Entre 2014 e 2016, piores anos da crise financeira no Brasil, 280 mil famílias saíram do endividamento, segundo a 7.ª Radiografia do Endividamento das Famílias Brasileiras da FecomércioSP. A perda de renda e o aumento do desemprego são as principais razões para isso. Mas na Região Sul, especialmente em Curitiba, nada ou muito pouco mudou. A capital paranaense é a mais “endividada” do país, com 87% das famílias residentes comprometidas com operações de crédito, patamar bem superior ao nacional, de 57%. Engana-se, porém, quem acredita que isso é ruim.
O estudo da entidade, que usou dados do Banco Central, do IBGE e da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), indica que o alto nível de endividamento dos curitibanos se deve a bons fatores, como uma renda média alta e um nível de desemprego bem menor do que o de capitais de outras regiões.
Veja os principais dados da pesquisa sobre endividamento da FecomércioSP
“A Região Sul como um todo tem essa condição: uma renda média alta e uma melhor distribuição favorecem a tomada de crédito. Além disso, há também uma taxa de desemprego menor do que no restante do Brasil e o atendimento abrangente do sistema financeiro”, explica o assessor econômico da FecomércioSP, Fábio Pina.
O nível de comprometimento da renda com dívidas entre as famílias curitibanas ficou em 32%, patamar próximo da média nacional (30%) e tido como adequado pela FecomércioSP pois não sinaliza risco de inadimplência. Aliás, as famílias com contas em atraso na capital paranaense correspondem a 29% das endividadas. E o valor médio comprometido foi de R$ 2.236 – o segundo maior entre as capitais pesquisadas, abaixo apenas de Brasília (R$ 2.598).
Ou seja, embora a maior parte das famílias da capital paranaense use as operações de crédito como parte de sua rotina, elas o fazem, em sua maioria, de maneira adequada e estão conseguindo manter suas contas em dia.
Ainda assim, a maior parte das dívidas dos curitibanos, segundo Pina, diz respeito a operações de cartão de crédito e cheque especial, modalidades de crédito que não deveriam ser usadas com tanta frequência em razão dos altos juros que apresentam, mas que são as mais acionadas, historicamente, pelos brasileiros, mesmo em tempos de crise.
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Publicado por Vida Financeira e Emprego em Sexta, 29 de setembro de 2017
Outras regiões sentiram mais o baque da crise
Em todo o Brasil, de dezembro de 2014 a igual mês de 2016, mesmo com o número de famílias crescendo 1,6%, o total mensal de rendimentos dessas famílias caiu de R$ 256,9 bilhões para R$ 256,8 bilhões, uma diferença de R$ 135 milhões.
Essa pequena queda no bolo geral de rendimentos combinada ao aumento do número de famílias no país, segundo a pesquisa da FecomércioSP, fez com que a renda média mensal familiar passasse de R$ 4.256,63 em 2014 para R$ 4.187,78 em 2016. Nesse contexto de diminuição da renda, a proporção de famílias endividadas nas capitais caiu 4 pontos porcentuais, passando de 61% em 2015 para 57% em 2016. Ou seja, as famílias foram obrigadas a apertar os cintos e adiar desejos que envolviam a contratação de crédito.
Ao mesmo tempo, a taxa de famílias com contas em atraso cresceu de 18% em 2014 para 23% em 2016. Mas esse é um cenário que atingiu principalmente as famílias de regiões que mais sofreram com o desemprego – não Curitiba.
Boa Vista (43%), Macapá (39%), Belém (39%), Manaus (37%) e Cuiabá (36%) são as capitais que lideram o ranking das capitais com mais famílias endividadas e com contas em atraso.
2017 deve mexer com outras capitais, mas não Curitiba
A pesquisa da FecomércioSP se propõe a ser um termômetro das políticas de crédito no país e acabou englobando um dos períodos mais complicados na economia do Brasil. Medidas tomadas recentemente — como a redução dos juros puxada pela queda da Selic e a limitação do uso do pagamento mínimo do cartão de crédito imposta pelo Banco Central — e outras medidas em estudo, como a limitação do uso do cheque especial, podem mudar o cenário do estudo em 2017.
“Mas isso nós só saberemos mesmo no ano que vem, quando olharmos para os dados deste ano”, diz o assessor econômico da FecomércioSP, Fábio Pina. Como as expectativas são de que a economia melhore e o emprego, a exemplo do saldo positivo crescente que o emprego formal vem apresentando, volte a crescer, porém, a tendência é de que Curitiba continue no mesmo patamar que ocupa hoje.
“A hora que a recuperação vier com mais força são as capitais do Norte e Nordeste que sentirão um efeito maior, não Curitiba”, avalia Pina.
Ranking nacional de endividamento da FecomércioSP
5 maiores
Curitiba/PR – 87%
Florianópolis/SC – 86%
Boa Vista/RR – 83%
Brasília/DF – 78%
Natal/RN – 75%
5 menores
São Paulo/SP – 52%
Salvador/BA – 51%
Belém/PA – 42%
Goiânia/GO – 27%
Belo Horizonte/MG – 24%
5 maiores
Manaus/AM – 43%
Boa Vista/RR – 42%
Teresina/PI – 37%
Natal/RN – 37%
Brasília/DF – 36%
5 menores
Vitória/ES – 26%
Macapá/AP – 24%
Belém/PA – 21%
Aracajú/SE – 18%
João Pessoa/PB – 15%
5 maiores
Brasília/DF – R$ 2.598
Curitiba/PR – R$ 2.236
São Paulo/SP – R$ 2.111
Porto Alegre/RS – R$ 2.093
Boa Vista/RR – R$ 1.952
5 menores
São Luís/MA – R$ 1.045
Maceió/AL – R$ 1.024
Aracajú/SE – R$ 988
João Pessoa/PB – R$ 813
Belém/PA – R$ 802
5 maiores
Boa Vista/RR – 43%
Macapá/AP – 39%
Belém/PA – 39%
Manaus/AM – 37%
Cuiabá/MT – 36%
5 menores
Porto Velho/RO – 16%
Brasília/DF – 15%
Palmas/TO – 14%
Belo Horizonte/MG – 9%
João Pessoa/PB – 7%
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