No Brasil o home office ainda é uma alternativa muito incipiente, principalmente na vertente do empreendedorismo, mas muitas pessoas encontram as vantagens em trabalhar nesse sistema. A tecnologia permite que profissionais de diversas áreas de conhecimento montem o próprio escritório ou fábrica dentro de casa. Algumas são mais comuns, como artesanato, vendas, criativas (fotógrafo, jornalista, designer), gestão de e-commerce e promoção de festas, e outras inovadoras, como advocacia e telemedicina (atendimento por videoconferência).
O baixo custo é uma das vantagens de ter um home office. É possível economizar com aluguel, transporte e alimentação e dividir despesas de energia elétrica e internet com as da casa. Como a fatura será a mesma, a dica é fazer um cálculo inicial de 50% para cada e com tempo avaliar qual demanda mais gastos. “Dessa maneira é possível por em prática uma ideia com investimento praticamente zero ou ainda testar ideias, principalmente em áreas que não demandam uma formação específica”, afirma o designer e especialista em trabalho remoto André Brik, criador do portal Go Home.
Autor de seis livros no segmento – entre os quais 130 Ideias de Negócios para Trabalhar em Casa, ele desfruta das vantagens de empreender trabalhando em casa há 15 anos e não abre mão da qualidade de vida que conquistou por nada. Em 2003, Brik pediu demissão da agência de publicidade onde cumpria expediente, em Curitiba, em busca de independência. A ideia era trabalhar provisoriamente em casa até fixar-se em um endereço comercial próprio, mas começou a perceber as vantagens do home office, principalmente em relação aos clientes. “Para eles pouco importava de onde eu realizava as atividades, mas sim cumprimento de prazos e entrega de resultados.”
Na época ainda não existia nada sobre trabalho remoto em português e o designer começou a criar um dossiê traduzindo livros. “Com o material compilado resolvi disponibilizá-lo online para ajudar outras pessoas que buscam seguir esse mesmo caminho e atualmente o portal recebe cerca de 50 mil visitas ao mês.” A maioria das pessoas, porém, ainda busca dicas de vagas de home office atreladas a um contrato de emprego, pela garantia do salário. O foco empreendedor é de cerca de 20% dos interessados.
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Apesar do teletrabalho existir há cerca de 20 anos no Brasil, tem muito espaço ainda para crescer por conta das facilidades tecnológicas. O termo home office, para alguns, ainda é pejorativo, de algo menos profissional, apesar de 54% dos brasileiros considerarem que são mais produtivos. É o que mostra um estudo Global Evolving Workforce, realizado pela Intel e pela Dell. A pesquisa aponta que entre os profissionais do Brasil que trabalham de casa, 49% sentem menos estresse, 45% dirigem menos, 33% dormem mais e 52% têm mais tempo para a família.
Estabelecer horário de expediente e tempo para socializar
Algumas atitudes são importantes quando há o interesse em trabalhar em home office. Estabelecer horários é fundamental, recomenda o consultor do Sebrae Rafael Tortato. “A jornada deve ter horário para começar e terminar, sem esquecer de intervalos e horário de almoço, para não se tornar pesada. E, claro, dentro dessa rotina é possível flexibilizar sempre que necessário”, diz. Separar um espaço específico para trabalhar, como um quarto exclusivo ou um cantinho especialmente preparado ajudará a render mais.
Outra dica é ter um ritual como se fosse realmente sair de casa para ir a outro local para trabalhar, como tomar banho, maquiar-se, vestir-se – inclusive calçar os sapatos. “Em casa temos muitas tentações, como tevê, sofá e geladeira. A organização e a disciplina contribuem com a produtividade. Quanto mais distante da rotina melhor.”
O publicitário André Secundino trabalhou durante 15 anos em uma agência de publicidade e partiu para a carreira de freelancer. Foram cinco anos prestando serviços para várias empresas. Há cinco anos o escritório é em casa. Para ele, ter tempo para socializar fora de casa é uma das tarefas mais desafiadoras. “Enquanto freelancer tinha tempo de prospectar e circular mais. Mas os clientes passaram a demandar muito trabalho e ficou mais difícil. O relacionamento acaba sendo mais por telefone, e-mails e mensagens”, conta.
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Para Tortato, apesar de o trabalho remoto ter grandes facilitadores, é perigoso estar muito retirado. “Quem atua em home office precisa criar situações para interagir vez ou outra. É importante conversar, marcar reunião em uma cafeteria, participar de eventos, para não isolar-se do mercado.”
Profissional organiza a vida das pessoas virtualmente
Deisiane Zortea Kuckla é secretária remota em Curitiba desde 2011 e consegue atender de oito a 12 clientes, conforme demanda. O pacote de serviços contempla trabalho de secretariado, administrativo e até RH e financeiro, como contas a pagar, prospecção, contratação, agenda e orçamentos. Ela é pioneira neste segmento e atende os clientes em seu home office. Com espírito empreendedor, percebeu a oportunidade enquanto atuava em regime CLT, como assessora administrativa. “Trabalhava com muitos profissionais liberais e percebia a necessidade do mercado de uma secretária sob demanda. Mas, ao pesquisar sobre como oferecer o serviço, não encontrei nada de informação no Brasil. Decidi então arriscar e criei o negócio.”
Em cinco meses, Deisiane pediu desligamento da empresa, registrou o MEI e abriu a D. Zortéa Secretariado Remoto. A adaptação foi fácil. Deisiane manteve o horário de expediente que realizava, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h. “Procurei seguir a mesma rotina para manter a disciplina. Inclusive pela manhã, meu ritual de virar a chave é tirar o pijama e vestir a roupa para trabalhar, após tomar o café da manhã.” Ela decidiu ir além, de ajudar outras pessoas a investirem no ramo. Desde 2016, a profissional oferece treinamento em sistema de franquia. “Passo toda a base aos franqueados, de como fazer papelaria, site, propostas, enfim, com o máximo nível de excelência.”
A secretária remota valoriza a flexibilidade de horários quando necessário e comemora não ter de enfrentar o trânsito diariamente e poder preparar as próprias refeições, além de economizar com elas. Também não abre mão de hobbies para espairecer, já que não tem a rotina de sair de casa todos os dias. “O home office acaba nos isolando da vida social”, diz. Para equilibrar, ela costuma fazer atividades como caminhar, escalar montanhas, jogar vôlei, meditar ou fazer artesanato, além da academia de duas a três vezes na semana. “E para socializar, como não recebo clientes no home office, gosto de marcar reuniões em locais externos, como em um café.”
Veja mais algumas dicas de organização para trabalhar em home office
Tenha bem definida a atividade exercer, que seja de sua vocação ou para um mercado com demanda
Crie um site e cartões de visita (nem sempre você estará efetivamente em casa)
Aprenda a prospectar clientes
Espaço inteiro, que seja uma área bem específica, como uma escrivaninha.
Converse com a família e explique como funcionará seu dia a dia. Ela precisa estar preparada para saber que estará presente diariamente, mas que não estará disponível.
Quem tem filho pequeno tem como alternativa criar sinais que façam com que ele assimile a hora em que o pai ou a mãe está disponível. Por exemplo, usar tag na porta do escritório em casa (como as usadas em hotéis), com desenhos que indicam se a pessoa está ocupada ou disponível. Ou, ainda, colocar os óculos somente nos momentos de trabalho. Assim a criança entende que, quando a mamãe ou o papai está usando o acessório, não é hora de brincar.
Em caso de bebês que demandam atenção integral, conte com a ajuda de outra pessoa, como se tivesse que sair para trabalhar, como uma babá, tia/tio ou avó/avô.
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