A fusão com a Drogasil, em 2011, alavancou a familiar Droga Raia à liderança no segmento de farmácias no Brasil. Hoje a empresa, que é listada na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), surfa na onda de bons resultados seus; e no insucesso de um concorrente estrangeiro. A Raia Drogasil anunciou, na última terça-feira (26), a aquisição da Drogaria Onofre de controladores norte-americanos, impulsionando forte alta em suas ações.
As ações da companhia subiram 7,47% e fecharam cotadas a R$ 65,49. No ano, a alta acumulada é de 14,6%. O peso da companhia no Ibovespa, o principal índice acionário do país, é pequeno, 0,821%. A Raia Drogasil comprou a Onofre do grupo americano CVS. Os valores não foram divulgados.
Primeira aquisição fora dos Estados Unidos, a Onofre era a grande promessa da CVS, gigante que comanda mais de 7,5 mil lojas nos EUA. A expectativa era de crescimento na casa de dois dígitos. Na data do anúncio, em fevereiro de 2013, as ações da Raia Drogasil despencaram: queda de 4,9%.
Mas a realidade foi bem distante disso. Apesar de curta, a história da CVS pelo país teve seus percalços. Em 2016, começaram rumores nunca confirmados da tramitação de um processo na Justiça envolvendo a empresa e e os antigos donos da Onofre, a família Arede. Na época, a rede alegava irregularidades trabalhistas e dívidas fiscais acima do valor fornecido no momento da compra.
Modelo americanizado
Mas os desentendimentos, a priori, não impediram que a CVS mantivesse seus planos por aqui. Os primeiros anos desde a compra foram focados em extinção de lojas deficitárias. Posteriormente, começou a aplicação de um modelo de negócios mais americanizado, incluindo o atendimento médico nas lojas (a vacinação em farmácias passou a ser permitida no país em 2017). Nesta reestruturação, também ganhou espaço a frente que gerou o interesse da RD: a estratégia omnicanal.
Na contramão das demais redes farmacêuticas brasileiras, que seguiram focando em expansão física com a abertura de lojas, a Onofre manteve-se compacta (são 50 lojas em 3 estados), mas cada vez mais digital. A loja na esquina da avenida Pamplona com a Paulista, com robôs de estoque e self-checkout, é uma vitrine do futuro almejado pela rede. Mas o trunfo mesmo é a agilidade das compras online: qualquer produto encomendado pelo site da Onofre é entregue em até 4 horas na Grande São Paulo.
Transformação digital
Essa transformação, porém, não vinha trazendo resultados interessantes para a gigantesca CVS. No fato relevante sobre a aquisição, a RD divulgou que a Onofre registrou receita bruta de R$ 479,4 milhões em 2018, mas vinha operando no vermelho
Esta expertise de transformação digital, no entanto, deve ser bem aproveitada pela Raia Drogasil, que já conta com iniciativas próprias neste campo.
Segundo Marcílio Pousada, presidente da companhia, o canal de e-commerce da rede é um dos mais competitivos do setor, com preços mais agressivos do que os da concorrência.
“Compramos a Onofre por um preço competitivo. Sabemos que é um caso de ‘turnaround’ (virada), mas a Raia Drogasil tem o que aprender com o comércio eletrônico da Onofre”, disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo.
Manutenção da marca
A Raia Drogasil ainda não definiu se o grupo vai manter a marca Onofre ou se vai converter a bandeira para Raia. “Começamos a negociar recentemente e acabamos de fechar o negócio. Não deu tempo de pensar nesta estratégia”, afirmou Pousada. O executivo reconhece que as duas bandeiras têm sobreposição de lojas - mas ressalva que esse problema pode ser contornado.
“Se sobreposição fosse problema, não teríamos feito a fusão da Raia com Drogasil”, afirmou Eugênio De Zagottis, diretor de relações com investidores do grupo. A fusão da Raia com a Drogasil ocorreu em 2011. No mesmo ano, a Drogaria São Paulo se fundiu a com a rede Pacheco, criando a DPSP.
“A Onofre foi a primeira aquisição (de uma rede) pela Raia Drogasil desde a fusão. Antes, tínhamos comprado 27 lojas da Santa Marta, que estava em recuperação judicial”, afirmou Pousada. O grupo, segundo ele, vai continuar dando prioridade à expansão orgânica da rede.