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Top 5

As cinco empresas mais abertas a startups do Brasil revelam seus segredos

Liquid Studio da Accenture, em São Paulo: espaço de inovação | Divulgação /Accenture
Liquid Studio da Accenture, em São Paulo: espaço de inovação (Foto: Divulgação /Accenture)

Não é só para tomar um cafézinho que as startups entram nestas grandes empresas. Na rotina de Accenture, Isa Cteep, Natura, Algar Telecom e Dow, inovações disruptivas se convertem em oportunidades de negócios. As empresas lideram um seleto grupo de gigantes que se abrem de forma real para a inovação. As companhias que mais se abrem para o ecossistema de startups, no Brasil, têm em comum processos para absorver ideias que vêm de fora e uma disposição real de quebrar processos antigos.

De diferentes áreas — consultoria, indústria elétrica, da beleza, telecomunicações e setor químico — as cinco lideram o segmento corporativo do ranking 100 Open Startups, que lista as startups mais atraentes para o mercado. Este ano, de forma inédita, as grandes empresas também foram avaliadas.

Cada relacionamento entre startup e grande empresa conta pontos. Além da quantidade, conta a qualidade da conexão. A contratação de um serviço vale mais do que uma troca de cartões. O objetivo é identificar “quem são as grandes empresas que se relacionam com startups, dão abertura e fazem com que elas se desenvolvam e fiquem mais atraentes”, explica Bruno Rondani, criador do 100 Open Startups.

Se a ideia de startup ainda é um pouco novidade para o grande público — mesmo após uma década de redes sociais, streamings e bancos digitais — na relação com as grandes empresas a coisa é ainda mais lenta. Seja por resistência a mudanças ou pela existência de processos rígidos, que existem para dar segurança à existência das grandes empresas.

As corporações que hoje emergem como referência na inovação aberta (que obriga as empresas a abrirem seus segredos para usufruirem de novidades tecnológicas que surgem em um ritmo acelerado) passaram por um processo de maturação ao longo da última década, concomitante ao das próprias startups.

A Algar Telecom precisou se reinventar após o processo de privatização das suas concorrentes. Buscou a Fundação Dom Cabral e, já nos anos 2000, deu início a seus programas de inovação corporativa e inovação aberta, em parcerias com universidades e instituições de ensino. A aproximação da ABStartups, em 2014, deslanchou uma série de ações nesta área, com programas de aceleração em conjunto com a Aceleratech e com a Endeavor. A empresa mantém um espaço de coworking em Uberlância (MG), o Eureka.

Isa Cteep iniciou relacionamento com startups há menos de dois anos

Uma exceção é a Isa Cteep. A multinacional, que coordena mais de 20 mil quilômetros de linhas de transmissão de energia elétrica no Brasil inteiro, trabalha com inovação aberta há algum tempo, inclusive por determinação da Aneel. Mas o relacionamento com startups, iniciado há menos de dois anos, já ganhou musculatura o suficiente para garantir à empresa o segundo lugar no ranking.

A liderança de Ricardo Kahn, um dos executivos com maior experiência em projetos de startup no país, foi primordial para o bom desempenho da Isa Cteep, na avaliação de Bruno Rondani, da 100. Mas o próprio Kahn, que é gerente de Inovação e Estratégia da empresa, atribui o sucesso a dois fatores: a derrubada de muros entre a corporação e o mundo externo e a disposição em experimentar coisas diferentes.

“O setor elétrico é muito conservador, e tem toda uma herança estatal, um viés de continuar as coisas como eram; em muitos casos a gente está desafiando a forma como o setor costuma funcionar”, avalia o executivo.

No início deste ano, a Isa Cteep fez um choque de inovação na sua liderança. Provocados a utilizar um “tinder das startups”, na plataforma do 100 Open Startups, os funcionários da empresa tiveram mais de 800 “matches” (ou conexões).

Em maio, em um evento no Cubo, 20 startups se apresentaram em sessões de meia hora para grupos interdisciplinares da empresa, com vistas a fechar negócio. Em 4 horas foram fechadas 41 provas de conceito. Até o CEO e COO da empresa estiveram presentes.

Integração de diferentes áreas é lema na Accenture

A integração entre os diferentes setores da empresa é crucial para o sucesso da inovação aberta. Na Accenture, empresa mais aberta para startups do país, o tema faz parte do “core” da empresa. É assim nos 35 países onde a consultoria trabalha com open innovation. No Brasil, os trabalhos começaram há 4 anos.

Os primórdios deste trabalho começaram há mais de uma década. “Como empresa de consultoria focada em resolver o problema dos nossos clientes entendemos que milhares de soluções tecnológicas viriam deste mercado, e começamos a pensar em estruturas de como fazer a descoberta das melhores startups e levar isso para eles”, resume Paulo Vinícius Costa, gerente sênior de inovação da Accenture.

A estratégia escolhida foi se inserir como um ator do ecossistema. No Brasil, Accenture é uma das patrocinadoras do Cubo e mantém lá times inteiros, além de utilizar o espaço para fazer conexões com startups, aceleradoras, investidores e outros envolvidos neste universo. “Esta troca diária faz com que a gente consiga levar mais rápido a inovação para o nosso cliente”, explica Paulo Costa.

Os frutos deste relacionamento funcionam como vantagem competitiva para a consultoria, que inclui as startups no rol de soluções ofertadas para seus clientes. Por isso mesmo, Costa não cita os nomes das empresas que operam em sinergia com a multinacional. Mas dá o exemplo de uma operação de vistoria: o que antes levava sete dias, hoje é feito em um minuto. “Estamos falando de ganhos de 7 dígitos para os nossos clientes”.

Oferecer soluções conjuntas é uma das estratégias da Algar Telecom

A oferta de soluções em conjunto com startups também é uma estratégia da Algar Telecom. “A gente tem três parceiras do agronegócio que nos permitem ofertar uma série de soluções para o agricultor”, conta João Henrique de Souza, head de Cultura, Engajamento e Metodologia do Brain, espaço de inovação mantido pela companhia telefônica. 

Uma das startups monitora a fazenda com drones para identificar áreas problemáticas. Desta forma o agricultor pode pulverizar um ponto focal naquela região — e não a plantação inteira — reduzindo gastos com agrotóxicos e custos ambientais. Outra é especializada em micro-clima e tem como identificar com precisão se vai chover só na cabeceira da fazenda, e não no restante do plantio, por exemplo. Uma terceira tem sensores que medem em tempo real a qualidade do solo, como acidez e nutrientes.

São soluções que esbarram justamente na conectividade, já que dependem de sensores que se comuniquem entre si e enviem estas informações para uma central. O que não é tão simples na área extensa e desabitada de uma fazenda.

A Algar passou a oferecer soluções personalizadas para estes clientes. Não há necessidade de cobrir todo o plantio (que irá abrigar sensores que mandam poucos bytes de informação a cada 10 minutos) com a mesma infraestrutura de internet necessária na sede da fazenda, por exemplo, onde câmeras de segurança precisam enviar imagens em alta definição em tempo real para monitoramento.

Trajetória de inovação

A inovação é algo que permeia toda a trajetória de cinco décadas da Natura. Hoje são quatro áreas na empresa dedicadas à inovação: produto, business, operações e logística, e inovação digital. 

Além do relacionamento com startups, há outros dois grandes programas de inovação colaborativa dentro da empresa. O Natura Campus, que se relaciona com institutos de ciência e tecnologia, empresas e, principalmente, com o mundo acadêmico. E o Cocriando, que se conecta a consumidores, revendedores e até com a comunidade onde a empresa está inserida. O Natura Startup, criado há três anos, é a porta de entrada oficial para estas empresas se relacionarem com a fabricante de cosméticos. 

Mas o relacionamento da Natura com startups data do início da década. Foi um fenômeno espontâneo. As startups começaram a entrar em contato com funcionários de diferentes áreas da empresa. Não raro, no entanto, a parceria esbarrava nos complicados processos da fabricante.

“A startup fazia duas ou três conversas e [na hora de tocar o projeto] a gente queria tratar eles como fornecedores. Aí mandava um PDF de 450 páginas, das quais 400 eram exigências que [nem fazia sentido] eles cumprirem”, lembra Luciano Abrantes, diretor de Inovação Digital da Natura.

Não era um problema apenas jurídico, mas de cultura. Por isso, o movimento de transformação digital precisou correr para dentro da empresa. “Há quatro anos, se eu tentasse apresentar uma solução de realidade aumentada para alguém da operação logística, ia ouvir: mas você já viu isso em algum lugar? Já testou? Não é melhor fazer no site, antes?”, conta Luciano. Havia um certo receio.

A mudança levou tempo. “Talvez uma entrega [de startup] não seja suficiente para abrir [as] portas [da empresa], mas com um conjunto de entregas (com budgets até menores) você consegue gerar cases”, avalia o executivo.

Inovação na indústria

O Natura Startup é um programa perene que, só no ano passado, recebeu mais de 100 inscrições. Cerca de 20 contratos de testes e prototipação foram firmados. Além disso, a empresa também se relaciona com outros programas, como o Startup Indústria, da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

O programa estatal selecionou 10 indústrias entre as mais inovadoras do país para se conectarem a startups para projetos inovadores no processo industrial, mais “hard”, o que muitas vezes é uma barreira, já que a tendência é que o relacionamento com startups se inicie em processos mais periféricos das empresas.

A Dow também participou do Startup Indústria, que utilizou a forma de “matches” para fomentar o estabelecimento de negócios. A indústria química selecionou a mineira Sunew, que desenvolveu uma solução de filmes fotovoltaicos orgânicos, alternativa mais “verde” para o desenvolvimento de células solares, que produzem energia elétrica a partir da luz do sol.

“No momento em que as grandes empresas entendem que tem uma oportunidade com as startups e ligam a sua torneirinha, a velocidade com que a startup cresce aumenta muito”, acredita Paulo Costa, da Accenture. Por isso a inovação aberta depende da maturidade do ecossistema inovador como um todo. Das empresas que se relacionam, mas também de aceleradoras (que dão suporte às startups na hora de crescer), investidores (que auxiliam no crescimento das empresas antes delas se firmarem no mercado) e centros de inovação (que reúnem toda esta turma em um só espaço).

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