Brasília - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a taxa de juros brasileira é uma "anomalia" e deve ser reduzida para o mesmo patamar verificado em outros países emergentes. "Há uma situação de anomalia do ponto de vista dos juros, embora estejamos caminhando para uma normalidade", afirmou o ministro em audiência pública no Senado, enviando um recado ao Banco Central, que se reúne em duas semanas para definir a nova taxa Selic.
"Estamos equilibrados em outros parâmetros econômicos, e acho que, agora que a inflação está baixa, nos próximos dois anos o Brasil deverá ter taxa básica semelhante à de países com as mesmas condições que as nossas", disse Mantega.
Atualmente, a taxa real de juros de longo prazo (ou seja, descontando a inflação esperada para os próximos 12 meses) está em cerca de 5,5% ao ano, o segundo porcentual mais alto do mundo, só perdendo para a Turquia.
Analistas de mercado, entretanto, questionam se o BC poderá manter o ritmo de queda das últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e se a taxa de juros não precisará crescer depois que a crise passar e a economia voltar a se aquecer. Argumentam que, além dos riscos de inflação, o Brasil ainda apresentaria "anomalias" fiscais que lhe impediriam de conviver com juros "normais".
Para Mantega, as críticas ao aspecto fiscal não se justificam, uma vez que, segundo ele, o Brasil é um dos poucos países cuja dívida pública não subirá expressivamente por causa da crise. Segundo levantamento da agência de risco Standard & Poors, o endividamento bruto dos Estados Unidos crescerá de 52% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008 para 79% do PIB ao final de 2010, enquanto no Brasil a dívida permaneceria estabilizada em torno de 58% do PIB.
"Reduzimos o superávit primário em 2009 para poder fazer uma política anticíclica e ainda assim nosso resultado nominal (diferença global entre receitas e despesas, incluindo juros) será o segundo melhor do G20", disse o ministro, citando números da revista Economist, que projeta um déficit de 2,1% do PIB para este ano no Brasil. Nos Estados Unidos, a estimativa é de que o déficit nominal chegue a 13,7% do PIB, no Reino Unido, 11,3% e na China, 3,6%.
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