O início de um novo ano costuma trazer novos planos e expectativas. Com a economia demonstrando sinais de recuperação, mesmo que lentos, empreender pode ser uma opção para muitos brasileiros. “O início do ano costuma trazer inspiração para muitas pessoas. Se juntarmos isso à retomada da economia e se essas novas ideias trouxerem juntas novas tecnologias, que tem mudado a maneira de fazer negócios, é um momento propício para empreender”, analisa Sérgio Alexandre, consultor sócio da PwC Brasil.
Segundo Marcelo Cherto, presidente do Grupo Cherto, a empresa desenvolveu uma série de estudos que mostram que, de 1900 a 2016, o Brasil passou por uma série de crises, algumas mais profundas e de mais difícil recuperação, como é a que o país vive nos últimos anos. No entanto, Cherto aponta que, passados os momentos de crise, o PIB costuma subir de forma significativa. “São momentos em que há muita demanda e investimentos reprimidos. Quando a economia retomar a valer, isso deve acontecer com força”, afirma o especialista em franquias.
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Segundo Cherto, o perfil do brasileiro que busca empreender, atualmente, varia entre aqueles que têm realmente a vontade serem donos do próprio negócio e aqueles que não têm outra saída. “Muitos perderam seus empregos e as empresas estão cada vez mais enxutas, realmente diminuindo seus quadros de funcionários principalmente de um certo nível salarial para cima”, explica.
De acordo com João Luis de Moura, consultor do Sebrae-PR, muitas destas pessoas que perderam os empregos também não estão interessadas em voltar ao mercado tradicional, e há uma mudança nos modelos de negócios que tem possibilitado mesmo quem tem pouco para investir. “Estão surgindo empresas com estrutura mínima, baixo investimento, sem todo aquele aparato tradicional. Esta mudança nos modelos de negócio possibilitam muito mais que as pessoas tenham condição de poder abrir um negócio”.
Já para Paulo Ancona Lopez, sócio-presidente da Ancona Consultoria, mesmo com a recuperação da economia, é preciso que o empreendedor saiba que o poder aquisitivo da população, neste momento, é menor. “O melhor é pensar em negócios de baixo investimento e de produtos e serviços de baixo valor, para que sejam uma alternativa para o consumidor que busca fugir de marcas caras e de despesas maiores”, aponta.
Mas seja por vontade ou necessidade, os passos para empreender são os mesmos: muita pesquisa, estudo e atenção na hora de escolher em que setor investir seu dinheiro.
Primeiros passos
A Associação Internacional de Franchising costuma martelar uma frase em seus eventos: Investigue antes de investir. Na hora de escolher em que segmento empreender, a primeira dica é fazer uma autoanálise profunda e honesta. “Empreender significa correr riscos e é preciso estar preparado para isso. É preciso gostar de lidar com pessoas, porque você vai estar o tempo todo em contato com sua equipe, com funcionários e fornecedores. Muitos ignoram isso e pensam apenas no lado financeiro, que é importante, claro, mas não é a primeira coisa. Em primeiro lugar, entenda o que você sabe e gosta de fazer”, explica Cherto.
Moura reforça a importância de se conhecer e ter claro o que quer fazer, e a partir daí pensar no diferencial que você deseja levar ao consumidor. “Conhecer a fundo o perfil do seu público-alvo é imprescindível para identificar o que de diferente você pode fazer por ele. Proponha-se a ser um especialista naquilo que você quer fazer, pois a concorrência está em tudo e quanto menor for a inovação, maior é a concorrência”, explica.
Em seguida, os consultores enfatizam a necessidade de um plano de negócio estruturado, com visão estratégica, de como será a operação, da forma de atuação em relação a seus concorrentes e estudos financeiros que vão do capital necessário ao tempo de retorno previsto para o investimento feito. “Além disso tem de saber que vai te de se dedicar a isso de forma profunda, pois nenhum negócio caminha sem o olho do dono e como regra geral pode-se afirmar que qualquer novo negócios dá mais trabalho do que se possa imaginar teoricamente”, orienta Paulo Ancona Lopez.
Tendências para 2018
Em 2017, o Sebrae-PR iniciou um trabalho que visa elencar as principais macrotendências em negócios e em como elas afetam, inclusive, os pequenos negócios. Macrotendências são aquelas com maior amplitude, tanto no alcance geográfico como no temporal. Elas costumam caráter global ou nacional, no mínimo, e podem durar décadas. “Nós não vemos a tendência por si só, mas ligada a um comportamento de consumo, que é o que as pessoas devem seguir num futuro próximo. É nisso que quem está interessado em abrir um negócio deve estar atento”, explica Moura.
Além das macro, existem também as microtendências, que geralmente são modismos. “É uma segmentação da macrotendência, mas que geralmente têm período de duração curto e atingem escalas menores. No Brasil, pudemos observar, por exemplo, modismos como as lojas de Frozen Yogurts e de paletas mexicanas, que tomaram conta das ruas e logo começaram a perder força”, exemplifica o consultor do Sebrae. Segundo Moura, investir em modismos não é necessariamente algo ruim, mas é preciso ser feito de forma consciente.
“É preciso até um certo nível de desapego quando um negócio é claramente um modismo, porque em pouco tempo ele deve perder espaço no mercado. Muitos acabam perdendo dinheiro porque quando resolvem investir em um negócio desses, a moda já está passando”, comenta.
Moura diz que para começar a ver as oportunidades, é preciso se perguntar quais as expectativas ainda não atendidas nos mercados. E aí, são identificadas, atualmente, quatro macrotendências que já devem ser sentidas em 2018.
A primeira diz respeito à economia sustentável, que deixou de ser um modismo para ser algo essencial para as empresas. “Há uma preocupação com a exploração de recursos naturais, englobando toda questão de consumo ético e consciente, valores e transparência da empresa quanto estes pontos”, explica Moura. Um exemplo deste tipo de negócio é a locação de veículos por meio de assinaturas mensais, que já começou a ser explorado fora do Brasil. A Volvo lançou recentemente nos EUA um carro que não é vendido e a pessoa paga por mês para utilizá-lo.
Em seguida, vem a questão de proporcionar uma experiência única ao consumidor. “As pessoas buscam cada vez mais humanização, criatividade e customização. É uma macrotendência muito importante e quem vai abrir um negócio deve buscar proporcionar uma experiência diferenciada”, diz o consultor do Sebrae.
Os serviços de conveniência também seguem em alta, tendo em vista que as pessoas têm cada vez menos tempo disponível. “Nós compramos tempo. Todo serviço que vem para suprir isso costuma acertar em cheio”, afirma. Serviços de entrega que oferecem uma porção de opções, como alimentação, farmácias e lavanderias estão entre os destaques.
E, por último, a macrotendência da ultraconectividade, que utiliza da tecnologia para oferecer a solução de um problema. Existem aplicativos para celular já voltados para isso, nos quais você consegue, por exemplo, contratar um serviço de forma rápida e simples ou até fazer trocas de produtos e serviços na vizinhança.
Para Moura, acompanhar estas macrotendências é essencial para o desenvolvimento e crescimento dos negócios. “É uma maneira mais ampla de se guiar, vai além de dicas específicas. No mundo de hoje, é preciso estar atento a tudo que acontece ao redor”, indica.
Opções de negócios
Um dos setores em alta há algum tempo e que deve se manter assim em 2018 é o da educação. Cursos profissionalizantes ou livres, cursos universitários à distância e aulas de inglês são alguns exemplos. “Este setor nitidamente vai continuar porque as pessoas querem aumentar sua empregabilidade, percebem que precisam se educar e desenvolver habilidades num mercado altamente competitivo”, afirma Marcelo Cherto.
O mercado de alimentação, que sofreu um pouco em 2014 e 2015, volta a ganhar força, em especial os focados em alimentação saudável ou em restrições alimentares. “Restaurantes e lanchonetes focados em produtos orgânicos, sem glúten ou sem lactose têm tido bastante espaço”, aponta Ricardo Baccarat, consultor da AGR Consultores.
No varejo, também demonstram força os segmentos de cosméticos e beleza. Já o segmento de moda está enfraquecido há alguns anos.
A prestação de serviços em geral deve ter um aumento, em especial nos serviços de conveniência. Outro negócio que está em ascensão é o de clínicas populares, odontológicas e médicas. “Muita gente perdeu o plano de saúde porque perdeu o emprego e não tem condições de pagar, então tem prosperando estas clínicas que oferecem consultas mais baratas. Mas tem como temos visto aparecer muita coisa nesta área, é preciso tomar cuidado para ver se não vai ter muito concorrente”, alerta Cherto.
Segundo Cherto, um mercado que deve começar a prosperar em 2018 e que é muito pouco explorado ainda no Brasil é o voltado para a população idosa. Com o envelhecimento da população, faltam espaços voltados para este público. “Muitos pensam apenas em cuidadores porque a imagem que existe do idoso é de uma pessoa frágil, mas isso não é mais verdade. As oportunidades estão nas casas de repouso, que não necessariamente existem apenas para hospitalização, mas para atender outras necessidades, como por exemplo destas pessoas terem companhia, socializarem, manterem-se ativas”, aponta.
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Cherto conta que há 30 anos os consumidores a partir de 50 anos sequer figuravam nas pesquisas de negócios, pois a expectativa de vida era menor. “Hoje é um outro público, até é dito que o homem que vai viver 120 anos já nasceu. Estamos preparados para atender? Muitos já criaram seus filhos, já têm uma condição financeira boa e querem gastar o dinheiro que possuem. Estes serviços existem, mas ainda estão arranhando a superfície, mas é só uma questão de tempo até serem essenciais”, afirma.
Os mercados de nicho, aliás, devem receber atenção, não só em relação aos idosos. “Em especial estes que vemos que são de nicho mas apresentam um crescimento significativo entre a população, como é o caso do público LGBT”, conta Cherto. “Muitos casais LGBTs possuem duas rendas e não têm filhos, ou seja, existe um poder de consumo significativo entre estas pessoas e são poucos os negócios voltados para elas”, completa.
Para quem tem a ideia, o conhecimento mas falta dinheiro para investir, buscar um sócio pode ser uma boa jogada. “Às vezes não precisa nem ser um sócio atuante, mas um investidor-anjo. Financiamentos também ajudam, mas trazem o risco pois você cria uma dívida com o banco”, indica Baccarat.
Seja qual for o negócio, investir em tecnologia é essencial no mundo de hoje. “Vejo boas ideias, bons negócios, muita empolgação em empreender, mas há falta de emprego de tecnologia. E hoje em dia nós vivemos com o celular na mão, então é preciso estar atento a isso. Não é só ter um site bonitinho, mas ter toda a estrutura para gerenciamento de pedidos, de entregas, de prazo”, alerta Sergio Alexandre.
Franquias
As franquias seguem como uma boa opção para quem quer empreender. “Apesar da crise, o setor de franchising vem crescendo cerca de 8% ao ano nos últimos três anos. A própria crise gera demissões ou insegurança, o que leva as pessoas a buscar algo que tenha mais garantia de estabilidade. As franquias apresentam um índice de quebra ou fechamento menor do que negócios próprios”, aponta Paulo Ancona Lopez.
Entre os diferenciais das franquias estão o fato de elas já oferecem um modelo de negócio pronto, que já foi testado e validado, e também já oferecem uma marca conhecida pelo público. “Porém, você paga por isso e às vezes o preço pode ser mais alto por esta comodidade. Você paga a taxa de franquia, mensalmente paga os royalties”, lembra Moura.
Existem as microfranquias, com investimentos iniciais que podem chegar a R$ 10 mil, geralmente voltadas a prestação de serviços por não necessitarem de um ponto fixo de funcionamento, e o franqueado pode trabalhar de casa, por exemplo. “Mas é preciso entender que se o investimento é baixo, o retorno também vai ser proporcional. Não existe um negócio que custe pouco, dê muito dinheiro e não dê trabalho, isso é ilusão”, afirma Cherto.
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Outro ponto importante antes de se tornar um franqueado é entender que você seguirá regras pré-estabelecidas. “Comprar uma franquia não é para todo mundo porque você precisa seguir regras. Corre menos riscos, mas em compensação você abre mão de uma parcela de liberdade, e muitas pessoas não gostam de seguir regras dos outros”, aponta Cherto.
Uma das dicas na hora de escolher a franquia é conversar com outros franqueados. “O franqueador é um vendedor que quer que você compre a marca dele. Então é essencial saber se o que ele oferece é o que ele entrega. Conversar com outros franqueados ajuda nisso, você pode saber se o que eles oferecem realmente se concretiza, como o produto é aceito pelo público, se o retorno é o prometido”, orienta Moura.
Cherto indica algumas perguntas que podem ser feitas a estes franqueados. “Se ele pudesse voltar atrás, compraria a franquia? O que negociaria diferente? O que teria feito se tivesse, naquela época, as informações que tem hoje?”, diz.
De acordo com a Lei 8.995, o franqueador deve disponibilizar ao futuro franqueado a Circular de Oferta de Franquia, documento que deve ser entregue pelo menos 10 dias antes de que qualquer contrato seja assinado ou pagamento feito. Nele devem conter as condições gerais do negócio, principalmente aspectos legais, obrigações, deveres e responsabilidades de cada parte. Este documento deve ser escrito de forma clara, eliminando o “juridiquês”, mas mesmo assim a orientação de um advogado é importante.
“Ler este documento é obrigação de quem quer se tornar um franqueado. Com a ajuda de um advogado, passando ponto a ponto, ele tem mais pistas de se está ou não fazendo um bom negócio”, finaliza Cherto.