Obra de transposição do Rio São Francisco já conta com participação de empreiteira estrangeira| Foto: Adalberto Marques/MI

Brasil não é um mercado fácil para novatas

No dia a dia, não é fácil operar no país. O advogado Robertson Silva Emerenciano, sócio do escritório Emerenciano, Baggio e Associados, diz que as restrições são de burocracia, como documentos exigidos das empresas estrangeiras. "Precisamos de, no mínimo, seis meses antes que a primeira nota fiscal possa ser emitida no Brasil", diz.

Para Eduardo Padilha, professor do Insper, o interesse dos chineses tende a ser mais pragmático: dominar corredores de exportação de soja, por exemplo, garantido o fornecimento chinês. "O mundo tem grandes empresas maiores que as nossas, mas nosso mercado não é tão simples. A sueca Skanska, por exemplo, sondou o país e acabou desistindo (a empresa foi citada na Operação Lava-Jato). Agora, só entrará quem tem sangue frio e analisar muito, as empresas não vão querer correr o risco de sujar seus nomes por alguns contratos no país", avalia

Carlos Malmud, pesquisador da América Latina do Real Instituto Elcano, de Madri, explica que o interesse das grandes construtoras espanholas no Brasil continua forte, mas tende a ser mais criterioso. Um problema que ele aponta é a preferência que o BNDES dá a empresas locais.

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As candidatas

Veja as construtoras estrangeiras que querem investir no mercado brasileiro:

CRCC

Maior empreiteira do mundo, a chinesa, focada em ferrovias, fatura mais de US$ 70 bilhões por ano.

ACS

O grupo espanhol, que fatura mais de US$ 40 bilhões por ano, já atua no Brasil por meio de sua subsidiária, a Dragados.

Sacyr

Já atua em obras em São Paulo, como em duas linhas do metrô, e no Nordeste.

Acciona

No Brasil desde 2008, atua em rodovias, obras e petróleo.

Ferrovial

Com pequena atuação no país, grupo espanhol tentou entrar na concessão de aeroportos.

OHL

Quer voltar ao Brasil após uma experiência ruim em rodovias.

Hydrochina

Hoje a empresa é uma das maiores em hidrelétricas no mundo.

Espanhóis e chineses estão de olho em um dos mercados mais fechados do país: o de obras e concessões públicas. Apesar das barreiras à entrada de estrangeiros, eles fazem parte da revolução silenciosa que começa a ocorrer entre as empreiteiras. Com faturamento anual, segundo especialistas, de cerca de R$ 200 bilhões e potencial de chegar a R$ 700 bilhões, as obras públicas e concessões de infraestrutura tendem a se pulverizar. O grande motivador desta mudança é a Operação Lava Jato, cujas investigações atingem as grandes empreiteiras.

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Para se ter uma ideia do potencial deste mercado, o Brasil pode representar 8% de todos os investimentos do mundo em obras e concessões públicas em 20 anos, segundo estudo da KPMG. Entre as estrangeiras, as companhias chinesas e espanholas despontam como as menos ariscas ao clima de incerteza. Para que a vontade de ingressar no país se concretize, existem dois caminhos possíveis: associações com as empresas de médio porte, que tendem a se beneficiar deste movimento, e compra de participações em empreendimentos como rodovias e aeroportos. As oportunidades começam a surgir porque as empreiteiras nacionais estão sendo obrigadas a se desfazer de participações para resistir à turbulência.

No mercado é dado como certo o forte interesse das chinesas CRCC e Hydrochina, sobretudo em ferrovias e hidrelétricas. Também é esperada a entrada ou o reforço de operações das espanholas Sacyr (que já atua no Brasil com a Somague na construção de duas linhas do metrô de São Paulo e na transposição do Rio São Francisco, entre outras obras), ACS (também presente no Brasil por meio de sua subsidiária Dragados), Ferrovial, OHL (que já atuou em rodovias mas saiu do país) e da Acciona (que está no setor de petróleo, concessão federal de rodovia e na construção civil). Procuradas, as empresas preferiram não se pronunciar, exceto a Sacyr, que informou que atua no Brasil desde 1997, tem experiência sólida no país e interesse neste mercado.

O setor de obras públicas é marcado por polêmicas envolvendo diversas empresas em todo o planeta. No Brasil, porém, as investigações sobre os casos de corrupção da Petrobras envolvem as chamadas "cinco irmãs" da construção: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS. Impossibilitadas de fazer negócios com a estatal, elas poderiam sofrer ainda mais restrições nas obras públicas. Algumas empresas já enfrentam forte restrição de caixa. No total, a Polícia Federal arrolou 23 empresas em suas investigações.

Em um primeiro momento, o que se espera é uma freada nos negócios, mas, no futuro, este espaço tende a ser preenchido pelas estrangeiras e pelas empresas de médio porte. Obras de ferrovias e portos, que não devem demandar tantos recursos fiscais, seriam as primeiras na retomada do setor. O aumento do custo do dinheiro e as restrições de crédito do BNDES também surgir como empecilhos. A expectativa entre especialistas do setor é de uma alta da taxa de retorno dos projetos.

Mauricio Endo, sócio da KPMG, afirma que, apesar do potencial, o país é afetado pela concorrência com o mercado dos EUA, onde serão feitas grandes obras nos próximos anos. Ele afirma que o Brasil precisa de regras mais estáveis, planejamento de longo prazo factível e regularidade nos investimentos.

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