Nesta terça-feira (16), o bitcoin caiu quase 20%, recuando para menos de US$ 12 mil, o nível mais baixo em mais de um mês, segundo dados do CoinDesk, plataforma especializada na indústria de criptomoedas. Outras criptomoedas, aliás, também registraram perdas, entre elas ethereum e ripple.
Os motivos para a queda não são tão claros, ainda mais para um mercado tão novo como o das moedas digitais, mas alguns investidores e especialistas já tinham alertado que isso poderia acontecer neste mês de janeiro.
Entre eles, o professor do MBA em Marketing Digital da FGV e entusiasta das criptomoedas Andre Micelli. Questões estruturais, como os custos de garimpagem e as incertezas regulatórias, em torno da moeda, segundo ele, já sinalizavam que, uma hora ou outra, esse tipo de variação ocorreria.
Há ainda questões pontuais, que começaram no início desta semana com as manifestações de autoridades chinesas sobre limitar as transações com as criptomoedas, ameaçando, inclusive, interromper os negócios do setor. A informação, segundo a Reuters, consta de um memorando interno de uma reunião do governo chinês ao qual a agência de notícias teve acesso.
Micelli também diz que o pedido de falência da principal corretora de moedas digitais da Coreia do Sul, a Youbit, em dezembro, devido ao roubo de unidades por parte de harckers, também ajudou a jogar lenha na fogueira. Segundo ele, parte dos investidores não conseguiu retirar a totalidade do que tinha na plataforma, o que gerou um clima forte de desconfiança. “E isso é o pior que pode acontecer num mercado intangível como este”.
A própria Coreia do Sul teria proibido a criação de contas anônimas para a transação dessas moedas, algo comum até então, dando sinais de que novas medidas podem aparecer num futuro próximo. Segundo o Infomoney, o ministro da economia do país, Kim Dong-yeon, disse em entrevista a uma estação de rádio local que o governo já está trabalhando em medidas para conter a “irracionalidade” motivada pelas criptomoedas.
O receio dos investidores aparece nas negociações do mercado futuro da moeda digital. Os contratos futuros estão sendo negociados abaixo da média global do bitcoin calculada pelo CoinMarketCap, segundo o site especializado Guia do Bitcoin.
O que fazer neste cenário
Investidores na China, Coreia do Sul e Japão, que são os países mais importantes para a moeda, estariam esperando as incertezas regulatórias passar para voltar a fazer transações. Quem tinha muitas unidades pode ter se assustado com a movimentação ou mesmo aproveitado para vender algumas posições e ainda ganhar com isso.
Outros mais otimistas viram na queda a oportunidade para começar a investir no bitcoin ou mesmo aumentar sua carteira, acreditando que essas oscilações são normais e que o investimento vale a pena.
Por ora, o recado geral de Micelli é esperar. “Sabemos que este será um ano difícil para as criptomoedas e é importante, então, que cada um faça a sua leitura sobre o tema. Não dá para ir nem para o lado de que tudo isso é a bolha que está derretendo e nem para o lado do ‘fique tranquilo’ que o bitcoin vai subir de novo. Existe uma discussão séria em andamento e várias possibilidades à frente. (...) Não tome nenhuma decisão impulsiva agora”, diz Micelli.
No meio de dezembro, o bitcoin chegou a bater os US$ 20 mil e começou a ser comercializado no mercado futuro. Alguns investidores e especialistas disseram, à epoca, que, assim como aconteceu em 2014, quando a criptomoeda subiu mais de 80 vezes, uma “correção”, de algum tipo, era esperada para os meses seguintes, possivelmente já em janeiro.
Para quem entrou na onda há pouco tempo, isso só prova que as criptomoedas são mesmo uma classe de ativos com muito mais risco que investimentos tradicionais e que é preciso ter sangue frio para se aventurar na área. Esse foi o recado que o especialista em criptomoedas do grupo XP Investimentos, Fernando Ulrich, deu em entrevista ao Infomoney na tarde desta terça-feira (16).
Lançado em 2009 por Satoshi Nakamoto, pseudônimo do criador — ou criadores — do bitcoin, ela é a mais popular entre as criptomoedas, ou moedas digitais. É um setor sem regulação própria, em que a valorização ocorre em razão do volume de usuários e do dinheiro disponível, apenas.