Jornalistas fizeram plantão ontem na frente do BC da Argentina, no qual Redrado voltou a trabalhar| Foto: Juan Mabromata/AFP

Em meio à crise institucional na Argentina – por causa do confronto entre o Poder Executivo, o Parlamento, a Justiça e o Banco Central – o governo da presidente Cristina Kirchner sofreu ontem dois duros reveses quando a juíza federal María José Sarmiento ordenou a restituição de Martín Redrado ao cargo de presidente do BC e negou o uso das reservas internacionais do país em um fundo criado pelo Executivo. Redrado havia sido exonerado por decreto na quinta-feira pela chefe de Estado.Redrado resistiu às ordens da presidente para liberar US$ 6,5 bilhões das reservas da entidade financeira para o pagamento de parte da dívida pública que vence neste ano, atitude que causou a fúria de Cristina. O presidente do BC, que ficou quase 24 horas fora do cargo, fez uma reentrada triunfal ontem no fim da tarde no prédio do BC e foi aplaudido pelos funcionários da entidade financeira. "Volto a trabalhar. A justiça foi feita", declarou Redrado ao voltar para seu escritório.

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Reservas

Horas antes, a mesma juíza ordenou a suspensão provisória do decreto presidencial que determinava a liberação das reservas do BC para o pagamento da dívida pública. O líder do bloco kirchnerista no Senado, Miguel Ángel Pichetto, acusou a Justiça de pretender "interferir em ações do âmbito econômico".

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O deputado Fernando "Pino" Solanas, do Partido Projeto Sul, que reúne a esquerda tradicional, entrou com um pedido na Justiça para abertura de um processo político contra a presidente Cristina pelos delitos de administração fraudulenta e abuso de poder.

O chefe do gabinete de ministros, Aníbal Fernández, afirmou que o governo recorrerá da decisão da juíza, que aprofundou a crise de poderes na Argentina. Fernández também fez críticas a Redrado e ao vice-presidente da República, Julio Cobos – que rompeu com a presidente Cristina há um ano e meio – acusando-os de "conspiração" conjunta contra o governo.

Acusação

A presidente Cristina aumentou a tensão institucional na Argentina ao afirmar que "a oposição não tem o direito de colocar obstáculos" para seu governo. Visivelmente irritada, esbravejou: "Pegamos as reservas para que lá no exterior não venham com esse fantasma de que não vamos poder sustentar a economia."

A oposição critica a presidente Cristina por querer usar as reservas do BC para pagar a dívida e, assim, não comprometer os fundos públicos, que seriam usados em medidas clientelistas.

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A tensão no país aumentou no meio da tarde de ontem quando o vice-presidente Cobos convocou uma reunião de emergência para segunda-feira com líderes dos blocos partidários no Parlamento para definir uma data para uma sessão especial durante a qual será discutida a crise institucional. O bloco kirchnerista anunciou que não participará da reunião.

Mercados

Em meio à crise, a Bolsa de Buenos Aires caiu 1,5%. Os títulos da dívida pública registraram quedas de até 4%. Enquanto isso, a taxa de risco da Argentina continuou subindo e chegou aos 701 pontos básicos, 32 acima do registrado na véspera.