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Estações de trabalho compartilhadas na Sanofi, em projeto do escritório Athié Wohnrath. Com as mudanças nas relações de trabalho, esses espaços têm sido demandados pelas empresas. | Divulgação/Athié Wohnrath
Estações de trabalho compartilhadas na Sanofi, em projeto do escritório Athié Wohnrath. Com as mudanças nas relações de trabalho, esses espaços têm sido demandados pelas empresas.| Foto: Divulgação/Athié Wohnrath

Publicada neste mês de julho no Philosophical Transactions of the Royal Society B, um estudo de dois pesquisadores da Escola de Negócios da Universidade de Harvard mostra que as supostas vantagens do escritório aberto, sem divisórias ou qualquer tipo de separação entre setores de uma mesma empresa, podem se transformar, na verdade, em desvantagens quando o assunto é a colaboração entre os seres humanos.

Para a pesquisa, intitulada The impact of the open workspace on human collaboration (ou O impacto do ambiente de trabalho aberto na colaboração entre seres humanos, em tradução livre), Ethan Bernstein e Stephen Turban monitoraram eletronicamente funcionários de duas grandes empresas que passaram por mudanças na estrutura física de trabalho, passando de espaços fechados para abertos. O monitoramento foi feito em servidores de comunicação eletrônicos e também por meio de wearables, ou dispositivos eletrônicos que os funcionários levaram consigo no dia a dia.

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Diferentemente do senso comum, a quantidade de interações face a face diminuíram significativamente num ambiente de trabalho mais aberto, enquanto que o uso de ferramentas de interação eletrônica aumentaram. Mais precisamente, o estudo encontrou 73% menos interações entre os colegas de trabalho, 67% mais tempo gasto com e-mails e 75% mais tempo gasto também com aplicativos de mensagens instantâneas. 

“Em suma, em vez de estimular uma colaboração face a face cada vez mais vibrante, a arquitetura aberta pareceu desencadear uma resposta humana natural ao afastamento social dos colegas de escritório”, escreveram os dois pesquisadores.

Foi a primeira vez que um estudo tão realista a respeito do tema foi conduzido. Pesquisas anteriores sobre o tema, contou Bernstein à sala de imprensa da Escola de Negócios de Harvard, se baseavam apenas em questionários, entrevistas, ou seja, no que as pessoas diziam sobre o assunto – o que, agora se sabe, não era exatamente a verdade. “A lacuna entre as percepções e os resultados reais tornou-se agora o campo de batalha para empregados e empregadores nesta questão”, observou o professor.

O estudo só foi possível, segundo Bernstein, com a colaboração de outro pesquisador, Ben Waber, que, após um doutorado no MIT Media Lab, criou a Humanyze, companhia que usa “crachás sociométricos” para coletar dados e ajudar as empresas a melhorar o ambiente de trabalho. 

Crachá sociométrico que os funcionários monitorados pela pesquisa de Bernstein e Turban usaram.Reprodução/Bernstein e Turban (2018)

Bernstein diz que o estudo não exatamente condena os espaços corporativos abertos. “Se a questão é como reduzir custos, a resposta é mais pessoas por metro quadrado, e os escritórios abertos sempre terão a vantagem nessa dimensão”, disse ele. Mas se a colaboração entre equipes é essencial para o negócio, é preciso pensar em alternativas, como espaços híbridos e flexíveis, ou mesmo diferentes tipos de treinamento e atividades que, efetivamente, criem conexões entre os funcionários.

O que as empresas pedem aos escritórios de arquitetura é bastante complexo

Diante do estudo, a reportagem da Gazeta do Povo mandou algumas perguntas a Sérgio Athié, sócio-fundador do Athié-Wohnrath, um dos maiores escritórios de arquitetura corporativa do Brasil. Ele explicou que, basicamente, as empresas buscam soluções que combinem integração, eficiência e melhor fluxo de trabalho em um ambiente que seja estimulante e inovador.

Para dar vazão a esse pedido, um tanto complexo, Athié explica que “há um mix de espaços com objetivos distintos, que dão suporte às áreas de open space”. “É bastante comum que haja, permeando esses espaços abertos, salas menores que chamamos de phone booths, onde o colaborador pode realizar um trabalho focado, uma ligação privativa ou até videoconferências”, explica o arquiteto.

Projeto do Athiè Wohnrath para a 99, com uma área de descanso e um tipo de phones boots, para interação mais intimista.Divulgação/Athié Wohnrath

Também há as salas de grupo, que servem para os trabalhos em equipe e impedem que o ruído geralmente gerado por tais atividades não atrapalhe os demais setores.

Além das áreas em separado para atividades de trabalho, é comum também o pedido das empresas para que o escritório tenha espaços de convivência, descanso e descompressão. “A tendência é de que os ambientes sejam cada vez mais abertos, mas de forma que haja a proporcionalidade entre mesas de trabalho e espaços colaborativos e para a concentração. Essa relação tem sido cada vez mais igualitária”, observa Athié.

Visão do escritório da 99, feito pelo escritório Athié Wohnrath, mostra uma variedade de espaços para reuniões, trabalhos em equipe e descanso.Divulgação/ Athié Wohnrath

Café da Sanofi concebido pelo escritório Athiè Wohnrath. Espaços como esse têm sido uma demanda frequente das empresas.Divulgação/Athié Wohnrath

A alta mobilidade das pessoas dentro das empresas, com muitos fazendo trabalhos freelancer, por exemplo, também tem demandado a criação de estações de trabalho compartilhadas. “Esta solução permite reduzir a área total e também gerar estes espaços de reunião e colaboração tão importantes na lógica de trabalho atual”, explica o arquiteto.

Diante do estudo dos pesquisadores da Escola de Negócios de Harvard, porém, fica a pergunta: qual o futuro do ambiente corporativo?

O futuro do ambiente corporativo passa, de fato, pela tecnologia

Athié explica que seu escritório já viu várias tendências ao longo de seus mais de 25 anos de existência e que, ao analisar esse histórico, é possível perceber que algumas delas, de alguma forma, retrocederam. “Houve uma época em que a ‘moda’ era o home office, mas as companhias careciam das pessoas estarem nos escritórios, sentirem o DNA e a alma da empresa, ou até conhecerem colegas e compartilharem conhecimento. Por essa razão, empresas que usavam este conceito de forma intensa, voltaram atrás e trouxeram seus times para dentro novamente e, com ele, vieram também as novas tendências citadas anteriormente”, conta Athié.

Segundo ele, a grande questão é como fazer do ambiente de trabalho um local que realmente instigue e incentive as pessoas a estarem no escritório. “Muito em função disso, uma tendência atual é a de que os espaços de trabalho tenham aspecto mais residencial e acolhedor, justamente porque as pessoas muitas vezes passam mais tempo no trabalho do que em casa, por exemplo”. 

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Sem querer arriscar um único futuro para o ambiente corporativo, Athié diz que não há dúvidas de que a tecnologia é um componente que faz e fará a diferença nas empresas.

“Acredito que os espaços possam até ficar menores. Isso porque as pessoas começarão a trabalhar remotamente novamente em função da mobilidade que a tecnologia traz. Os processos serão determinantes para a lógica do novo escritório e a flexibilidade é a palavra-chave. Ou seja, o espaço de trabalho vai continuar em constante evolução”, conclui o arquiteto.

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