Empreendedor, João Kepler nunca deu mesada para nenhum de seus três filhos. Ele não queria que as crianças se acostumassem a ter um dinheiro garantido, no fim do mês, sem precisar trabalhar por isso. A mesada deve abrir espaço para uma "educação empreendedora", que ensine as crianças a merecerem o que ganham desde pequenas, defende.
Em seu livro "Educando filhos para empreender", o investidor alerta que a mesada pode ser uma armadilha para o desenvolvimento dos jovens. É importante ensinar os jovens a buscarem alternativas.
"Devemos acostumar nossos filhos à necessidade de trabalhar e não à de esperar um salário fixo no final do mês. Mesmo porque não haverá empregos formais para todos da nova geração."
Kepler, que foi eleito este ano o melhor investidor-anjo do Brasil pela ABStartups, conta que começou a prática com os filhos ainda pequenos, "assim que começaram a falar, a entender e pedir coisas".
A inspiração foi seu próprio pai, que não usava a palavra "empreendedorismo", mas dizia "se vira, moleque". Mas João acrescentou um "faça por onde merecer", e busca ser mentor das crianças em suas jornadas empreendedoras.
Seu mais novo, Davi, abriu sua primeira startup aos 13 anos. Hoje, aos 16, diz faturar R$ 600 mil sozinho. E recentemente escreveu um livro para "inspirar os mais novos".
Quando conversou com a Gazeta do Povo, em julho, Davi falou sobre a "educação empreendedora" que recebeu. "Meu pai não gostava da ideia de uma renda fixa [e sempre que ele e os irmãos queriam algo, tinham que fazer por merecer], para aprender a importância do dinheiro".
Outras estratégias
O "fim da mesada" é um tema polêmico. Querendo ou não, fazer as crianças organizarem o próprio dinheiro é uma boa forma de ensiná-las a ter responsabilidades. Gerenciar um orçamento.
Além disso, há diferentes formas de substituir a mesada por pagamentos por recompensa. No caso de João Kepler, " ideia de pagar por um serviço deve ser tratada como um Job mesmo. Além de ser feito no tempo combinado, a qualidade tem que ser adequada".
Há outros modelos. A americana Alisa Weinstein, autora do livro "Earn It, Learn It" (sem tradução em português, mas algo como "Receba e aprenda"), vinculou pagamentos à sua filha a tarefas de orientação vocacional.
A primeira foi quando a menina tinha quatro anos. Um trabalho da profissão do pai: analista de mercado. Ela questionou 15 amigos e familiares sobre seus sabores de sorvete favoritos. Apresentou o resultado para a mãe e ganhou dinheiro em troca.
O princípio de Alisa é um pouco diferente. O dinheiro é só um incentivo. Mas a prioridade é fazer a criança desenvolver habilidades de carreira, e aos poucos descobrir o que combina mais com ela.