A fábrica da montadora francesa Renault, às margens da BR-277, na região de Curitiba, nem tinha saído do papel quando o paulista Luiz Fernando Pedrucci foi contratado pela multinacional, em 1997. Ao pedir dispensa do seu emprego para assumir o novo cargo na Renault, ouviu um conselho do presidente da empresa. “Você tem muito potencial e ficou aqui com a gente um ano. Vá atrás do seu sonho, mas não mude muito de emprego.”
Mesmo sem imaginar, Pedrucci seguiu à risca o conselho do ex-chefe. Tanto que a sua trajetória profissional se confunde com a própria história da Renault no Brasil. Neste ano, ele completa 21 anos na Renault e a Renault comemora 20 anos no Brasil, com cerca de 7 mil funcionários. Pedrucci tinha apenas um ano de formado em Engenharia Mecânica Automobilística quando entrou na montadora para atuar como representante de pós-vendas. Pasta embaixo do braço, ele rodou um pedaço do país para “vender a ideia da Renault no Brasil”, em busca de interessados em abrir concessionárias da marca.
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Desde então, ele passou por 10 cargos diferentes em cinco cidades. A cada dois anos, em média, era convidado a assumir um novo projeto. Foi supervisor, gerente e diretor em diferentes áreas da companhia antes de ser chamado para assumir a presidência da Renault na Colômbia, em janeiro de 2016. Sob o seu comando, a subsidiária obteve recordes de vendas e participação no mercado colombiano.
“Eu não precisei trocar de empresa porque a empresa sempre mudou aquilo que eu fazia, me tirou da minha zona de conforto. A Renault me dava um desafio, eu entregava os resultados e, então, ganhava outro desafio. Essa construção escalonada é importante porque te dá base para uma trajetória profissional sólida”, contou o executivo em entrevista à Gazeta do Povo durante o evento “Estrelas ADVB” de maio, promovido pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) – seção Paraná.
Cria da casa, Pedrucci chegou à presidência em 2017
Em 20 anos de Renault no Brasil, Pedrucci é o primeiro brasileiro a assumir a presidência da multinacional no Brasil. Mais importante do que isso, argumenta ele, é o fato de ele ser o primeiro brasileiro formado na empresa a assumir a cadeira da presidência da subsidiária brasileira. A multinacional poderia ter ido ao mercado buscar um profissional com gabarito para assumir a função e, certamente, sobrariam boas opções. Mas preferiu um profissional forjado internamente, com conhecimento global do negócio.
Para o executivo, isso diz muito sobre a cultura francesa da empresa e como ela valoriza os seus profissionais. A Renault se importa com a opinião das pessoas, dando voz para que elas falem e oportunidades para que se desenvolvam. Foi assim com Petrucci e é assim com todos, garante ele. Não é à toa que muitos sonham com um cargo na multinacional.
“A Renault me preparou para chegar até aqui, mas eu não cheguei sozinho. Ninguém faz isso sozinho”, reconhece o executivo, referindo-se a todas as pessoas (pais, chefes e colegas) que contribuíram para o profissional que ele é hoje. “Você pode ter ideias e ser o cara mais inteligente da empresa, mas sem uma boa equipe você não faz nada”, diz Pedrucci, pai de três filhos e corinthiano apaixonado.
É de um ex-chefe, aliás, o francês Christian Pouillaude, uma frase que marcou Pedrucci e se tornou um ponto forte de sua gestão à frente da Renault no Brasil: “Exigência é um sinal de respeito. Você só cobra de quem realmente acredita”.
Foco para transformar ideias em ação
Sob o comando do executivo, a Renault assumiu, em abril deste ano, a quarta posição em vendas no Brasil. Graças ao bom desempenho do subcompacto Kwid, a montadora francesa abocanhou uma fatia de quase 10% do mercado, marca que estava prevista para 2022. O desafio agora é consolidar a posição. Para o executivo, uma das formas de fazer isso é estar atento aos sinais do mercado. E a Renault está.
“70% das pré-vendas do Kwid foram feitas pelo celular. Isso nos deu uma mensagem”, conta Pedrucci. “Cheguei para a minha equipe e disse: eu tenho um sonho, vocês têm um problema”, brinca ele. O desafio era criar uma plataforma de venda do Kwid 100% digital, especialmente para celular, que permitisse ao cliente fazer tudo pela internet: escolha do modelo, pré-avaliação do usado e financiamento, neste caso, pelo Banco Renault.
Menos de 60 dias depois, em janeiro deste ano, a Renault lançava a K-Commerce, uma plataforma completa de venda do Kwid pelo celular em que o cliente só precisa ir à concessionária para buscar o carro. Cinquenta e três profissionais de três países participaram do projeto.
Antes de entrar na Renault, quando ainda trabalhava como engenheiro de vendas, ele tinha três objetivos: queria trabalhar numa montadora, queria um tipo de trabalho que lhe permitisse viajar e conhecer o Brasil, e queria assumir um posto de gestão até os 30 anos. Em sua terceira passagem por Curitiba, Pedrucci acredita que o profissional que tem foco vai longe. Ele próprio é a prova disso.