Ele chegou ao governo com carimbo de “estrangeiro”, um estranho no ninho petista, mas no comando da economia o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem o mesmo estilo centralizador da presidente Dilma Rousseff e em conversas reservadas da equipe econômica esse traço é destacado.
Há pouco mais de dois meses no cargo, Levy tomou para si o papel de principal comunicador do plano de ajuste fiscal e de negociador das medidas econômicas com o Congresso. Seus secretários estão impedidos de dar entrevistas, fora as divulgações periódicas da Fazenda, e podem ser surpreendidos a qualquer momento com a chegada do chefe em reuniões com representantes do mercado financeiro ou empresários, mesmo que sua presença não esteja prevista na agenda.
“Ele chega de repente e senta para acompanhar a reunião”, contou uma fonte, destacando que a maior preocupação do ministro é afinar o discurso de sua equipe e evitar ruídos na comunicação do ajuste fiscal.
Levy também faz questão de “botar a mão na massa” e se envolve em tarefas que qualquer gestor delegaria para a sua equipe. A entrevista coletiva na qual o ministro anunciou as mudanças no programa de desoneração da folha de pagamento das empresas, por exemplo, atrasou duas horas.
O motivo? Levy decidiu preparar ele próprio a apresentação para a imprensa.
A agenda do ministro é outro sinal do estilo centralizador. Levy não coloca todos os seus compromissos nela e é comum que os jornalistas fiquem sabendo de encontros e reuniões depois que eles já ocorreram. Para a imprensa, o ministro tem preferido dar entrevistas exclusivas por e-mail, o que lhe dá a chance de preparar as respostas com calma e escapar de questionamentos.
Mesmo assim, os relatos dos técnicos são de que a presidente Dilma está encantada com o comandante da economia, com quem gosta de conversar, não apenas sobre temas áridos como o superávit primário, mas também sobre artes, música clássica e pintura.
Afinidade
Quem trabalhou com Dilma e Levy no primeiro mandato do presidente Lula está surpreso com a relação atual dos dois e as afinidades descobertas. Quando ela comandava a Casa Civil e ele era secretário do Tesouro, tiveram duros embates. Normalmente, porque ele queria cortar gastos, e ela queria ampliá-los.
Há quem diga que na negociação sobre o contingenciamento do Orçamento de 2006, a briga foi tão feia que Dilma chegou a ficar com lágrimas nos olhos.