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Líderes do G8 firmam novas metas climáticas

Encontro dos líderes mundiais nesta quarta-feira (8) na Itália | Jason  Reed - Reuters
Encontro dos líderes mundiais nesta quarta-feira (8) na Itália (Foto: Jason Reed - Reuters)

O G8 concordou nesta quarta-feira em tentar limitar o aumento do aquecimento global a 2 graus centígrados e cortar suas emissões de gases do efeito estufa em 80%, mas o grupo não conseguiu convencer a China e a Índia a apoiarem a proposta de reduzir as emissões mundiais pela metade.

Faltando apenas cinco meses para que seja definido um novo pacto climático da Organização das Nações Unidas, em uma conferência em Copenhague, organizações que lutam por mudanças climáticas afirmaram que o G8 deixou muito trabalho para ser feito e não enfrentou questões essenciais.

China e Índia não quiseram se comprometer com uma meta global de reduzir pela metade as emissões de gás do efeito estufa até 2050. Países em desenvolvimento exigiram que as nações ricas se comprometam com reduções maiores no curto prazo.

E apesar de a meta de 2 graus Celsius ter sido adotada pela primeira vez pelos Estados Unidos, Rússia, Japão e Canadá, a medida já havia sido endossada em 1996 pela União Europeia e seus membros que são parte do G8 (Alemanha, Grã-Bretanha, França e Itália).

O comunicado do G8 também não conseguiu estabelecer um ano base para a redução de 80 por cento -- alegando que a "comparação deve ser feita com 1990 ou anos mais recentes" -- , o que significa que a meta está aberta a interpretações.

"O mundo vai reconhecer que hoje na Itália nós estabelecemos as bases para que o acordo de Copenhague seja ambicioso, justo e eficaz", disse o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown.

A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, disse que o alvo de 2C, tendo como referência a época pré-industrial, é um "claro progresso" para o G8.

O G8 apoiou a criação de um mercado mundial de negociação de carbono e de um fundo financiado pelos países ricos para custear mudanças tecnológicas, mas o montante ficou aquém dos 100 bilhões de dólares por ano defendidos por Brown e por organizações não-governamentais.

"Apesar de terem concordado em evitar que o aumento da temperatura exceda 2 graus centígrados, se não houver um plano claro, dinheiro e metas para fazer isso os líderes do G8 podem não ter ajudado a quebrar o impasse nas negociações da ONU sobre o clima", disse Tobias Muenchmeyer, conselheiro político do Greenpeace International.

China, ausência crucial

As temperaturas já subiram cerca de 0,7 grau centígrado desde que a Revolução Industrial fez com que se alastrasse a queima de combustíveis fósseis, principal causa do aquecimento global, segundo o Painel de Clima da ONU.

Muitas nações em desenvolvimento também consideram 2 graus centígrados como o limiar além do qual as mudanças climáticas vão alcançar níveis perigosos, causando elevação dos mares e mais ondas de calor, inundações e secas.

A meta de elevação da temperatura iria ser incluída no comunicado do Fórum das Grandes Economias (MEF, na sigla em inglês), integrado por 17 países. Formado pelos membros do G8 mais as maiores economias em desenvolvimento, o fórum se reunirá na quinta-feira.

As conversações de última hora para convencer os membros do MEF a se comprometerem com a meta de redução de emissão de gases do efeito estufa em pelo menos 50 por cento até 2050 - adotada pelo G8 no ano passado - foram concluídas na terça-feira.

Delegados disseram que a ausência do líder chinês, Hu Jintao, que retornou a seu país para lidar com a violência étnica no oeste da China, acabou com as esperanças de um acordo.

"A China não está aqui, portanto, eles não podem ir a lugar nenhum; não haverá nenhum acordo amanhã no texto do MEF sobre os 50 por cento. Nós abordaremos isto novamente no G20, quando a China estiver presente", disse uma fonte europeia de alto escalão do G8 envolvida nas conversações.

Lula critica pressão de países ricos na área ambiental

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também criticou, ao final da reunião dos líderes do G-8, as pressões dos países ricos, que "responsabilizam os países pobres pela poluição do planeta", durante as negociações. "O primeiro compromisso que tem de ser assumido, se a gente quiser tratar a sério a questão climática, é os países ricos tomarem a decisão de diminuir a emissão do gás do efeito estufa", afirmou Lula.

"Os continentes mais pobres e, sobretudo, seus povos, têm direito de ter acesso a bens materiais tanto quanto os ricos já conquistaram. Nós não queremos ser cidadãos de segunda classe. Nós queremos subir para o andar de cima", afirmou. A crítica de Lula foi feita na sequência das afirmações do primeiro-ministro da Índia Manmohan Singh. Ele acentuou as divergências sobre as metas - camufladas ou especificadas - ao afirmar que o conceito de meio ambiente sustentável deve, obrigatoriamente, estar vinculado ao crescimento econômico e à elevação dos padrões de vida das populações dos países pobres e emergente.

Crise financeira

Também na reunião do dia, líderes confirmaram que apesar dos sinais de que as economias estão melhorando, os países ainda enfrentam riscos significativos na economia. Os líderes, que se reuniram nesta quarta-feira (8) na cidade de L'Aquila, recentemente atingida por um terremoto, para discussões que se iniciam com o assunto economia, prometeram "tomar todos os passos necessários para sustentar a demanda, restabelecer o crescimento e manter a estabilidade financeira", mas se mostraram cientes da situação das finanças públicas e prometeram começar a planejar a retirada das medidas adotadas para impulsionar as economias.

"Embora haja sinais de estabilização, incluindo recuperação das bolsas, declínio nos spreads de juro, melhora da confiança empresarial e do consumidor, a situação permanece incerta e riscos significativos à estabilidade financeira e econômica permanecem", afirmou o comunicado publicado no final do primeiro dia de encontro.

"Nós concordamos com a necessidade de preparar estratégias apropriadas para desfazer as políticas extraordinárias tomadas para responder à crise assim que a recuperação estiver assegurada", disseram os líderes em comunicado. "Essas estratégias vão variar de país para país, dependendo das condições econômicas domésticas e das finanças públicas."

No comunicado, os líderes do G8 também rejeitam qualquer tipo de protecionismo.

Ajuda à África

As potências mundiais também se comprometeram a respeitar as promessas de aumentar a ajuda pública ao desenvolvimento em favor da África e de destinar, junto "com outros doadores", US$ 25 bilhões por ano.

"Destacamos como é importante honrar os compromissos de aumentar a ajuda que havíamos tomado em Gleneagles (...). Para a África, será preciso que, junto a outros doadores, aumentemos a ajuda pública ao desenvolvimento em 25 bilhões de dólares por ano até 2010, em relação a 2004", segundo o texto de uma declaração sobre o "desenvolvimento e a África".

O G8 também destaca que vai "elaborar uma proposta relacionada aos princípios e a boas práticas do investimento agrícola internacional", levando em conta as compras em massa de terras nos países em desenvolvimento e, principalmente, na África.

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