Joaquim Levy, com Alexandre Tombini e Nelson Barbosa: estrela do ministro da Fazenda é a que mais brilha na equipe econômica.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Ele chegou ao governo com carimbo de “estrangeiro”, um estranho no ninho petista, mas no comando da economia o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem o mesmo estilo centralizador da presidente Dilma Rousseff e em conversas reservadas da equipe econômica esse traço é destacado.

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Trabalhador compulsivo

Joaquim Levy mantém hábitos que o fizeram ganhar fama de workahoolic. Chega muito cedo ao Ministério da Fazenda e sai muito tarde. Há duas semanas, segundo contou um colaborador, chamou o secretário da Receita, Jorge Rachid, para uma reunião no domingo. E os dois deixaram o prédio às 5 horas da manhã.

Quem conhece o ministro diz que ele está “pior do que nunca” em relação aos horários de trabalho. Quando era secretário do Tesouro, a família veio morar em Brasília. Agora, veio sozinho e fica ainda mais tempo no Ministério. Só passa em casa para tomar banho e dormir um pouco, muito pouco, segundo os assessores.

Há pouco mais de dois meses no cargo, Levy tomou para si o papel de principal comunicador do plano de ajuste fiscal e de negociador das medidas econômicas com o Congresso. Seus secretários estão impedidos de dar entrevistas, fora as divulgações periódicas da Fazenda, e podem ser surpreendidos a qualquer momento com a chegada do chefe em reuniões com representantes do mercado financeiro ou empresários, mesmo que sua presença não esteja prevista na agenda.

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“Ele chega de repente e senta para acompanhar a reunião”, contou uma fonte, destacando que a maior preocupação do ministro é afinar o discurso de sua equipe e evitar ruídos na comunicação do ajuste fiscal.

Levy também faz questão de “botar a mão na massa” e se envolve em tarefas que qualquer gestor delegaria para a sua equipe. A entrevista coletiva na qual o ministro anunciou as mudanças no programa de desoneração da folha de pagamento das empresas, por exemplo, atrasou duas horas.

O motivo? Levy decidiu preparar ele próprio a apresentação para a imprensa.

A agenda do ministro é outro sinal do estilo centralizador. Levy não coloca todos os seus compromissos nela e é comum que os jornalistas fiquem sabendo de encontros e reuniões depois que eles já ocorreram. Para a imprensa, o ministro tem preferido dar entrevistas exclusivas por e-mail, o que lhe dá a chance de preparar as respostas com calma e escapar de questionamentos.

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Mesmo assim, os relatos dos técnicos são de que a presidente Dilma está encantada com o comandante da economia, com quem gosta de conversar, não apenas sobre temas áridos como o superávit primário, mas também sobre artes, música clássica e pintura.

Afinidade

Quem trabalhou com Dilma e Levy no primeiro mandato do presidente Lula está surpreso com a relação atual dos dois e as afinidades descobertas. Quando ela comandava a Casa Civil e ele era secretário do Tesouro, tiveram duros embates. Normalmente, porque ele queria cortar gastos, e ela queria ampliá-los.

Há quem diga que na negociação sobre o contingenciamento do Orçamento de 2006, a briga foi tão feia que Dilma chegou a ficar com lágrimas nos olhos.

“Afável e habilidoso”, ministro começa a dobrar até os petistas

Na esfera política, pouco a pouco, o ministro Joaquim Levy também tem conquistado admiradores. Em sua atuação no Congresso, é descrito por interlocutores como “afável”, “habilidoso socialmente” e “bem-humorado”. No jantar com a bancada petista na segunda-feira da semana passada (16), apesar de ser conhecido como um homem de gosto refinado e hábitos conservadores, Levy ficou à vontade, tirou o paletó, afrouxou a gravata, fez brincadeiras e serviu-se dos pratos da culinária paraense com desenvoltura.

O ministro optou por um linguajar simples, de fácil compreensão, o que deixou uma boa impressão. Assim, “a culpa é do Levy” é uma expressão que, pouco a pouco, deixa de ser pronunciada pelos petistas. Desde que assumiu a Fazenda, ele foi acusado pelos políticos do partido de representar todos os males do governo e chegou a ser apontado como um ministro que “parece secretário do Tesouro”, por sua agenda de cortes, sem exercer o papel de “animador” que ajudaria a melhorar o ânimo do Congresso e do setor produtivo.

Suas conversas com as bancadas da base governista e o esforço para se adaptar aos interlocutores têm servido para amenizar resistências no Congresso. Para se aproximar do público-alvo, Levy não economiza nos malabarismos. Em reunião com petistas, tentou mostrar-se humilde em seu apelo por apoio ao ajuste fiscal, dizendo não entender de política como a bancada, nem de economia como o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, (presente no encontro), já que é engenheiro naval.