A morosidade na emissão da ordem de embarque de contêineres, última etapa para que a carga seja carregada pelo do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), requer muita paciência de exportadores e importadores.
Apesar dos recentes investimentos milionários realizados pelo único terminal portuário que opera esse tipo de mercadoria no litoral paranaense, as empresas especializadas enfrentam excesso de burocracia e contabilizam transtornos antes de obter sucesso no desembaraço da documentação para liberação das cargas.
A "via crúcis" de exportadores e importadores começa no momento do pagamento das guias. O procedimento só pode ser feito pessoalmente em um dos guichês de cobranças do TCP, localizados no andar térreo do prédio da companhia. De acordo com as empresas, é comum haver fila de despachantes para realizar a tarefa, que pode consumir até uma manhã de trabalho.
"Existe fila de office-boys que precisam esperar até quatro horas para pagar a armazenagem dos importadores. Sem esse procedimento pré-histórico, de pagar a despesa na boca do caixa, ninguém retira sua carga do TCP", conta o diretor de uma empresa de exportação, que prefere não se identificar, com medo de represália. "É muita burocracia, muitos documentos que poderiam ser reduzidos", complementa.
A reportagem da Gazeta do Povo esteve no local e constatou a existência da fila e a burocracia no protocolo do terminal. Na ocasião, de seis caixas disponíveis, apenas dois atendiam o serviço de emissão de ordem de embarque. Quando um despachante tem mais de 20 contêineres para liberar, fato recorrente, o caixa fica quase que exclusivo para ele.
"É comum eu chegar aqui às sete da manhã e ser atendido só perto das nove horas. E às vezes, quando dá erro no sistema, o que é comum, saio daqui depois do meio-dia. Não deveria demorar tanto porque toda a tramitação já foi feita, a mercadoria já está liberada. É só carimbar a ordem de embarque e registrar no sistema", relata Lucas Batistel, da Duan Comércio Exterior.
Para o funcionário da Triasul Cleiton Cardoso, o tempo de espera poderia ser reduzido se houvesse mais agilidade e mais caixas para o atendimento. "Chego aqui sempre perto das 10 horas da manhã e às vezes saio depois do meio-dia e perco meu horário de almoço. Isso porque o atendimento está mais rápido. Antes das mudanças, eu chegava ao TCP no começo da tarde e saia apenas no início da noite. O atendimento demorava perto de cinco horas", conta.
Espaço
Outra reclamação é a falta de espaço para que a Receita Federal confira os contêineres que estão na categoria vermelha caso em que a carga (remédio, armamento e brinquedos, entre outros) é aberta para inspeção. Segundo as empresas, por causa da lotação no armazém do TCP, o tempo de espera pode ultrapassar 30 dias.
"A conferência depende de espaço no armazém, que sempre está lotado. O complicado é que não tem área para construir mais armazém", diz o representante de uma importadora.
De acordo com o TCP, o armazém de 12 mil metros quadrados é suficiente para atender à demanda e não há registro de problemas na vistoria por falta de espaço. Recentemente, a companhia comprou um segundo scanner, que vai facilitar o processo de conferência o contêiner será aberto somente em casos especiais. A previsão é de que a máquina comece a funcionar até o fim do ano.
Colaborou Oswaldo Eustáquio
Ao léuAbandono de carga tira espaço do terminal
A inexperiência e o amadorismo de alguns importadores e exportadores também acaba por gerar problemas de espaço no pátio do TCP. Quando o procedimento de liberação da carga não ocorre conforme o programado, geralmente por erro no preenchimento da documentação, o dono da mercadoria precisa pagar pela armazenagem. Dependendo do tempo, o custo ultrapassa o valor do conteúdo do contêiner e aí a carga é abandonada. "O abandono é uma exceção, mas ocorre, geralmente com o pessoal inexperiente", diz Juarez Moraes e Silva, diretor-superintendente do TCP.
Os dez primeiros dias do contêiner no pátio do terminal são isentos o que, segundo o TCP, só ocorre em Paranaguá. A partir do 11º é cobrada uma taxa diária sobre a armazenagem. E, a partir do 277º dia, a taxa passa a 50% do valor da carga.
De acordo com a empresa, hoje há cerca de 500 contêineres abandonados no terminal. "É um grande problema para nós por conta do espaço e para o armador, que é o dono do contêiner", diz o diretor. Após a constatação do abandono, a empresa precisa esperar os trâmites judiciários para que a carga seja levada a leilão pela Receita Federal. Assim, um contêiner pode levar anos para deixar o terminal.