A possibilidade de que a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, caia para cerca de 10% ao ano até dezembro deve tirar a atratividade de parte dos fundos de renda fixa. E o retorno da caderneta de poupança, a mais popular modalidade de investimento do país, deve então ser superior ao desses fundos. Isso, na verdade, já vem ocorrendo mesmo com o juro brasileiro entre os maiores do mundo, uma vez que a taxa cobrada pelos bancos para administrar os fundos de renda fixa reduz sensivelmente os ganhos do investidor. Se a Selic cair para baixo dos atuais 12,75% ao ano, obter um bom rendimento na renda fixa ficará ainda mais difícil.
Nas contas da corretora Geração Futuro, com os juros no atual patamar, a renda fixa já é menos interessante que a poupança quando a administração do fundo é superior a 3% o que leva o retorno da renda fixa para 7,3%, abaixo, portanto, dos 7,4% pagos pela poupança nos últimos 12 meses. E tende a ficar ainda mais abaixo conforme caia também a Selic (veja exemplos no gráfico).
"Se o juro estiver a 12,5% e o banco cobra 4% de administração, significa que você está pagando em taxa um terço da sua rentabilidade. Se a taxa de juros for menor, estiver a 10%, e o banco continuar cobrando 4%, você está pagando 40% para este seu sócio administrar seu dinheiro", diz Gustavo Deodato, diretor comercial da Petra Corretora, de Curitiba.
Há quem acredite que a taxa vá para menos de 10% até o fim de 2009 na média, o mercado ainda prevê 10,5% em dezembro. Reduzir os juros é hoje um dos principais instrumentos do Banco Central para reduzir os efeitos da crise sobre o Brasil. A Selic serve de parâmetro para os empréstimos no mercado. Quanto menor a taxa, menos se cobra dos tomadores de empréstimo. Crédito mais barato, por sua vez, tem efeito positivo sobre o consumo e por consequência sobre a produção das indústrias e o emprego.
"Acho que no Brasil as pessoas estão acostumadas a ter um rendimento muito grande na renda fixa, de até 17% ao ano. Mas isso não se sustenta. A renda fixa vai ter, nos próximos anos, um rendimento até 50% menor do que o que está ocorrendo hoje", opina Gustav Gorski, economista-chefe da corretora Geração Futuro.
Gustavo Deodato, da Petra, lembra que, além de a taxa de administração ser muito alta em alguns casos principalmente para o pequeno investidor , o investimento em renda fixa também é prejudicado pelo chamado "come-cotas": uma cobrança adiantada de Imposto de Renda pelo governo, mesmo que o investidor não faça saque ou movimentação com o dinheiro aplicado. Se o governo cobra 15% de IR sobre R$ 100, por exemplo, o rendimento do investidor vai ocorrer sobre R$ 85, e não mais sobre os R$ 100.
Se não é possível evitar a cobrança de IR, pelo menos a taxa de administração deve ser negociada. "O poupador tem de chegar com essa continha para o gerente e avisar: ou eu ganho uma taxa de administração menor, ou eu coloco o dinheiro na poupança. E não precisa necessariamente colocar na poupança, existem vários outros tipos de aplicação", sugere Gorski, da Geração Futuro.
Ele e Deodato, da Petra, avaliam que o investimento em Tesouro Direto pode ser uma opção interessante. O risco da aplicação é praticamente o mesmo dos CDBs, mas a taxa de administração é muito menor está na casa de 0,5%, mais 0,4% de custódia. "Você está fazendo o mesmo investimento, com o mesmo risco soberano, e com a vantagem de poder fazer aportes pequenos, a partir de R$ 200, sem ter o impacto da taxa de administração cara", diz Gustavo Deodato.