Apenas um quarto dos trabalhadores brasileiros conseguiu estudar o bastante para ganhar acima da média nacional, apesar dos avanços no número de universitários nos últimos anos. Um levantamento feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que é preciso ter pelo menos 12 anos de estudos – o equivalente ao ensino superior incompleto - para conseguir ganhar mais que os R$ 2.196, como a média dos trabalhadores recebe por mês.
De 2012 para cá, o porcentual de trabalhadores que completaram a educação superior, de fato, aumentou – eram 13,3% do total há seis anos e agora passam de 18%. A maioria dos brasileiros no mercado de trabalho (38,6%), porém, estudou até o ensino médio.
Todos aqueles que nem começaram uma faculdade chegam a 73,5% da força de trabalho, segundo os números da Pnad, compilados pela consultoria IDados. O estudo mostra, ainda, que a renda real, já descontada a inflação, caiu até 11% nas principais faixas de formação, entre 2012 e 2018.
“De certa maneira, o que foi feito em termos de educação pelos governos até agora só atacou parte do problema. A formação brasileira ainda é de baixa qualidade e há um elevado índice de evasão do ensino médio em diante. Isso acaba se refletindo na qualidade de vagas que são criadas no mercado de trabalho e na remuneração”, diz o economista Bruno Ottoni, pesquisador do Idados.
Ao mesmo tempo que os rendimentos dos trabalhadores com menor instrução é metade da média nacional, os mesmos dados também apontam que, apenas concluir a graduação pode mais que dobrar o rendimento do trabalhador.
Ricardo Rocha, de 25 anos, é um exemplo disso. Formado em administração de empresas, com uma bolsa de estudos, ele chegou a trabalhar em um supermercado para ajudar a mãe, que é empregada doméstica. Depois de formado, ele conseguiu uma colocação melhor na área administrativa de um banco em São Paulo. É o primeiro da família a ter um diploma universitário.
“A oportunidade maior veio depois da faculdade. Por mais que os últimos anos tenham sido difíceis para o mercado de trabalho, para mim, eles representaram um novo patamar de oportunidades. Antes, as funções serviam para pagar as contas. Agora, muitas oportunidades se abriram para mim.”
A irmã mais velha de Rocha chegou a interromper os estudos. “Com esforço, ela conseguiu concluir a faculdade depois também. A nossa família nunca teve muitos bens, mas sempre acreditou que era preciso aproveitar as oportunidades para ir mais longe.”
Evasão ainda é obstáculo
Nos anos de crise, muitos brasileiros não tiveram a mesma sorte e foram obrigados a adiar a conquista do diploma. Uma reportagem publicada pelo Estado, em maio, apontava que 170 mil jovens, de 19 a 25 anos, haviam abandonado a faculdade em 2017 – o aumento da evasão foi o maior desde o início da Pnad, há seis anos, segundo a consultoria LCA.
Os reflexos de se interromper a formação ainda deve ser sentido nos próximos anos, avalia o economista Sergio Firpo, do Insper. Ele lembra que os jovens vindos de família com renda mais baixa foram justamente os mais afetados durante a crise. “Quando o chefe do domicílio perdeu o emprego, alguns desses jovens foram obrigados a entrar no mercado de trabalho mesmo antes de completar a sua formação.”