Análise
O melhor é ser conservador e esperar a próxima crise, diz Mauro Halfeld
O professor Mauro Halfeld, especialista em finanças e professor da UFPR, diz que as ações e fundos imobiliários tendem a se desvalorizar com o aumento da Selic. Os preços dos imóveis também podem sofrer, caso a fase de alta persista por muito tempo. "Estamos em uma temporada de poucas alternativas rentáveis para os aplicadores", observa. "Melhor ser conservador agora e aguardar uma nova crise nos mercados para voltar a comprar produtos mais arriscados. Agora é hora de preservar o capital e aguardar por oportunidades que aparecem durante crises."
O aumento da taxa básica de juros (Selic), que alcançou 8% ao ano na semana passada, ajuda a melhorar o rendimento de alguns investimentos de renda fixa. Com o acréscimo de 0,5 ponto porcentual, ficam mais atrativas, por exemplo, a caderneta de poupança e as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), que têm o rendimento atrelado à taxa. Também devem acompanhar a alta os rendimentos dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e os fundos DI, atrelados à taxa DI, que costuma seguir a tendência da Selic.
Em alguns casos o efeito pode demorar alguns meses para ser completamente percebido, afirma Pedro Piccoli, professor de Finanças na UFPR. "Títulos do Tesouro Direto são ajustados mais rapidamente, então o investidor pode usufruir já de títulos com rendimento maior", completa. Mas é preciso ficar atento para ter certeza de que o investimento vale mesmo a pena. "Considerando o desconto do Imposto de Renda e da taxa de administração, o rendimento tem de ser maior que a inflação. Em qualquer fundo cobrando mais de 2% de taxa de administração, o investidor perde dinheiro. O ganho real fica negativo", adverte o professor.
Para os especialistas, quem se beneficia do aumento da Selic são os investidores que haviam montado uma carteira com papéis pós-fixados. "Isso vai depender da expectativa do mercado, mas se o investidor ainda apostar em futuros aumentos dos juros, o melhor é o pós-fixado. Depende da expectativa de inflação e como o Banco Central vai reagir", explica o professor Marcelo Curado, também da UFPR.
As opções pós-fixadas mais acessíveis no varejo são os Certificados de Depósito Bancário (CDB) e a poupança. O CDB não tem taxa de administração como os fundos, mas só é interessante se for negociado a uma taxa acima de 95% do CDI, diz Curado.
Expectativa
A expectativa do mercado é uma taxa básica de juros mais estável no segundo semestre, a depender do comportamento da inflação para os próximos meses. A longo prazo a alta pode ter efeito no mercado de câmbio, afirma Curado. "A tendência internacional de juros caindo e entrada de capital de curto prazo colocam os juros contribuindo para a valorização do real. Mas isso pode ser influenciado pelos resultados balança comercial", observa.
Tendência
Bancos vão brigar por serviços
Reuters
Os grandes bancos brasileiros vão buscar mais receitas com prestação de serviços para proteger suas margens, apesar da alta na taxa básica de juros promovida pelo Banco Central. As estratégias apontam para a diversificação como forma de melhorar margens deprimidas nos últimos trimestres por crescimento econômico lento, inadimplência elevada e pressão do governo para redução do spread, diferença entre o custo do dinheiro para um banco e o que ele cobra pelos empréstimos.
A avaliação é que as instituições financeiras estão motivadas a fazer esforços rumo à diversificação, já que não esperam uma retomada da Selic ao nível de dois dígitos já visto no país. Produtos financeiros, como seguros e cartões, além de assessoria em mercado de capitais, são as frentes escolhidas pelas instituições financeiras para conquistar mais receitas.
Movimentos recentes, como a compra da Credicard pelo Itaú Unibanco, a abertura de capital da BB Seguridade e o interesse da Caixa e do Banco do Brasil em desenvolverem a área de banco de investimentos demonstram o apetite das instituições financeiras por estes mercados. "Com menores taxas, é preciso encontrar outras formas de ganhar mais receita e gastar menos", afirmou o diretor de controladoria do Itaú Unibanco, Rogério Calderón.
A alta de 0,5 ponto porcentual da Selic não deve afetar os planos. "Trata-se de uma estratégia que não muda por movimentos de curto prazo no mercado", acrescentou.
Na mesma direção, o analista do BES Securities Gustavo Schroden acredita que a alta da Selic para 8% terá algum impacto positivo sobre a precificação das carteiras de crédito dos bancos, mas é insuficiente para mudar o apetite das instituições pelo segmento de serviços.
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