Mais de 15 mil pessoas já se organizavam em grupos de estudo no Facebook antes mesmo que o Ministério Extraordinário da Segurança Pública autorizasse, no último dia 20 de abril, o concurso da Polícia Federal (PF) para preencher 500 vagas imediatas. A corporação vive uma fase de alta credibilidade junto ao público devido a operações com grande repercussão positiva, especialmente a Lava Jato. Uma pesquisa divulgada pelo Ibope no ano passado apontou que a confiança dos brasileiros na Polícia Federal chegou a 70% em 2016.
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De acordo com o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Luiz Domingos Costa, a credibilidade da Polícia Federal começou na forma como ela foi criada. “Foi gestada, criada pela Constituição de 1988, sendo uma polícia ligada ao governo Federal, blindada, que não passa pelas ingerências e pelas oligarquias políticas. Avançou no seu reconhecimento público do prestígio junto com a população depois da Lava Jato”, afirma.
O especialista explica que a instituição se fortalece a cada operação de sucesso: “O volume de recursos, a autonomia da carreira dos policiais; tudo isso contribuiu para que ela se fortalecesse, o que vai desaguar na Lava Jato e em outras operações e vira um ciclo virtuoso: mais autonomia institucional, mais possibilidade de fazer as investigações sem ingerência politica, maior projeção e mais credibilidade. Isso atrai os candidatos interessados em concurso público”.
A advogada e empresária Bruna de Paula Costa vai participar do concurso concorrendo para as vagas de agente e escrivã. “É uma vontade que eu tenho desde que entrei na faculdade de Direito, em 2012, quando aconteciam outras operações, tão importantes quanto a Lava Jato”, diz.
Para Bruna, não são apenas os altos salários e a projeção de carreira que atraem o interesse de tanta gente no concurso, mas também a vontade de fazer parte de uma instituição reconhecida pelo combate à corrupção. “Uma parcela da população pode se sentir inspirada a participar disso, por conta da exposição muito grande que a instituição vem tendo”, analisa. “Algumas pessoas veem, por exemplo, que a Polícia Federal é um baluarte contra a corrupção”, completa.
Condições
O analista em Tecnologia da Informação André*, que pediu para ter sua identidade não revelada pela reportagem, já prestou concursos para tribunais diversos, para a Polícia Científica e, além de uma vaga de perito na PF, vai tentar o concurso do Ministério Público da União (MPU). “A vaga na PF me atraiu pelo salário, carreira e possibilidade de desenvolvimento na área, que tenho interesse em me aprofundar. Considero interessantes as contra crimes cibernéticos”, afirma.
O professor de educação física Matheus Bertoncini já prestou outros três concursos, foi aprovado em um, mas não chegou a ser convocado. Desta vez, vai tentar a vaga de agente da PF. “Penso em ser policial desde o primeiro ano do ensino médio, independentemente de ser PM, Policial Civil ou Federal. Acredito que a Federal é a mais eficaz contra os crimes que combate e não tem como falar que a Lava Jato não chama a atenção”, diz.
Luiz Domingos Costa, da PUCPR, também acredita que a Polícia Federal não fez da Lava Jato uma vitrine de forma intencional. “O fortalecimento e a atração pública que ela chama para si é uma parte da história, é um efeito não planejado e não previsto de uma história bem sucedida naquilo que se propõe”.
Salários vão de R$ 12 mil a R$ 23 mil
Serão selecionados 180 agentes, 150 delegados, 80 escrivães, 60 peritos e 30 papiloscopistas com salários entre R$ 12 mil e R$ 23 mil. Todos os candidatos precisam ter formação superior. Em alguns dos casos, como para delegados, é necessária formação específica.
De acordo com a especialista em concursos Thais Nunes, o processo seletivo tem alto nível de dificuldade. “Não se trata apenas de testar a capacidade intelectual do candidato. Para se tornar um policial federal é necessário ser aprovado em várias etapas de um concurso que começa com a prova objetiva e termina no curso de formação profissional, este de caráter classificatório e eliminatório”, explica.
Se o atual concurso seguir o padrão dos últimos aplicados, o prazo entre a publicação do edital e a data da prova escrita é de cerca de dois meses. Segundo Thais, o período é insuficiente para iniciar os estudos. “O ideal é iniciar pelo menos um ano antes do edital ser publicado, estudando seis dias por semana, mesmo que seja por apenas duas ou três horas. Estudar para concurso público não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. O que permite a aprendizagem de tantas matérias diferentes é a regularidade nos estudos”, orienta.
O edital com a data da prova e demais regras do concurso tem o prazo de seis meses para ser publicado. A instituição organizadora do processo seletivo ainda não foi definida.