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Pandemia de Covid-19 causou impactos negativos na economia brasileiras, entre eles, a disparada da inflação.| Foto: Albari Rosa/Foto Digital/Gazeta do Povo

O Brasil sai da pandemia da Covid-19 em uma situação mais complicada do que entrou, apontam economistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

O cenário fiscal é mais delicado, em que pese a arrecadação ter crescido em 2021 e a possibilidade de o país encerrar o ano com um superávit primário (não incluídas as despesas com juros). A inflação está alta. Há problemas no mercado de trabalho, que ainda não se recuperou por completo. Mas, há, também um legado positivo: a economia brasileira mostrou resiliência com o avanço da digitalização.

1. Situação fiscal mais delicada

Um dos principais legados da pandemia na economia brasileira foi o desajuste das contas públicas. O cenário já não era dos mais favoráveis desde 2013, com o governo gastando mais do que arrecada. “Entramos na pandemia com a corda no pescoço”, diz o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale.

Consultorias e bancos trabalham com um cenário de que em 2021 houve um resultado primário positivo – o primeiro em sete anos, motivado pela melhora na arrecadação federal e pelo superávit nas contas de estados e municípios.

A dívida pública, que representava 74,3% do PIB em dezembro de 2019, antes da pandemia, subiu para 88,8% um ano depois. O indicador recuou muito neste ano, caindo para 81,1%, em novembro, segundo o Banco Central. Porém, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, houve um efeito artificial.

Muito do encolhimento da relação dívida/PIB se deve à forte alta do denominador, que foi impulsionado não apenas pela atividade econômica mais alta, mas pela disparada da inflação, que jogou preços e o PIB nominal para cima.

“O governo não está fazendo política fiscal”, diz Vale. Ele observa que a aprovação da PEC dos precatórios vai dar mais possibilidade de gastos para o governo federal. “O teto de gastos também foi quebrado”, diz. Segundo o economista, o rescaldo que se tem é a irresponsabilidade fiscal. “Não houve aprendizado, estamos de volta ao velho Brasil”, diz.

Não por acaso, a Instituição Fiscal Independente (IFI) e boa parte dos bancos e consultorias prevê aumento na relação dívida/PIB em 2022, que pode chegar à casa dos 84%.

Megale, da XP, diz que 2022 será um ano complicado do lado fiscal. Ele diz que o aumento de receita vai se reverter com o desaquecimento da atividade econômica, e o ambiente eleitoral favorece mais gastos. A mudança fiscal influencia a dinâmica da dívida pública para os próximos anos, aponta a corretora. Segundo ela, a relação entre dívida e PIB não se estabilizará antes de 2030.

2. Inflação mais elevada

Para Yihao Lin, economista da Genial Investimentos, o maior legado negativo da Covid-19 é o aumento da inflação, que atingiu 10,42% no período de 12 meses até meados de dezembro, segundo o IPCA-15 do IBGE. Para 2022, a sinalização é de que os preços aumentem, em média, mais de 5%. “São dois anos de inflação acima da meta.”

A tônica do Banco Central é combater esse processo com a principal ferramenta que tem: o aumento da Selic. E, ao que tudo indica, pode levar os juros a um campo bastante contracionista, impactando diretamente no crescimento da economia. “Ele quer manter as expectativas sob controle”, diz Lin.

Essa sinalização deverá ter impactos negativos sobre o crescimento. O relatório Focus do BC, que compila as previsões feitas por bancos, corretoras e consultorias, mostra que o ponto médio das previsões para o PIB em 2022 está em 0,29%.

Mas economistas ouvidos pela Gazeta do Povo sinalizam que a inflação, embora ainda elevada, tende a perder força ao longo de 2022. Um dos motivos, segundo Megale, seria uma possível deflação nos preços da energia. Outro fator é a gradual retomada das cadeias produtivas. “Em 2022 ainda vamos ter quebras. Reequilíbrio só no ano seguinte.”

3. Problemas mais acentuados no mercado de trabalho

Outro legado negativo da pandemia foi no mercado de trabalho. A crise afetou principalmente o trabalho informal, que depende mais da circulação das pessoas. “A crise foi regressiva. Ela afetou mais quem estava em pior situação e contribuiu para aumentar a desigualdade social. O Brasil tem dificuldade grande em caminhar em direção a uma solução para o problema”, destaca a diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro.

O rendimento médio real do trabalho também encolheu no período, mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad Contínua), passando de R$ 2.608 no último trimestre de 2019 para R$ 2.449 no trimestre encerrado em outubro, uma queda de 6,1%.

O que está acontecendo, segundo a economista, é uma gradual recuperação do mercado de trabalho. “O processo de recuperação é lento e a taxa de desemprego tende a ficar alta porque as pessoas estão procurando mais oportunidades de trabalho.”

4. Economia tende a se digitalizar mais com o 5G

A pandemia não deixou apenas legados negativos. Vale, da MB Associados, afirma que os problemas causados pela Covid-19 serviram para mostrar que o mundo digital pode funcionar adequadamente. E tende a melhorar com a entrada da tecnologia 5G, que começa a chegar às capitais em 2022.

As teles devem investir R$ 42 bilhões para disseminar o novo modelo de telefonia celular, que ajudará a acelerar conceitos como a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e a indústria 4.0.

Mas, segundo o economista-chefe da MB, esse uso mais intensivo de novas tecnologias coloca novos desafios à mão de obra mais precarizada, justamente a que tende a perder mais espaço neste cenário.

A pesquisadora Janaina Feijó, da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta que o que vem ocorrendo no Brasil vai na contramão da tendência mundial.

“Enquanto nos países desenvolvidos têm ocorrido uma revolução nos tipos de empregos demandados, com destaque para os da área de tecnologia da informação (TI), a geração de emprego no Brasil tem sido pautada pelo crescimento de postos de trabalho de baixo valor agregado, o que, por sua vez, compromete o potencial de crescimento da economia”, diz a pesquisadora.

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