Ajudar a combater parte dos problemas do Brasil e receber um retorno financeiro em troca é o que tem motivado cada vez mais pessoas que procuram o chamado investimento com impacto social. Apesar da demanda crescente, a oferta de aplicações é limitada, assim como é restrito o perfil de investidor que pode acessar esses produtos.
No país, quem quer aplicar em produtos que agreguem essa filosofia encontra, principalmente, fundos de investimento em participações (FIPs). No entanto, pelas regras da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), eles só podem ser acessados por quem tem pelo menos R$ 1 milhão guardado.
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Esses fundos atraem cotistas – famílias endinheiradas, investidores institucionais e bancos, por exemplo – interessados em destinar parte de seus recursos para algo que ajude a diminuir desigualdades sociais, melhorar a qualidade de ensino público ou o acesso à saúde de comunidades carentes, por exemplo.
Na gestora de investimentos de impacto Vox Capital, uma das que têm FIPs com essa proposta no país, o dinheiro dos cotistas é direcionado para startups que buscam resolver um problema real e que deem retorno financeiro para os acionistas, explica o presidente da empresa, Daniel Izzo.
A gestora criou dois fundos. O primeiro, de setembro de 2012, investiu em 20 empresas, entre elas a Avante, que concorre ao prêmio Empreendedor Social do jornal Folha de S.Paulo. A iniciativa gerou um negócio que já emprestou R$ 150 milhões em crédito para a população de cidades pobres do Nordeste.
Outro projeto que recebeu aporte do FIP é a Conecturma, método de ensino de disciplinas como português e matemática por meio de livros didáticos e plataformas digitais. Em agosto do ano passado, a Vox lançou outro fundo, com o mesmo foco de investir em educação, saúde e serviços financeiros.
Retorno depende do sucesso das novas empresas
O retorno para o cotista ocorre se a start-up for vendida ou se abrir capital e vender ações na Bolsa.
O risco, por outro lado, é a empresa não se provar viável economicamente e quebrar. Na MOV, outra gestora de recursos, são três os focos: projetos que favoreçam a preservação de florestas nativas, que melhorem a qualidade da educação e que ofereçam soluções para conflitos fundiários urbanos de áreas ocupadas irregularmente. No momento, a gestora tem um FIP com oito investimentos.
Nas duas gestoras, o investimento é de longo prazo, podendo chegar a dez anos sem que o investidor possa resgatar o dinheiro.
“Temos um período de investimento, em que captamos recursos. Depois, colocamos na empresa. O investidor vai ter o recurso de volta em sete, oito, dez anos. Não tem liquidez, o que reduz muito o número de potenciais investidores”, explica Paulo Bellotti, um dos sócios da MOV.
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A motivação do empreendedor é um dos principais fatores considerados na hora de decidir onde colocar o dinheiro, afirma.
“Chegamos a interromper uma operação porque verificamos que a motivação não era só gerar o impacto social em população de baixa renda. Percebemos que, se o empreendedor pudesse ganhar dinheiro com outra coisa, ele ia mudar a motivação principal da empresa. Aí deixamos de fazer negócio”, afirma Bellotti.
O retorno financeiro é deixado de lado na Bemtevi, plataforma que fomenta negócios sociais e que devolve aos investidores, depois de quatro anos, exatamente o dinheiro que foi aplicado, sem juros ou correção pela inflação.
“É um valor do qual o investidor abre mão, mas porque está apoiando um empréstimo mais barato para empresas na ponta”, diz Fernando Simões Filho, sócio-diretor. O mínimo que pode ser investido é R$ 25 mil.
Até hoje, a Bemtevi fez dois empréstimos para companhias, mas quer terminar o ano com quatro. Um dos projetos que recebeu aporte foi o PanoSocial, que usa mão de obra de egressos do sistema prisional na confecção de roupas e outros produtos feitos com tecidos sustentáveis.
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Aplicações em startups de impacto social tendem a ficar mais acessíveis
No começo do ano, a gestora AZ Quest criou um fundo com aplicação inicial de R$ 1 mil e que doa 30% da taxa de administração para projetos de impacto. O primeiro repasse ocorreu na última semana, para aceleradoras de startups com cunho social.
Apesar de restritas a quem tem muito dinheiro, a tendência é de que as aplicações fiquem mais acessíveis, conforme os investidores com menos recursos demandem mais essas opções, diz Edgard Barki, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV (Fundação Getulio Vargas).
“Tem muito mais dinheiro rolando nisso. O caminho natural é popularizar, de forma que cada vez mais as pessoas possam investir nessas empresas com cunho mais social. Em relação a sete anos atrás, muita coisa já foi feita.”
Para Frederic De Mariz, diretor de análise de empresas financeiras do UBS Brasil, é preciso cautela. “Estamos usando poupança e o dinheiro que as pessoas juntaram. Tem que testar o mercado antes.”
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