De acordo com instituto nacional de saúde mental nos Estados Unidos, cerca de 3.1 milhões de adolescentes entre idades de 12 a 17 anos tem pelo menos uma incidência de depressão em suas vidas. Destes jovens afetados por esta grave doença somente 19% recebem ajuda profissional para tratar do problema. Outra pesquisa, esta do departamento de saúde americano, revela também que a incidência de depressão em meninas nessa mesma faixa de idade é mais que o dobro do que em meninos, 19,4% contra 6,4% respectivamente.
Você, leitor, deve estar se perguntando o que isto tem a ver com inovação. Tudo. As empresas de social media, que são consideradas no momentos os oráculos de inovação em tecnologia, em realidade, têm produtos que estão associados com uma das principais causas do problema de depressão entre “teenagers” nos Estados Unidos, de acordo com um documentário do Canal A&E.
Segundo depoimento de um jovem que participou do documentário, eles se deprimem ao comparar suas vidas com a de outros jovens que eles seguem nas redes. Meninas são também muito mais propensas a sofrerem ataques de bullying cibernético.
Como pai de uma criança de 6 anos, eu já deveria estar muito mais familiarizado com este tipo de problema. No entanto, dele tomei ciência somente há alguns meses em nosso camping de inovação social com jovens da comunidade escolar de Palo Alto, Califórnia, que promovemos junto com o Junior Achievement, instituição sem fins lucrativos de cujo conselho orgulhosamente faço parte.
Sessenta jovens de escolas desprivilegiadas da comunidade, todo trimestre, vêm até nossa empresa para conceber e trabalhar novas ideias de tecnologia e inovação. Nada novo, pois fazemos isso há muito tempo. No entanto, nesta última vez, me surpreendi com um grupo de seis garotas entre a 5ª e 7ª séries do ensino fundamental que apresentaram uma proposta de novo produto que deixaram a mim e a todos os adultos presentes (quase todos experts em tech) boquiabertos.
Elas criaram um conceito de computador capaz de ler e reconhecer a face e a identidade humanas para que se pudesse medir o grau de tristeza, ansiedade e medo a partir de certos sinais vindos do semblante e expressão facial. Tudo isto aliado a um aplicativo seguro que pudesse acolher jovens e adultos com traços de depressão e conectá-los a profissionais capazes de ajudá-los imediatamente a tratar de seus problemas.
Uau! Eu já estava habituado a me emocionar com o impacto de grandes inovações tecnológicas, mas esta me marcou muito, pois toca em um problema grave ainda ignorado por aqueles à procura de novos empreendimentos na área de tecnologia. Fiquei emocionado por ver uma ideia tão importante para a solução de um grave problema de saúde pública, agravado até por inovações tecnológicas, ser concebida por jovens talentos e que poderia ser facilmente resolvido com o foco e investimento correto em tecnologias que focassem na resolução de problemas universais da “alma” e não somente na satisfação de necessidades materiais.
Parte da mentoria que fazemos a estes jovens inclui o aprendizado do conceito básico de que para inovar é preciso primeiramente enxergar um problema universal grande e relevante. Elas, corajosamente, assumiram ser a depressão um dos maiores dramas vividos por sua geração e ainda muito pouco considerado nos muitos endereços de pesquisa e inovação do universo tecnológico. Ao contrário, hoje muitas das empresas de tecnologia, com suas idolatradas inovações na área de social media, podem estar, na verdade, anotando um gol contra na luta para livrar o ser humano da depressão, contribuindo muito para a triste estatística de que o suicídio é a terceira maior causa de mortes idades de 10 a 24 anos nos Estados Unidos, de acordo com o medicinenet.
Em São Paulo, o tradicional colégio Bandeirantes viu dois de seus alunos tirarem suas próprias vidas no último mês de abril. O ministério da Saúde, no ano passado, registrou uma taxa de nove suicídios de rapazes entre 15 e 29 anos de idade para cada 100 mil brasileiros. Este número representa o dobro da média nacional. As principais causas estão associadas a depressão, ansiedade, bullying e stress decorrentes do uso excessivo das redes sociais, de acordo com a revista Veja.
Precisamos rever nossos critérios para definir os heróis no campo da inovação, pois as empresas deveriam existir para a nobre missão de melhorar a condição humana das inúmeras comunidades globais que as formam e sustentam. No entanto, em muitos casos, vemos o aposto ocorrer.
É preciso empoderar crianças como as de Palo Alto concretizando suas ideias através de mais investimento e fomento de tecnologias que venham a resolver problemas de saúde grave como a depressão e outros.
Ao mesmo tempo, é fundamental reconhecer as diabólicas consequências de inovações que acentuam esses problemas em uma era em que nossos filhos passam grande parte de seu tempo conectadas às diversas e cada vez mais atraentes plataformas digitais.
Precisamos acordar enquanto é tempo e pensar em inovação tal qual exemplarmente fizeram as crianças do Junior Achievement. Cabe a nós, líderes, abrir o caminho, apoiar a causa, começar a falar do problema e alertar para o fato de que a inovação pode desencadear consequências opostas: as que, com seus nefastos efeitos colaterais podem vitimar até uma geração inteira e outras que, ao resolverem problemas universais, inclusive os que afligem a alma, podem tornam o ser humano e o mundo muito melhores.
Qual sua opinião sobre os efeitos das redes sociais nas vidas do jovens e crianças. Elas podem ser uma das causas da depressão que aflige grande número dos jovens de nossa época? Deixe seu comentário.