Os parceiros europeus da Grã-Bretanha disseram nesta quarta-feira (23) ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, que o seu pedido de uma reforma radical da União Europeia e um referendo sobre a adesão britânica mostrou uma atitude egoísta e ignorante.
A França chegou a chamar de blefe da Grã-Bretanha e disse que o país era livre para sair. O ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, afirmou que tinha dito a uma recente reunião com empresários britânicos que "se a Grã-Bretanha quer sair da Europa, vamos estender o tapete vermelho para vocês".
Isso foi uma resposta a Cameron, que no ano passado usou a mesma frase para receber na Grã-Bretanha franceses ricos exilados fiscais.
Políticos da UE recorreram a metáforas culinárias e esportivas para desabafar a frustração com a promessa do primeiro-ministro de renegociar a adesão da Grã-Bretanha à União Europeia e colocá-la em votação popular se ele vencer a reeleição em 2015.
"Escolher cerejas não é uma opção", declarou o ministro de Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle. Dois ministros franceses acusaram Cameron de tratar a Europa como um menu "a la carte", no qual a Grã-Bretanha pensou que poderia escolher o que quisesse.
Na Alemanha, onde a simpatia conservadora da chanceler Angela Merkel pelo partido de Cameron é ofuscada pela irritação com a saída deles do bloco de centro-direita da UE e com o veto a seu pacto fiscal, a visão é de que o primeiro-ministro britânico se isolou.
Sem unanimidade
Guy Verhofstadt, ex-primeiro-ministro belga e agora líder dos liberais no Parlamento Europeu, disse que o primeiro-ministro britânico estava "brincando com fogo" ao tentar renegociar a adesão da Grã-Bretanha à UE e colocá-la em votação.
"Seu discurso estava cheio de inconsistências, exibindo um grau de ignorância sobre a forma como a UE funciona", declarou Verhofstadt.
Verhofstadt e outros disseram que poderia não haver "nenhuma dúvida" sobre conceder à Grã-Bretanha opções de exclusão das regras e regulamentos comuns europeus, afirmando que isso poderia precipitar um desfecho da UE e de seu mercado interno.
O alarme não se limita a Europa. A Grã-Bretanha também foi advertida pela Casa Branca e por uma série de líderes empresariais de que perderia influência global se deixasse a UE.
"No contexto mais amplo da história, a Europa é um enorme sucesso e uma Europa com a Grã-Bretanha nela é muito mais poderosa e importante do que sem ela", disse Joseph Nye, um ex-funcionário do Departamento de Defesa dos EUA e professor em Harvard.
Mas a resposta ao discurso de Cameron há muito esperado não foi uniformemente negativa. O ministro europeu da Finlândia, Alex Stubb, disse que não achava que Cameron queria sair da UE.
"Ele quer encerrar essa discussão e esclarecer a posição da Grã-Bretanha na UE de uma vez por todas. Nesse sentido, eu respeito a sua linha", afirmou ele.
O primeiro-ministro tcheco, Petr Necas, cujo governo foi o único além da Grã-Bretanha a não assinar o pacto fiscal da UE, disse em entrevista coletiva: "Nós compartilhamos a visão com a Grã-Bretanha de que a Europa deve ser mais flexível, mais aberta, deve se esforçar mais pela confiança entre os seus cidadãos.".
"Nós não temos nenhum interesse na saída britânica da União Europeia, ao contrário, temos interesse em um futuro europeu para a Grã-Bretanha."
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