João Namir Moro, do Grupo OM: código de conduta une equipe em torno da ideia de compliance| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Legislação

O avanço da Lei

Anticorrupção é a atribuição da responsabilidade por atos ilícitos à pessoa jurídica. A empresa pode ser punida, independente da comprovação do envolvimento direto ou não em fraudes.

Quem responde

Sociedades empresárias e sociedade simples, fundações, associações ou sociedades estrangeiras que tenham sede ou representação no país, gestores e administradores.

Crimes

Prometer, oferecer ou dar vantagem indevida a agente público; financiar, custear, patrocinar ou subvencionar a prática da conduta ilícita; utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a ação fraudulenta; frustrar, fraudar, impedir ou perturbar licitações, ou fraudar contrato dela decorrente; manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados com a administração pública; criar pessoa jurídica de modo fraudulento ou irregular para participar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo; dificultar investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos.

Penalidades

Multa de 0,1% e 20% do faturamento bruto do último exercício. Se não for possível estabelecer esse critério, o valor da multa será de R$ 6 mil a R$ 60 milhões. Reparação do dano, suspensão ou interdição parcial e até dissolução da empresa.

Atenuantes

Empresas que tiverem programas de compliance terão as punições atenuadas. A lei também institui o Acordo de Leniência: ao contribuir com as investigações, as companhias poderão ter a multa reduzida em até dois terços.

Período

As infrações prescrevem em cinco anos.

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Pilares

Além de estabelecer o conjunto de regras de combate à corrupção, o compliance é um aliado no desenvolvimento das empresas. Vejas as principais orientações.

• Avaliação de risco

O método exige o mapeamento das áreas de maior vulnerabilidade, como as compras governamentais, relações com mercado externo, área de investimentos e relacionamento de filiais. Isso ajuda a definir quais as prioridades para concentração de esforços, conforme natureza do negócio.

• Exemplo

A liderança deve comunicar, inclusive pelo exemplo, o modelo de conduta adotado. Um manual ou código de políticas e procedimentos formais deve ser elaborado, definindo as medidas que serão adotadas em caso de descumprimento das normas.

• Comunicação

Funcionários, clientes e fornecedores precisam ser comunicados sobre as regras de conduta. O advogado Cícero Zanetti, do escritório Prolik, orienta até mesmo para o recolhimento de assinaturas dos colaboradores sobre a ciência do documento.

• Monitoramento

Sem controle do ambiente, o código e a comunicação sobre ele perdem o efeito. É preciso realizar auditorias periódicas preventivas, que podem identificar procedimentos suspeitos ou equivocados. Com a tecnologia da informação, é cada vez mais fácil flagrar movimentos fora do padrão. Canais de denúncia também ajudam a apontar irregularidades.

• Resposta

A apuração interna de atividades suspeitas deve ser cuidadosa. Um protocolo ajuda a organizar a resposta ao incidente, desde a coleta de informações ao controle dos resultados.

• Aprimoramento

O método exige constante aperfeiçoamento, que aumenta conforme a complexidade e o crescimento do negócio.

A vigência da Lei Anticorrupção e a profundidade de investigações recentes, como a Operação Lava Jato, acrescentaram um novo item ao planejamento estratégico das empresas brasileiras: a criação de sistemas de compliance. O termo define as regras de conduta de cada companhia a fim de inibir fraudes e envolvimento em esquemas de corrupção nas relações comerciais.

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INFOGRÁFICO: Veja o ranking de corrupção no país

"A Lava Jato é um exemplo de evolução nesse ambiente empresarial. Avançamos na agenda da transparência com a pressão da sociedade civil e com políticas públicas que contribuem para esse cenário", observa o diretor-presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão.

Desde 29 de janeiro deste ano, empresas flagradas em negociações fraudulentas respondem na Justiça pelo crime, juntamente com o funcionário ou colaborador envolvido. A possibilidade de um escândalo de corrupção colocar e empresa e seus sócios no banco dos réus, afetando também seus resultados, acendeu o alerta nas diretorias e presidências da iniciativa privada – o aumento na demanda por informações foi notada por consultorias da área.

Ao estabelecer seus sistemas de compliance, muitas empresas aumentam o monitoramento de seus funcionários. Elas também adotam ferramentas de tecnologia de informação na avaliação de dados financeiros e contábeis que possam mostrar indícios de ações ilegais. A investigação corporativa, porém, precisa respeitar a privacidade do colaborador e não infringir a lei.

"É preciso trabalhar com as informações da empresa e com a apuração que os canais de denúncia oferecem", explica o consultor José Francisco Compagno, sócio líder da área de investigação e fraudes da EY no Brasil e América do Sul.

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Conduta

"A melhor maneira de se proteger é definir as regras de conduta internas. Isso demonstra que a companhia tem boas práticas ao lidar com recursos de terceiros e mitiga os riscos de ver seu corpo de executivos ou colaboradores envolvido em crimes", diz Eliane Lustosa, vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corportativa (IBGC).

Mais do que monitorar o comportamento de seus funcionários, o sistema de compliance tem relação direta com a performance da empresa. Para consultores, controlar riscos exige um novo nível de gestão empresarial, que prepara a organização para desenvolver mercados, buscar financiamentos ou aportes de fundos de investimento.

"A empresa não se sustenta no longo prazo com práticas nebulosas de gestão", diz o consultor Eduardo Valério, da J. Valério, de Curitiba. Além de sinalizar aos parceiros e financiadores sobre a transparência nos negócios, o cuidado com a conduta ética tem impacto direto na valorização da imagem da companhia.

Ser pequena não exime a empresa de estabelecer regras de combate à corrupção. Com o estimulo às compras governamentais gerado pela Lei Geral das Pequenas e Média Empresas, o gestor precisa ficar atento e resistir a situações de favorecimento em licitações suspeitas que possam complicá-lo no futuro.

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"Para as pequenas, é importante definir a cadeia de comando, que também prepara a sucessão e melhora a gestão, e construir um conjunto interno de regras", lembra o consultor Carlos Tortelli, da Consult Finance, de Curitiba.

A melhor maneira de se proteger é definir as regras de conduta internas.

Eliane Lustosa  vice-presidente do IBGC

Novo mercado

Somente a EY, antiga Ernst&Young, registrou aumento de 65% na área de compliance no último ano. São mais de 140 profissionais envolvidos no setor. O movimento se repete em escritórios de advocacia, como o Prolik Advogados Associados, que criou uma área dedicada ao segmento. Também em Curitiba, o escritório Marins Bertoldi faz a lição de casa e criou o próprio compliance. "Foi uma necessidade dos clientes internacionais, que exigiam processos formais de transparência", explica o sócio Emerson Albino.

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Manual formaliza adoção de regras

Formado pelas empresas OpusMúltipla, Brainbox e HouseCricket, o Grupo OM de Comunicação Integrada é uma das 652 empresas signatárias do Pacto Global, lançado no país em 2000. A iniciativa pretende mobilizar a comunidade empresarial para a adoção de práticas de negócios que contemplem as áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.

Desde 2010, o grupo está envolvido com os compromissos estabelecidos no documento. "A formalização do pacto foi um movimento natural da postura da empresa durante a criação do grupo e na certificação de qualidade, mas também na crença de que podemos colaborar com a sociedade de forma ética", explica o vice-presidente administrativo-financeiro João Namir Moro.

No fim de 2013, a publicação da Lei Anticorrupção foi mais uma razão para aprimorar os processos internos de controle. Contratou uma consultoria jurídica e começou a adotar práticas de compliance, ajustando-se às novas regras. Uma das primeiras ações foi a elaboração do manual de ética e conduta, onde esclarece as normas de atuação de funcionários e fornecedores.

Para acompanhar o processo, são realizadas auditorias regulares nas áreas de contabilidade e recursos humanos, além de treinamentos. Fornecedores são monitorados para alinhamento às convicções adotadas por meio de questionários e classificações internas. Apenas em 2014, o método exigiu R$ 51 mil em investimentos.

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