Em três décadas de jornalismo, Ana Paula Padrão cobriu guerras, apresentou telejornais e liderou projetos por onde passou| Foto: Reprodução

Em três décadas de jornalismo, Ana Paula Padrão teve uma carreira de sucesso. Cobriu guerras, apresentou telejornais e carregou recordes de audiência. Hoje comanda o popular Masterchef. Muito da força de vontade — necessária para atingir estas conquistas — a jornalista reuniu depois de ouvir um sonoro "não" de um grupo de homens, em seu início de carreira. 

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Ana Paula tinha acabado de chegar em Londres, onde trabalhou como correspondente da TV Globo, nos anos 1990. Seus amigos, quase todos homens, a convidaram para um jantar. Até que um produtor sênior da casa perguntou qual era o real motivo para ela estar ali. O que ela queria fazer como jornalista, no exterior. Ela respondeu: 

"Eu quero ir pro Afeganistão." 

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As torres gêmeas ainda não tinham caído, na época. Mas o país já estava no centro do noticiário geopolítico internacional com a ascensão política do Talibã. A reação na mesa foi de silêncio absoluto, por alguns segundos. E então: 

"Eles se olharam e começaram a rir, rir. Um deles pegou na minha mão e falou: 'querida, desiste desse negócio. Afeganistão é muito perigoso. E [como] mulher, no Afeganistão, você nunca vai conseguir visto; e, mesmo que consiga, você acha que vai conseguir entrar e filmar alguma coisa? Esquece isso, bobinha'". 

A jornalista ficou primeiro com vergonha (de ter se exposto) e depois com raiva, muita raiva. Nos 18 meses seguintes ficou obcecada pelo Afeganistão, as etnias que formam o país, e conseguiu um interlocutor no Talibã. Neste meio tempo foi transferida para o escritório de Nova York da Globo e recomeçou os contatos do zero. 

Em 2000, ela conseguiu entrar no país e produziu uma série de reportagens, com câmeras escondidas, sobre o dia a dia no país. Ela voltou ao país, no ano seguinte, para mostrar a invasão dos Estados Unidos após o 11 de setembro. 

Não foi a primeira vez que a jornalista enfrentava pessoas dizendo que ela não era capaz de fazer alguma coisa (e que depois foi lá e provou o contrário). Mas foi um marco. "Este foi meu day one", contou Ana Paula no evento de mesmo nome promovido nesta terça-feira (22), em São Paulo, pela Endeavor. 

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O Day1 reúne histórias sobre o ponto de virada de empreendedores de sucesso, algum momento decisivo em suas vidas. Também contaram suas histórias os fundadores das startups curitibanas Olist e Ebanx, entre outros. No ano passado (2017), a colega de Ana Paula e jurada do Masterchef Paola Carosella falou da dívida milionária que adquiriu antes de chegar ao sucesso. 

Espírito empreendedor de Ana Paula não parou no jornalismo

A trajetória empreendedora de Ana Paula Padrão começou no jornalismo. Ela ouviu muitos "nãos", "você não vai conseguir". Mas cobriu conflitos e guerras no mundo todo, comandou o Jornal da Globo e foi a responsável por reestruturar o jornalismo do SBT. 

Foi quando trabalhava na emissora de Silvio Santos que a jornalista estreou como empresária. Abriu a Touareg, empresa que produz vídeos, principalmente para empresas que têm dificuldade de comunicação. 

Hoje a jornalista está em uma nova jornada empreendedora, em uma startup de empoderamento e empregabilidade feminina. A "Escola de Você" oferece cursos online que ensinam "soft skills", habilidades que ajudam as mulheres a se posicionarem no mercado de trabalho. 

Ana Paula e sua sócia, Natália Leite, tiveram a sacada a partir de uma demanda do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O banco notou que, na América Latina, as ações de qualificação profissional para mulheres não resultavam em aumento da empregabilidade. Ou seja: elas passam a ter conhecimento técnico, mas não conseguem entrar no mercado de trabalho. 

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O abismo (resistência da família, sentimento de incapacidade) que separa as duas coisas seria resolvido com as tais "soft skills". 

Confira o depoimento completo de Ana Paula Padrão no Day1: