem comportada. Houve uma mudança de comportamento. As iniciativas de educação financeira aumentaram e a consciência do tomador de crédito aumentaram”, argumentou Maciel.

Imóveis

O técnico do BC disse ainda que o financiamento imobiliário pode ter começado a refletir as medidas adotadas em maio para suprir a falta de dinheiro para a compra da casa própria. As concessões de novos empréstimos aumentaram 4,2% no mês passado, após meses de queda.

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Para o BC, a compra da casa própria é um importante componente do endividamento das famílias. Isso porque mostra que as pessoas trocam o pagamento do aluguel pela prestação de um imóvel e começam a formar um patrimônio.

Segundo os dados — com uma defasagem maior — da autoridade monetária, o endividamento das famílias cresceu de 46,4% para 46,3%. Esse é o percentual de todos os financiamentos de pessoas físicas com o sistema financeiro e também o valor da dívida no rotativo do cartão de crédito e divide sobre a renda da família em um ano.

Quando não é levado em consideração o financiamento habitacional, o endividamento caiu de 27,6% para 27,5%, o que mostra que o aumento é causado, sim, pela compra da casa própria.