Se o mercado de trabalho já está difícil para quem tem qualificação e experiência de sobra no currículo, a situação é ainda pior para aqueles que estão em busca da primeira oportunidade para estrear na vida profissional.
INFOGRÁFICO: Números do impacto da crise no primeiro emprego
A contratação de iniciantes no Brasil caiu 54,4% no acumulado de janeiro a agosto de 2017 ante o mesmo período de 2010, mais do que o dobro do recuo registrado na contratação de quem já teve outros trabalhos com carteira assinada (o chamado reemprego), que foi de 20,5%, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.
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“A gente sabe que o primeiro emprego não é fácil em qualquer momento. Na crise, em particular, temos de considerar que o ambiente macroeconômico que estamos vivendo e o PIB menor significam menos produção. Isso se reflete na quantidade de desempregados”, aponta o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adilson Volpi.
O primeiro emprego passou a representar uma fatia menor no total de contratações, com uma queda de 5,8 pontos percentuais no mesmo período. No Paraná, o impacto foi ligeiramente menor: a participação do primeiro emprego no total de admissões caiu de 13,3%, em 2010, para 8,9%, em 2017.
Para a coordenadora da intermediação de mão de obra da Secretaria da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos do Paraná, Angela Carstens, responsável pelas Agências do Trabalhador no estado, a explicação para essa queda está na diminuição da abertura de novas vagas e também no excesso de profissionais no mercado. Simplesmente, não há espaço para quem está começando.
Assim como no Brasil, no Paraná os setores com maior redução na contratação de iniciantes no acumulado de janeiro a agosto de 2017 ante o mesmo período de 2010 foram a Construção Civil (-55,1%) e a Indústria (-54,7%). Mesmo com uma queda alta, de -42,3%, o setor Serviços foi a área em que as admissões do primeiro emprego menos recuaram.
Está barato contratar quem tem experiência
Num cenário de desemprego generalizado, fica ainda mais difícil transpor o obstáculo de um currículo sem experiências profissionais. De acordo com Angela, como o jovem profissional tem mais dificuldade de ingresso pela falta de prática, se um recrutador precisa escolher entre um iniciante e alguém mais experiente, vai ficar com a segunda opção.
“Muitas pessoas competentes e valiosas estão desempregadas e 2017 ainda é um momento de uma tênue retomada do crescimento”, explica Volpi. “As empresas que tentam aproveitar esse crescimento estão apenas repondo as posições que perderam e têm uma oportunidade grande de contratar gente competente e com experiência”, acrescenta.
Com uma exigência maior na hora da contratação, os estreantes na vida profissional sentiram o baque. Por um lado, as grande empresas ficam mais seletivas na hora de escolher talentos. Por outro, as médias e pequenas empresas acabam optando pela abertura de vagas temporárias pela incerteza em relação à melhora da economia.
Para quem está em busca do primeiro emprego, a mudança neste quadro depende, sobretudo, da retomada do crescimento. É preciso, primeiro, que seja suprida a capacidade ociosa das empresas, preenchendo novamente as vagas que foram extintas por causa da recessão. Isso pode impulsionar uma recuperação mais rápida, já que as organizações já têm uma estrutura pronta para receber esses trabalhadores – só precisam que volte a haver demanda para produzir, vender e, consequentemente, contratar.
Como se destacar na busca pelo primeiro emprego
Mesmo diante de um mercado de trabalho mais competitivo, e com pouco experiência, é possível driblar a fila do desemprego. Elaborar um currículo honesto é o primeiro passo.
“Se você é um jovem que está buscando o primeiro emprego, tem que ficar muito claro que tudo que você fez até hoje, você fez bem”, aconselha Volpi. Uma dica é dar ênfase ao desempenho acadêmico, quais os aspectos abordados durante os estudos, se fez estágio ou se houve preocupação em aprender uma segunda língua. Também vale acrescentar experiências com trabalho voluntário, que demonstram comprometimento e podem atestar competências como liderança, criatividade para lidar com imprevistos e habilidade para trabalhar em equipe.
O professor destaca, ainda, a importância de ter uma rede de relacionamentos que possa auxiliar na inserção no mercado. Nessa conta entram não apenas colegas e professores, mas também amigos e familiares.
“Se a gente pensar que as pequenas e médias empresas são as maiores contratantes em volume no Brasil e são empresas que precisam de gente em que elas possam confiar, então a indicação é muito importante”, avalia.
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