Depois de acumular 245 mil participantes no Facebook, a Rededots virou empresa e inaugura nesta segunda-feira (30) um marketplace, site que funcionará como shopping virtual para empreendedores.
A rede nasceu há três anos como grupo no Facebook para troca de ajuda entre empreendedores e para divulgação de seus produtos e serviços. A entrada na rede depende de convite de outro participante, o que não foi empecilho para que mantivesse um crescimento contínuo desde que foi criada.
Ela também criou sua cultura e dinâmica própria. Para conseguir apoio e fazer negócios, não basta entrar no grupo e sair anunciando qualquer coisa. A rede tem regras para valorizar relacionamentos entre membros e as histórias cada um. Antes de vender qualquer coisa, é preciso contar quem é, o que faz, o que gostaria ou o que tem a oferecer e o que há de especial nisso tudo.
Para manter esse espírito, o site, que entrou no ar nesta segunda, terá uma linha do tempo semelhante a do Facebook para que os membros possam contar o que precisam e como podem ajudar os outros. As 1.500 lojas que já estarão no ar nesta segunda também terão em suas páginas textos explicando quem são seus responsáveis e de onde vêm os itens que eles comercializam.
Kuky Bailly, 50, idealizadora da rede, conta que o grupo no Facebook recebe cerca de 1.000 postagens por dia. Todas são avaliadas antes de se tornarem públicas — a rede conta com 15 moderadores voluntários que dão dicas para que elas se adequem ao modo de interagir do grupo.
Bailly explica que também será feita uma seleção dos produtos que são adequados para o site. São valorizadas criações autorais e não são aceitos itens produzidos em massa. “Essa é a alma da rede, permitir que as pessoas se relacionem com pessoas, não com marcas e produtos.”
A Rededots ficará com 10% do valor das vendas. Em caso de páginas de serviços, será cobrada mensalidade de R$ 9,90 dos cadastrados.
Bailly diz que o aumento do número de participantes do grupo fez com que ferramentas que não estão disponíveis na rede social se tornassem necessárias para o funcionamento adequado dele. “A gente começou a sentir as dores do crescimento. No Facebook, não temos ferramentas para fazer transações de maneira segura, por exemplo.”
Crise
Segundo ela, grande parte do grupo é formada por pessoas que perderam seus empregos durante a crise e precisaram buscar novas formas de se sustentar.
Ela própria criou a rede para incentivar a troca de ajuda entre seus amigos desempregados após ser demitida de empresa do ramo de cosméticos em 2015.
A demissão também está na história da publicitária Fernanda Summa, 41, que em 2016 foi desligada de empresa do ramo de eletrônicos. Pouco depois, ainda sem uma ideia do que faria em seguida, foi aconselhada por amiga a entrar no grupo, que tinha cerca de 15 mil participantes.
Ali, inspirada pelos projetos de outros empreendedores, passou a vender alimentos orgânicos pela internet.
Fernanda conta que se beneficiou da rede tanto para encontrar fornecedores, incluindo designer, contador e transportadora, como também para vender seus produtos.
Segundo ela, o marketplace permitirá ampliar a divulgação de sua marca, a [EU] Orgânico, para chegar a um público ainda maior. “Meu negócio está em momento em que ele já se paga, está estruturado. Agora é hora de crescer, aumentar a divulgação, investir em mídias sociais”, conta.
A Rededots também é o principal canal de vendas para Gisela Heivenreder Cury, 57, coordenadora da marca Sacola Tropical e criadora da ONG Instituto Rampa. Pela rede, ela vende sacolas, necessaires, jogos americanos e bolsas térmicas desenvolvidas por costureiras de bairros periféricos de São Paulo, como Paraisópolis, Campo Limpo e Capão Redondo. “As pessoas não querem só adquirir um produto, querem algo com valor agregado, que esteja ajudando famílias”, diz.
Cury diz acreditar que o novo site para vender produtos irá facilitar seu dia a dia. “Hoje, as vendas acontecem via WhatsApp, Instagram, Facebook. Centralizar as coisas nesse marketplace vai me facilitar a vida.”
Investimento
Bailly conta que houve contratempos para viabilizar seu projeto. Em 2017, ela fez uma campanha de financiamento coletivo para tentar levantar R$ 500 mil para colocá-lo em produção, mas só conseguiu 30% do valor.
A alternativa foi usar o dinheiro que recebeu para contratar uma consultoria e montar um plano de negócios.
Com a ideia de como tornar o grupo um negócio mais estruturada, ela conseguiu atrair investidores que colocaram R$ 800 mil no projeto, conta. Segundo ela, será preciso levantar mais recursos em breve.
A Rededots está entre os 12 negócios da América Latina que disputarão a premiação do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) de inovação inclusiva. No continente, o desafio recebeu 720 inscrições de 16 países.
Ela concorre com outras duas empresas na categoria de serviços de inclusão financeira. A apresentação final dos projetos para banca avaliadora será na próxima segunda-feira (6).