A startup curitibana Pipefy, de gerenciamento de projetos, recebeu US$ 16 milhões, cerca de R$ 53 milhões, em uma nova rodada de investimentos. O dinheiro vem de fundos brasileiros e do Vale do Silício e será usado para a expansão da empresa, em especial para desenvolvimento na área de tecnologia.
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A Pipefy oferece soluções de gestão para cerca de oito mil pequenas e grandes empresas, em mais de 140 países. Brasileira, a startup já nasceu com DNA global. Todos os investidores originais da empresa, que foi fundada em 2015, participaram desta rodada.
Os fundos Valor Capital e Redpoint mantiveram sua participação na empresa. Ambos mesclam sócios e capital investido do Vale do Silício e brasileiro.
A Trinity reinvestiu e ampliou sua participação na Pipefy. Quem entrou na jogada foi a Open View, nova investidora. Ambas são americanas.
A vasta maioria deste capital será investida em desenvolvimento de produto, explica o CEO e fundador da Pipefy, Aléssio Alionço. "Nossa tese é de que hoje só as grandes empresas conseguem investir em tecnologia; e quando você oferece uma tecnologia que todas as empresas podem usar, você empodera o gestor".
O executivo compara os planos da Pipefy à transformação pela qual o e-commerce passou nesta última década. Há 10 anos, só empresas muito grandes, com equipes de T.I. robustas, tinham capacidade de criar uma loja online. Hoje há tecnologias extremamente simples e baratas, que permitem a qualquer artesão ter uma loja virtual própria e personalizada.
Três grandes frentes de mudanças
A Pipefy dividiu os planos para melhorias no produto em três grandes áreas. A primeira é tornar a ferramenta ainda mais amigável para o gestor, que é quem a utiliza no dia a dia. "Hoje os gestores de negócios são reféns da área de T.I., eles precisam pedir ajuda o tempo inteiro. E isso é caro, gera barreiras de comunicação", explica Aléssio.
O segundo desafio é aumentar a complexidade, a robustez, os tipos de problemas que o gestor pode resolver com as ferramentas da Pipefy. É uma necessidade maior para as grandes empresas, mas que também para suprir demandas das pequenas. Um exemplo é a personalização visual, poder trocar as cores e inserir a logo na ferramenta, demanda que mesmo as micro e pequenas empresas têm.
Investir em inteligência artificial é a terceira frente. "Hoje nossos clientes mais sofisticados usam muito nossos motores de automação", explica o CEO. São trabalhos manuais, repeititivos, em que a inteligência artificial dá conta de substituir — e liberar os funcionários humanos para se dedicar a funções mais complexas.
Um exemplo é a aplicação utilizada pela IBM na Europa para contratação de pessoas. Antes, uma equipe de dezenas de pessoas fazia a leitura e tabulação manual de centenas de documentos escaneados. Hoje o robô da Pipefy permite que a leitura e tabulação do documento sejas feitas de forma automática (ele alerta, inclusive, se há algum tipo de falha). E o processo termina com um funcionário humano para a fase de validação.
Expansão
Esta rodada é considerada "Series A" pela Pipefy, já que foi a primeira realizada seguindo todos os parâmetros do capital de risco (venture capital). Antes disso, empresa já tinha levantado US$ 2,4 milhões em uma rodada de "capital semente". O valor foi considerado alto, na época, mesmo para os padrões do Vale do Silício.
A Pipefy tem forte relação com o Vale. Foi acelerada na 500 Startups, uma das três principais aceleradoras de startups do mundo, onde se "graduou" como melhor empresa da turma. A empresa tem escritório em Sâo Francisco, e é de lá que vem uma parte considerável do capital investido.
"Nossos investidores veem com muito bons olhos a estratégia de usar o Brasil como um diferencial para redução de custos e contratação de talento local", conta Alionço. Na sede da empresa, em Curitiba, trabalham hoje mais de 80 pessoas, entre desenvolvedores e pessoal da área de business. A meta é dobrar e chegar a 170 até o fim do ano.