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Comércio

Juros, endividamento e desemprego travam crescimento das vendas

Os consumidores brasileiros parecem estar mais confiantes do que os comerciantes, que vêm revendo suas expectativas para baixo. | Pixabay
Os consumidores brasileiros parecem estar mais confiantes do que os comerciantes, que vêm revendo suas expectativas para baixo. (Foto: Pixabay)

Os comerciantes estão mais confiantes, mas os resultados deste bom humor não estão aparecendo. Tanto é, que a principal entidade que representa o comércio no Brasil está revendo suas perspectivas para baixo. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) projeta que o setor deverá crescer 5,4% em 2019. Antes, a expectativa era de uma expansão de 5,6%.

O ritmo do crescimento das vendas vem perdendo força desde março do ano passado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de expansão nos últimos 12 meses caiu de 3,8%, em março, para 2,2%, em janeiro. E, segundo Fábio Bentes, chefe da divisão de economia da CNC, 2018 foi um ano decepcionante. “Esperava-se mais”, disse. 

Uma série de fatores explica esta retração nas expectativas: a manutenção do desemprego em níveis elevados, os principais indicadores de atividade econômica estão patinando, a concessão de crédito não está avançando com vigor e as incertezas na área política. 

“Muito desse bom humor era o efeito da lua de mel com o novo governo, que motivou um excesso de otimismo”, diz Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado, segundo ele, é que, agora, os empresários vêm calibrando suas expectativas. 

 Espaço para queda nos juros

O otimismo tem raízes na postura mais liberal da equipe econômica do ministro Paulo Guedes. “A percepção é de que o governo não vai cometer erros que levem a uma nova crise econômica”, diz Bentes. “Não se espera uma administração excessiva em preços como a energia e combustíveis”, como aconteceu no governo Dilma. E também há expectativa de que as taxas de juro baixem mais. 

Desde agosto de 2016, quando começou o ciclo de queda na taxa básica de juro, a Selic passou de 14,25% para 6,50% ao ano, um recuo de quase 55%. No mesmo período, segundo o Banco Central, a taxa cobrada nos financiamentos para as pessoas físicas comprarem bens passou de 92,96% ao ano para 77,92%. A redução foi de 16,2%. 

Além do espaço para queda nos juros, outro fator que pode ajudar a melhorar a retomada da confiança por parte do consumidor é a reação no emprego. Mas o ano não começou bem. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que a criação de vagas em janeiro foi 55% inferior à registrada em igual mês do ano passado. 

Outro fator que segura a ida dos consumidores às compras é o elevado endividamento. Uma pesquisa da CNC mostra que, em fevereiro, o nível era o maior desde dezembro de 2017. 61,7% das famílias tinham algum tipo de dívida e 23,1% das famílias estavam com contas em atraso. O tempo médio de atraso é de 64,9 dias. 

“A capacidade de endividamento das famílias ainda está limitada, o que contribui para uma demanda de crédito mais retraída, destaca Bentes, da CNC. Ela aumentou 0,6% entre janeiro de 2018 e 2019, puxada basicamente pela população de baixa renda, segundo a Serasa Experian. Os consumidores que ganham mais de R$ 2.000 demandaram menos crédito no comparativo entre esses meses. 

Perda de vigor generalizada 

A coordenadora da Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Isabella Nunes, aponta que outros fatores também vem influenciando na perda de vigor do comércio: eleições e greve dos caminhoneiros ainda vem pressionando estatisticamente o índice. 

A perda de vigor no comércio é generalizada. Dos principais segmentos do comércio, a exceção foi o segmento de veículos, motocicletas, partes e peças, que cresceu 14,3% nos 12 meses encerrados em janeiro, comparativamente ao período anterior. Segundo Isabella, depois do caos gerado pela greve dos caminhoneiros, muitas empresas passaram a investir em frotas próprias. 

O que também favoreceu esse segmento foi o fim do Inovar-Auto, programa que estabelecia benefícios à indústria automobilística e sobretaxava a importação de carros. Tanto é que, segundo a Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), as importações de veículos cresceram 29,4%, em 2018, atingindo 34,2 mil unidades. 

Quem também influenciou positivamente foi a febre dos aplicativos, que favoreceu as vendas diretas de veículos por parte das montadoras às locadoras de automóveis. Em janeiro de 2018, as vendas diretas representavam 27% dos emplacamentos de automóveis leves, segundo a Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave). Em dezembro, já eram 37%. 

 Reforma da previdência 

Uma das esperanças é em relação à tramitação da reforma da Previdência, que pode reduzir o quadro de incertezas. O projeto foi entregue pelo governo em fevereiro e deve ser começar a ser analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) nos próximos dias. 

“Isto deve contribuir para uma melhoria no cenário, o que pode influenciar na realização de investimentos e a retomada das contratações”, diz Tobler, da FGV. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados mostram que em janeiro houve o fechamento de 66 mil vagas, 35,3% a mais do que mesmo período de 2018.

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