A startup Senscar criou um jeito de impedir o motorista que estiver bêbado de seguir viagem. Com um dispositivo similar ao bafômetro, o sensor mede o nível de álcool, corta o funcionamento do carro e informa o incidente a uma central conectada. Ainda em fase de prototipação, a tecnologia já tem clientes em potencial do ramo de transportes. O projeto foi um dos três escolhidos como finalistas do Renault Experience, desafio que envolveu 400 grupos de estudantes do país todo.
Com uma medição em três pontos, o sensor consegue discernir se rastros de bebida alcoólica que vêm da respiração do motorista — sem confundir com perfume ou com álcool ingerido por algum passageiro — promete Bruno Sena. Ele é o responsável pela engenharia do projeto, que também tem como integrantes três alunos de relações internacionais da Uninter, de Curitiba.
O protótipo foi testado na Faixa Vermelha, cooperativa que conta com a maior frota de táxis de Curitiba. A associação já sinalizou interesse em instalar o modelo definitivo, quando for lançado, conta Jean Pierre Pego, da Senscar. Aceitação semelhante ocorreu com a CCD, que opera linhas do transporte urbano na capital paranaense.
O dispositivo desliga o carro depois de 180 segundos. É o tempo que o motorista tem para encontrar uma vaga ou encostar o veículo no acostamento, para estacionar em segurança.
Além disso, o sensor envia um alerta para uma central responsável. Pode ser um gestor da frota ou um aplicativo instalado no celular de um pai ou mãe do condutor, por exemplo.
O público prioritário da Senscar é o chamado B2B (comércio com outras empresas). “Percebemos que as pessoas valorizam um motorista que passe por este tipo de avaliação, mas elas não querem instalar um desses no próprio carro”, explica Carlos Cunha. A equipe é completada por Gabriele Mirian, formado em relações internacionais e única mulher entre as integrantes das startups finalistas do Renault Experience.
O protótipo, que serviu para realizar os testes e mensurar a aceitação do mercado ao produto, custou menos de R$ 1.000. A Senscar ainda não tem uma estimativa de quanto irá custar a unidade do equipamento, quando produzido em escala industrial. De qualquer forma, o plano da empresa é de vender o serviço de monitoramento — e não os sensores. A ideia é cobrar uma mensalidade para manter os aparelhos rodando.
Curitiba deve servir como cidade-teste para a equipe.
De projeto estudantil a startup premiada
A Senscar nasceu como um projeto de um grupo de estudantes de relações internacionais da Uninter, para disputa do Renault Experience. O desafio da montadora tem justamente o foco de moldar projetos estudantis universitários para a criação de novas startups com foco em mobilidade urbana.
“A gente trabalha com as universidades desde 2008, há 10 anos. Mas não fazíamos nada com estes projetos, antes”. Daí o Experience, que é competição estudantil e empreendedora ao mesmo tempo, explica o diretor de Comunicação da Renault, Caique Ferreira.
A Senscar se moldou ao longo do processo de inscrição. “O tema era mobilidade e precisava ser algo com impacto social. Nós tivemos dezenas de ideias. Até ver que havia demanda para a questão [do álcool na direção], era uma coisa sensível”, conta Carlos Cunha, um dos integrantes da equipe.
Ao longo do mês de julho, no período de férias escolares, a Senscar e outras duas finalistas participam do processo de aceleração comandado pela Hotmilk, aceleradora vinculada à PUCPR. Os estudantes participam de treinamentos e têm contato com profissionais do mercado, executivos, investidores. E vão ter seu modelo de negócios colocado à prova, de forma constante.
“Pode ser que eles pivotem, ou seja, saiam daqui com projetos diferente daqueles que têm hoje”, comenta Ferreira.
Compartilhamento de motoboys e acidentes de trânsito
Outras duas equipes são finalistas do Renault Experience. A iDeliver, formada por alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), funciona como um compartilhamento de motoboys. A Arquimedes, de um grupo da USP de São Carlos, criou um aplicativo que promete diminuir acidentes de trânsito relativos ao uso de celular. As startups ainda estão em fase inicial, e não operam de forma comercial.
Diferente de rivais, como iFood e UberEats, o iDeliver não é um aplicativo para uso do público. A ideia é conectar empresas e entregadores. A loja recebe o pedido pela plataforma que preferir (por telefone, WhatsApp, ou mesmo por aplicativo) e aciona o iDeliver. O comerciante consegue fazer mais entregas, e o motoboy, mais viagens.
“A gente percebe que, no próprio iFood, muitos restaurantes aumentam o tempo de preparo, porque se todo mundo pedir ao mesmo tempo ele não dá conta de entregar. Com a nossa solução ele não tem este problema”, defende Luciano Moura, um dos membros da equipe.
Já a Arquimedes criou um aplicativo “gamificado”, que dá prêmios para o usuário que mantiver o celular bloqueado enquanto dirige. A ideia é educar o motorista a não utilizar o aparelho dirigindo — e oferecer descontos em estabelecimentos parceiros, com os prêmios conquistados no jogo.
Neste modelo, a Arquimedes ganha dinheiro embolsando uma parte do desconto. Outra estratégia é ceder o aplicativo para terceiros. Uma seguradora de carros, por exemplo, pode premiar o usuário com descontos na própria franquia do carro.
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