Área onde funciona o Shopping Total, que era antigamente um depósito da Hermes Macedo, está avaliada em R$ 120 milhões| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Estrutura

Criação de novas Varas da Fazenda agiliza processos

A onda de leilões de imóveis e marcas de empresas falidas do Paraná se deve à criação de duas Varas da Fazenda específicas – 1.ª e 2.ª – para cuidar desses processos. A mudança foi em 2012, mas agora os processos começaram a andar.

"A criação dessas duas varas deu agilidade aos processos. Em 2014 teremos várias vendas de ativos para pagar credores", diz o advogado Joaquim Rauly, responsável por administrar a massa falida da antiga malas Ika e a indústria Trevo.

O movimento vem se refletindo diretamente no mercado de leilões de bens em Curitiba. Segundo o leiloeiro público oficial Helcio Kronberg, somente sua empresa tem agendada, até o fim do ano, cerca de R$ 150 milhões em pregões.

O objetivo do poder judiciário é acelerar o encerramento das falências antigas, com mais de dez anos. Pela lei, a venda de ativos tem que ser realizada logo após a decretação da falência, mas o acúmulo de processos, a morosidade da Justiça e o modelo de operação de alguns síndicos – que recebiam uma remuneração mensal ao invés de um pagamento único no encerramento da falência – fizeram com que os processos passassem anos na Justiça.

Muitas dessas falências são regidas, inclusive, pela antiga lei de falências, que vigorou de 1945 até 2005, quando entrou em vigor a nova legislação. Em ambas, no entanto, a prioridade de pagamento após os leilões é dada aos credores trabalhistas.

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Venda

Fábrica, cera Canário e sabão Guaíra saem por R$ 51 milhões

Outra fábrica paranaense que continua produzir e que deve ir a leilão em breve é a da Melyane Indústria Química, criada em 1940. A empresa continua produzindo os seus dois principais produtos: a cera Canário e o sabão Guaíra. Localizada no bairro Rebouças, a Melyane funciona com 50 funcionários e sua linha de produção está avaliada em R$ 40,8 milhões.

A expectativa é arrecadar R$ 8,6 milhões com as marcas e outros R$ 2,2 milhões com o negócio propriamente dito e a carteira de clientes, diz Rodrigo Shirai, advogado que administra a massa falida.

Na ativa

Ao contrário de outras empresas, que foram arrendadas, a Melyane se mantém na ativa porque foi nomeado um gestor pelo síndico da massa falida para tocar o negócio, o que garantiu a manutenção da marca no mercado mesmo após a falência, em 1999.

Segundo o advogado, a intenção é vender o conjunto todo na primeira chamada. Shirai, que também cuida do processo do antigo Moinho Graciosa, que faliu em 1998, deve colocar em leilão o antigo moinho no Jardim Botânico. O imóvel, porém, ainda aguarda a conclusão do laudo de avaliação sobre o valor a ser buscado no pregão.

R$ 40,8 milhões é o quanto vale a fábrica da Melyane Indústria Química, localizada no Rebouças.

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R$ 160 milhões é a avaliação total dos bens da rede de departamentos Hermes Macedo, que serão leiloados em cerca de três meses. A empresa, que nasceu em 1932, decretou falência em 1997.

Uma série de ativos de empresas tradicionais paranaenses que foram à falência há algumas décadas vão a leilão nas próximas semanas em Curitiba. Fábricas inteiras, máquinas, equipamentos, depósitos, lojas e até terrenos e áreas de shoppings que pertencem à massa falida de companhias como Malas Ika, Alimentos Tip Top, Indústria Trevo, Melyane, Moinho Graciosa e Hermes Macedo serão vendidos. A estimativa é que sejam movimentados, no mínimo, R$ 300 milhões com os leilões. O dinheiro será usado para pagar credores.

A lista inclui a área onde hoje funciona o Shopping Total no bairro Portão – que originalmente era um depósito da loja de departamentos Hermes Macedo. O imóvel está arrendado até 2030 e está avaliado em R$ 120 milhões. Também irá a leilão um terreno de 252 mil hectares no Pará, que pertencia à indústria de madeira e pisos Trevo, que funcionava no bairro Pinheirinho. Do tamanho de uma cidade como Hong Kong, a área está estimada em R$ 12,6 milhões e vai a leilão dia 15 de agosto.

Somente os bens da antiga Hermes Macedo, que teve a falência decretada em 1997, estão avaliados em R$ 160 milhões, de acordo com o advogado e síndico da massa falida, Brazílio Bacellar Neto. Além da área do shopping no Portão, estão incluídos, dentre outros, um imóvel onde hoje funciona, por meio de locação, a Havan em Cascavel, e uma área que foi uma das principais lojas da rede, na Barão do Rio Branco, no centro de Curitiba. A previsão é que eles sejam levados a leilão em 90 dias.

Fábricas inteiras

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No próximo dia 30 está marcado o leilão dos imóveis da Tip Top Alimentos, empresa que nasceu em 1970 como uma fábrica de biscoitos de polvilho e que teve sua falência decretada em 1993. Segundo o sindico Paulo Vinícius de Barros Martins, a intenção é leiloar R$ 25 milhões em ativos.

A fábrica, localizada em Campina Grande do Sul, todo maquinário incluído e as 25 marcas do grupo, que fabricava massas, biscoitos e salgadinhos, devem ser vendidos. A planta atualmente está arrendada e continua a produzir parte das marcas do grupo.

No próximo dia 31, também devem ser vendidos 95 apartamentos da antiga construtora Cidadela – que faliu em 2006 – em Votorantim (SP), avaliados em cerca de R$ 16 milhões.

Marcas afundaram em disputas

O Paraná viu desaparecer várias marcas tradicionais ao longo das últimas duas décadas. Empresas que eram símbolo do empreendedorismo no estado afundaram em dívidas, disputas familiares e não resistiram às mudanças econômicas do país.

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A rede de lojas de departamentos Hermes Macedo, que nasceu em 1932, talvez seja o exemplo que mais se encaixa nesse perfil. Ao longo da década de 1980, a empresa, que começou as atividades com a venda de pneus e acessórios automotivos, chegou a ser a maior rede de departamentos do país, à frente de nomes como Lojas Pernambucanas e Mesbla, com 180 lojas distribuídas no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.

A empresa foi uma das primeiras a oferecer crédito para financiar a compra dos clientes. No início da década de 1990, no entanto, a sucessão de planos econômicos, disputa familiares, a investida malsucedida na criação do shopping Garcez – voltado para as classes A ou B – e a entrada de novos concorrentes no mercado levaram a HM ao declínio.

Má administração

Para o advogado Brazílio Bacellar Neto, da Brazílio Bacellar Neto Advogados, o fim dessas empresas tem em comum um histórico de má administração familiar, em que o principal erro foi não profissionalizar a gestão. Esse talvez tenha sido o maior problema da Ika, que por quase 70 anos vendeu malas e bolsas. Endividada, a empresa, que teve seu auge nos anos 1980, não sobreviveu às mudanças do Plano Real, em 1994, e teve a falência decretada dois anos depois, lembra o advogado da massa falida, Joaquim Rauly.

No próximo dia 31 serão colocados à venda R$ 11,5 milhões em bens da massa falida, que incluem um imóvel de 700 metros quadrados na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), um depósito de malas em Araucária e de um imóvel comercial, locado, no centro de Curitiba.

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A marca Ika, que foi vendida para terceiros que mantêm o nome no mercado, não entrará em leilão. Essa transação, no entanto, ainda é alvo de um processo na Justiça, que discute a legitimidade da venda, segundo Rauly.