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Food truck de jovem sírio vira sensação nas ruas de Ponta Grossa

Beatriz, Areen e Diaa trabalham todas as noites. | Gisele Barão/
Beatriz, Areen e Diaa trabalham todas as noites. (Foto: Gisele Barão/)

O food truck Areen Shawarmaria, que estaciona todos os dias às 19 horas em um ponto da rua Julia Wanderley, no centro de Ponta Grossa, tem uma característica que o diferencia de outros trailers espalhados pela cidade: um dos sócios é o refugiado sírio Areen Hamshw, de apenas 22 anos. 

Areen veio para o Brasil em 2015 por causa da guerra em seu país. Sem conhecer a língua portuguesa e com pouco dinheiro, o primeiro emprego do jovem foi em um restaurante. Lá ele conheceu a doceira Beatriz Fecci: a cliente se sensibilizou com a história do rapaz, que buscava uma nova oportunidade, e decidiu abrigá-lo na própria casa.

No começo, Areen ajudava Beatriz nas encomendas de doces, mas sempre desejou produzir shawarma para vender. Eles tornaram-se parceiros nesse sonho em novembro de 2016. 

Com expediente de segunda a segunda, os sócios vendem aproximadamente 250 lanches por semana. “Se um cliente chegar e a gente estiver fechando o trailer, o Areen reabre para atendê-lo. Isso é um diferencial. As pessoas são bem atendidas e voltam outras vezes”, conta Beatriz.

Areen e Beatriz conseguiram comprar o trailer por um preço baixo em uma oficina de Ponta Grossa, onde um cliente havia encomendado o veículo e não foi buscar. Em uma semana, começaram a trabalhar.

“No primeiro dia, vendemos 30 lanches”, lembra a empreendedora. Aos poucos, eles juntaram dinheiro para equipamentos e, no primeiro ano de trabalho, o movimento aumentou tanto que passaram a atender também por delivery. Hoje, as entregas em domicílio correspondem a 50% das vendas.

Tecnologia ajudou o empreendedor a superar o desafio da língua

Se iniciar um negócio próprio já é um grande desafio para qualquer pessoa, na história de Areen havia um obstáculo a mais: o idioma. Com a dificuldade para ler os pedidos que Beatriz escrevia à mão, as comandas de papel ficaram pouco práticas na rotina de trabalho. Mas a tecnologia deu uma força nesse sentido: agora o trailer conta um sistema eletrônico para organizar e agilizar o atendimento. O pedido chega com todas as especificações e o cliente recebe uma senha.

O empreendedorismo é uma novidade e uma aventura para o jovem. Ele aprendeu a receita de shawarma com a mãe na Síria. “Lá o lanche é feito em casa. Aqui, vim comercializar. Além de uma experiência nova, está sendo um constante aprendizado”, diz. O sanduíche é feito com carne bovina ou de frango, salada, batata frita e o tradicional pão sírio. O diferencial do Areen Shawarmaria está no tempero, que é importado, e no pão, produzido por ele. “Os clientes também comentam muito sobre o molho”.

O sírio tornou-se parte da família de Beatriz. Ela tem dois filhos que o consideram um irmão. O pai, a mãe e três irmãos de Areen continuam na Síria – o mais velho está servindo na guerra. Com o dinheiro das vendas — os shawarmas custam R$ 15 e o beirute R$ 25 —, o sírio consegue pagar as despesas por aqui e, quando sobra, enviar dinheiro para os pais. 

No ano passado, a equipe da shawarmaria ganhou um novo integrante: Diaa Mahna, de 25 anos, um amigo do primo de Areen que também viu no Brasil uma oportunidade de recomeçar.

Beatriz e Areen construíram sua própria oportunidade de maneira independente, com quase nenhuma ajuda e pouco capital. “Começamos na raça, literalmente do zero”, conta ela.

Empreendedorismo pode e deve ser um meio de recomeçar

O empreendedorismo, especialmente na culinária, é uma alternativa comum para refugiados no Brasil. Existem entidades de apoio com projetos nesse sentido. No Paraná, a Cáritas, uma das instituições que presta auxílio a refugiados, está se organizando para em 2018 ter uma atuação específica na linha do trabalho e empreendedorismo. 

“Essa tem sido uma opção de geração de renda, especialmente do público árabe. Os sírios são muito empreendedores”, explica a coordenadora do projeto da Cáritas “Integração local para refugiados e solicitantes de refúgio no Paraná” Márcia Ponce.

Em Curitiba e região metropolitana, a instituição realizou 827 atendimentos para 221 pessoas de 29 nacionalidades diferentes. Os maiores grupos foram da Síria, Venezuela, Cuba e República do Congo.

Segundo dados do Centro Estadual de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas do Estado do Paraná, de outubro de 2016 a outubro de 2017, foram cadastrados no CEIM 613 migrantes e refugiados, de 34 nacionalidades diferentes. Da Síria, são 23. Os números só incluem aqueles que buscaram atendimento.

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Publicado por Vida Financeira e Emprego em Domingo, 4 de fevereiro de 2018

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