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Executivos viajantes e com dificuldades no amor viram negócio para duas empresas

Ping e Larry Chiarelli no quintal de sua casa em Florham Park, nos EUA. Os dois, que viajam bastante a trabalho, se conheceram por meio do serviço de encontros It’s Just Lunch e estão esperand o primeiro filho para março deste ano. | CHRISTOPHER OCCHICONENYT
Ping e Larry Chiarelli no quintal de sua casa em Florham Park, nos EUA. Os dois, que viajam bastante a trabalho, se conheceram por meio do serviço de encontros It’s Just Lunch e estão esperand o primeiro filho para março deste ano. (Foto: CHRISTOPHER OCCHICONENYT)

Em 2010, a belga Heleen Devos, que trabalha com responsabilidade social e comunicação para uma empresa de energia francesa, ia a Cuba para uma conferência das Nações Unidas sobre mudança climática.

“Eu o vi e achei que era bonito”, disse Devos sobre um chileno no avião. Porém, não sabia qual era seu relacionamento com a mulher mais velha ao lado dele. “Será que ele estava viajando com a mãe? Seriam tia e sobrinho, ou uma mulher e seu amante mais jovem?”. 

Suas perguntas foram respondidas depois que o avião parou em Cancún, no México. Ela foi falar com o rapaz, Rodrigo Arlegui Fuchslocher, e a mulher que estava com ele, que, afinal, era sua mãe. Devos e Arlegui trocaram contatos e, depois de vários encontros e desencontros, acabaram se casando.

“Sempre achei que fosse conhecer alguém no avião. Afinal de contas, era lá que passava grande parte do meu tempo.”  Nem todos têm essa sorte.

As tribulações românticas de quem viaja a negócios é tema do filme “Amor Sem Escalas”, de 2009, mas quando até mesmo o viajante veterano interpretado por George Clooney tem problemas, é claro que precisam da ajuda de alguém como Dolly Levi para conectá-los a futuros pretendentes. É aí que entram as casamenteiras da era moderna, como a It-s Just Lunch, empresa que conquista muitos de seus clientes através da publicidade em revistas de companhias aéreas.

Por e-mail, a executiva-chefe, Melissa Brown, disse que encontrar a cara-metade é difícil para quem viaja a negócios, porque “apesar da modinha de romances entre as duas costas americanas, a maioria dos solteiros prefere namorar alguém que mora na mesma cidade.” E acrescentou: “Os viajantes de negócios passam muito mais tempo longe de casa, o que significa que suas chances de achar alguém diminuem significativamente”.

Brown disse que muitos de seus clientes vivem fora, mas apenas cerca de 25% são “verdadeiros guerreiros da estrada”, aqueles que passam a maior parte do tempo de trabalho viajando. Todos eles, acrescentou, “são muito ocupados, e essa é uma das principais razões pelas quais procuram nosso serviço; os que viajam a negócios são os que têm maior dificuldade”.

“Eles podem passar toda a semana viajando, sem chance de fazer planos para o fim de semana”, disse ela.

Em 2016, a empresa realizou uma pesquisa on-line com algumas perguntas específicas para os viajantes. Cerca de 25 por cento dos entrevistados disseram ter conhecido alguém no avião por quem poderiam se interessar.

Um dos clientes da It-s Just Lunch é Larry Chiarelli, líder de uma equipe da CarGurus, site de venda de carros. Vivendo em Nova Jersey, ele disse que frequentemente viaja a trabalho de carro, com alguns voos para Boston, onde fica a sede da empresa. Suas viagens podem durar até uma semana.

Chiarelli disse que usou os serviços da empresa de encontros porque estava frustrado com sua vida de viagens. “As coisas estavam meio caóticas com mudanças, às vezes você marcava um encontro e aí tinha que mudar o horário e precisa reorganizar tudo. Dá trabalho.” 

Existem vários aplicativos de namoro para smartphone que todo mundo, não apenas os viajantes de negócios, podem usar, incluindo o Tinder, o OKCupid e o Grindr, além dos serviços on-line pagos ou não. Chiarelli disse que já usou o eHarmony e o Match.com, mas afirmou que a “tecnologia complica as coisas, e acho que também dilui a experiência do namoro”.

Ele disse ter conhecido mulheres através de amigos, mas que não podia reduzir suas viagens por causa de namoro.

“Se tem um cliente que está pronto para assinar o contrato e precisa viajar para encontrá-lo ou passar a noite dirigindo, não há escapatória”, afirmou. Viagens frequentes também aumentam o tempo que leva para saber se um relacionamento vai ou não funcionar. Ele disse que, sem suas viagens, teria conseguido agilizar o ciclo de conhecimento das pessoas que encontrava. 

“É como ser advogado na fase da descoberta, mas com muito tempo e distância entre os encontros”, acrescentou.

“Contratar uma empresa de namoro é como ter um assistente administrativo para agendar as coisas para você”, disse Chiarelli. Por fim, conheceu Ping Ma, consultora atuarial e viajante frequente que era cliente da It-s Just Lunch, em 2013. Eles se casaram na véspera do Ano Novo em 2016 e apareceram nos anúncios da empresa. O primeiro filho do casal vai nascer em março.

Falta mesmo tempo para o amor

Outra empresa do ramo especializada em viajantes de negócios é a Selective Search, em Chicago. Segundo a fundadora, Barbie Adler, eles compõem 65% da clientela. Em um e-mail, ela disse: “O fator óbvio que separa os viajantes de negócios dos clientes típicos é seu estilo de vida em constante movimento. Meus clientes normalmente não têm muito tempo, e aqueles que viajam muito têm ainda menos”.

Ela afirma que esse tipo de serviço pode ajudar nos relacionamentos, porque “eles passam a maior parte do tempo correndo para aeroportos, hotéis ou se instalando em uma de suas várias casas”. A proximidade, ela acrescentou, “é também um desafio, porque os clientes que estão em diversos mercados por períodos curtos ou aleatórios têm dificuldade de estabelecer convívio social nesses locais”.

Adler disse que homens e mulheres tendem a cometer erros de relacionamento. Os homens, em particular, podem ser “bem-sucedidos na vida profissional, mas esse sucesso não necessariamente se transfere para a vida pessoal”, disse ela.

Brown, da It-s Just Lunch, disse que, para os viajantes a negócios, simplesmente mudar a rotina pode ajudar a encontrar o amor.

“Não coma no quarto do hotel. Procure um restaurante com uma mesa comunitária, que geralmente está cheia de outros viajantes solteiros à procura de conversa e uma boa refeição.” E deixe o smartphone de lado. “Faça uma pausa da telinha e olhe ao redor. Você nunca sabe o que pode encontrar.”

A ideia de confiar no acaso é fortemente recomendada por Devos, a funcionária da empresa francesa de energia, que agora vive em Bangcoc. “Apaixonar-se e criar uma família também não são razões para parar de viajar”, disse ela.

“Temos uma filha de quatro anos e que fala quatro línguas. É uma viajante cosmopolita, que já visitou muitos países”, disse Devos, listando destinos ao redor do mundo. “É uma menina internacional, filha de um casal internacional, e estou muito feliz por poder lhe dar esse tipo de vida.” 

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