O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve anunciar no fim da tarde de quarta-feira (18) o primeiro aumento da taxa básica de juros em dois anos – o último reajuste ocorreu em agosto de 2022, quando a Selic subiu de 13,25% para 13,75% ao ano.
Esse movimento deve se seguir à decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que horas antes poderá promover a primeira redução da taxa de juros norte-americana em quase cinco anos.
Segundo economistas e instituições financeiras, entre os fatores que contribuem para a alta esperada no Brasil estão:
- a inflação brasileira permanece em patamares elevados, mesmo com a deflação de 0,02% registrada em agosto;
- as expectativas para o IPCA estão acima da meta;
- dados de atividade econômica e mercado de trabalho apontam para um crescimento econômico robusto, que tende a pressionar a inflação.
Na segunda-feira (16), as chances de aumento da Selic – conforme a percepção de investidores – eram de 91,25%, de acordo com as negociações dos contratos de opções do Copom negociados na B3, a Bolsa brasileira. Há um mês, essa probabilidade era de 70%.
A maioria das expectativas é de aumento de 0,25 ponto percentual, que elevaria a Selic para 10,75% ao ano, mas também há quem aposte em alta de 0,5 ponto. As negociações indicam que a chance de manutenção da taxa é de apenas 8,75%.
Copom pode não sinalizar próximos passos devido às incertezas
De acordo com a XP Investimentos, apesar da queda nos preços internacionais das commodities, especialmente do petróleo, o câmbio continua pressionado e a atividade econômica está mais forte que o esperado.
A corretora acredita que o Copom não deve emitir sinais claros sobre futuras altas de juros. "O mais eficiente seria uma mensagem aberta, como 'faremos o que for necessário'. Considerando as incertezas do cenário, seria arriscado prever o ritmo de futuras elevações ou o tamanho total do ajuste", destacam economistas da XP.
Segundo Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, declarações de diretores do BC após a última reunião do Copom, em 31 de julho, indicaram para um aperto monetário.
O especialista destaca que Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária e indicado por Lula para presidir o BC a partir de janeiro, é uma das vozes mais preocupadas com a alta nos preços. "Galípolo sempre enfatizou os pontos de desconforto do Copom em relação à inflação", diz Goldenstein.
O estrategista também ressalta que, apesar das negativas, houve uma espécie de "guidance" (sinalização) sobre a condução da política monetária.
"Uma decisão de manter a Selic estável, apesar da melhora no cenário externo, comprometeria a credibilidade do BC", afirma Goldenstein. Ele destaca que tal decisão poderia aumentar a distância entre as expectativas de inflação e a meta, desvalorizar o real e elevar os juros de mercado.
Apesar da deflação de 0,02% registrada em agosto e do IPCA acumulado em 12 meses ter sido de 4,24% – menor que os 4,5% do mês anterior –, as expectativas para a inflação deste ano seguem em alta. O ponto médio (mediana) do mercado financeiro para 2024 era de 4,35%, segundo o boletim Focus publicado na segunda-feira (16).
O índice vem subindo há nove semanas e está próximo do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%. No início de janeiro, o mercado previa uma inflação de 3,9%.
As expectativas para o IPCA em 2025 também aumentaram, passando de 3,5% no início do ano para 3,95%, com tendência de alta. De acordo com Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, essa desancoragem é explicada por uma combinação de fatores, como incertezas sobre a política fiscal brasileira, dúvidas sobre a credibilidade do BC e especulações sobre sua próxima gestão e seu compromisso com a meta de inflação.
Ruídos no Banco Central também pressionam alta dos juros
Outro fator que contribui para o possível aumento da Selic, segundo a equipe de análise econômica do Itaú, é a pressão sobre a taxa de câmbio, que segue próxima dos maiores níveis do ano.
Um fator que pesa nessa equação são as falhas de comunicação do Banco Central. Gestores de fundos multimercados apontam a falta de clareza nas sinalizações da autoridade monetária como um problema.
"Alguns diretores focam mais em fatores externos, enquanto outros priorizam dados internos, o que tem prejudicado a comunicação do BC", afirmou André Raduan, gestor da Genoa Capital, durante um evento da XP no mês passado.
Felipe Guerra, CIO da Legacy, também criticou a comunicação do Banco Central brasileiro, comparando-a com a do Fed. Ele observou que, nos EUA, os discursos são padronizados e seguidos à risca, enquanto no Brasil, um mesmo diretor pode participar de três eventos diferentes no mesmo dia, resultando em um excesso de comunicação. "Aqui, a comunicação é excessiva", concluiu Guerra.
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