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expatriação

Ser transferido para outro país não é só para os chefes. Mas também não é moleza

De acordo com a pesquisa Mobility Brasil 2017, até agosto do ano passado havia quase 4,5 mil expatriados brasileiros trabalhando no exterior . | Bigstock/
De acordo com a pesquisa Mobility Brasil 2017, até agosto do ano passado havia quase 4,5 mil expatriados brasileiros trabalhando no exterior . (Foto: Bigstock/)

Trabalhar no exterior é o sonho de muitos brasileiros. Melhor ainda quando essa oportunidade é oferecida pela empresa por meio da chamada expatriação, quando as companhias bancam a transferência de colaboradores e suas famílias para sedes em outros países. A verdade é que ser expatriado é um desejo de muitos profissionais, mas um privilégio de poucos. Além da concorrência, a empreitada exige qualificação e capacidade de se adaptar.

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De acordo com a pesquisa Mobility Brasil 2017, realizada pelas empresas Worldwide ERC e Global Line, até agosto do ano passado havia quase 4,5 mil expatriados brasileiros trabalhando no exterior. O que motiva esse fluxo é basicamente o intercâmbio com profissionais de fora, a incorporação de novas técnicas e conhecimentos.

“É um ganho dos dois lados. O funcionário volta com uma bagagem suplementar pessoal e profissional, que seguramente vai garantir um melhor desempenho”, afirma João Marques, presidente da EMDOC, empresa que há 33 anos atua no assessoramento de transferências de trabalhadores para o exterior.

A jornalista Cristina Kapp abraçou essa oportunidade há três anos. No final de 2014, quando exercia o cargo de coordenadora de comunicação na área industrial da multinacional Volvo em Curitiba, ela recebeu um convite para trabalhar na sede da empresa em Gotemburgo, na Suécia. Após passar por várias entrevistas, foi selecionada para o cargo.

“Passaram-se então aqueles difíceis três ou quatro meses de preparação que requerem muita energia do expatriado no que se refere a papéis e burocracias para se viver em outro país, mesmo com todo o suporte oferecido pela empresa”, conta.

Esse suporte varia conforme a empresa, mas, na maioria dos casos, inclui moradia, escola para os filhos, curso de línguas e passagens para visitar os familiares no Brasil. “Além disso, a Volvo mantém um profissional de RH dedicado exclusivamente para dar suporte a empregados em regime de expatriação, cuidando de todos esses detalhes para que a experiência ocorra de forma plenamente positiva”, diz Sérgio Pavarin, gerente de Recursos Humanos da empresa, que atualmente conta com 75 profissionais atuando em unidades no exterior.

Concorrência é alta

Quando se trata da remuneração oferecida aos profissionais, a pesquisa da Mobility Brasil indica que a maior parte das empresas utiliza o ajuste da remuneração pelo custo de vida no destino, reajustando o salário conforme as necessidades no novo país. Para as empresas, por sua vez, a transferência custa, em média, duas vezes e meia o valor de um trabalhador local na mesma função.

Não é à toa, portanto, que a concorrência para ser expatriado costuma ser grande. Diante de um custo maior para manter o profissional fora da sua base, é natural que a empresa escolha pessoas qualificadas nas quais realmente aposta dentro do negócio. Quem sonha com a expatriação precisa estar atento se está correspondendo ao perfil de profissional que a companhia valoriza.

Além disso, a expatriação vem em um movimento de queda nos últimos anos, em razão principalmente da crise econômica. A Mobility Brasil aponta uma queda de 9% na quantidade de expatriados entre 2016 e 2017. Segundo João Marques, há outro fator que contribui para esses números: a taxação pela transferência internacional de trabalhadores, regulamentada há dez anos. “Isso inibiu as transferências a médio e longo prazo, pois passou a representar um custo alto para as empresas”, explica.

Adaptação da família é uma pedra no sapato

Ainda que seja atrativo, mudar de país tem seus riscos, especialmente quando o trabalhador embarca com a família. “Na maioria das vezes em que a transferência não é bem-sucedida, isso se deve à dificuldade de adaptação da família. O empregado passa a maior parte do tempo no ambiente de trabalho, para ele é mais fácil. Já o cônjuge pode se sentir mais isolado e sofrer mais para se adaptar”, observa João Marques.

No caso de Cristina, não houve esse problema, já que ela era solteira e se mudou sozinha. O que não quer dizer que tenha sido uma decisão fácil.

“Meus laços familiares sempre foram muito fortes e este foi um dos lados que mais pesou. E, sinceramente, nunca havia considerado viver na Suécia, pois sempre achei um país muito frio, apesar de super organizado e justo. Mas pensei: quantas vezes vou ter esta oportunidade na vida? Tem horas que você precisa simplesmente fechar os olhos e se jogar.”

Apesar das dificuldades com o frio, a língua e de estar sozinha, a jornalista não se arrepende da escolha. “O fato de somar as experiências no Brasil e agora na Suécia, além de trabalhar com diversas culturas no meu cargo atual, me proporcionam uma visão de mundo, de relações humanas e de negócio que não tem preço”, diz. Ela ainda não sabe quando, mas pretende retornar ao Brasil para aplicar a experiência adquirida no exterior. “Acho que essa é a lógica da expatriação: receber confiança e trazer conhecimento em troca.”

Para a empresa, um investimento que também vale a pena. “É uma experiência que estimula o empregado a pensar e desenvolver um plano individual de carreira, considerando as necessidades e expectativas da empresa, bem como as habilidades e talentos individuais”, diz Sérgio Pavarin.

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