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Esforço de proteger a Petrobras é em vão. Bolsa afunda, títulos caem e dólar bate R$ 3,72

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(Foto: na/pa/NELSON ALMEIDA)

O esforço do governo federal em salvaguardar a política de preços livres da Petrobras, subsidiando a diferença do diesel, não está surtindo efeito no mercado financeiro, onde o olhar dos investidores vai mais longe e não encontra qualquer garantia de que como ficará a estatal ou mesmo a política econômica do país após as Eleições.

Nesta segunda-feira (28), oitavo dia de greve dos caminhoneiros, mesmo após as medidas publicadas pelo governo Temer em Diário Oficial, o Ibovespa afundou 4,49%, ficando em 75.355 pontos – pior dia de pregão após a fatídica denúncia de Joesley Batista contra o presidente Michel Temer. A queda da bolsa foi puxada, principalmente, pela queda das ações da Petrobras (-14,6%) e dos bancos. Desde o dia 21 de maio até hoje, a Petrobras perdeu R$ 115 bilhões em valor de mercado e com isso voltou a ficar atrás da Ambev, Vale e Itaú Unibanco na lista de maiores empresas listadas na B3.

O dólar comercial, por sua vez, fechou com alta de 1,64%, a R$ 3,7286 na venda, voltando a patamares anteriores as ações do Banco Central nos swaps para arrefecer o movimento da moeda norte-americana. Em outra palavras, a fragilidade do governo federal perante esta nova crise está espantando a confiança do mercado e fazendo com que esse setor passe por uma turbulência além daquela que já era esperada pelas denúncias de corrupção e pelas Eleições.

“A percepção de que o governo brasileiro está com dificuldades para se arrastar até o final do mandato cresceu fortemente. O estouro das contas públicas, que seria mitigado pela recuperação da economia, pela queda dos juros, cortes das despesas e reformas, está firme em uma trajetória explosiva, realimentada pela decisão de cobrir as demandas dos caminhoneiros com cortes de impostos”, avalia Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

Ele afirma que a greve dos caminhoneiros mostra que há um limite na continuidade da política de preços da Petrobras. “Realizar reajustes diários em uma economia desindexada parece pouco popular, sobretudo em um movimento de alta. Os contratos executados pelas empresas de transporte não têm garantia de remuneração, já que o custo do diesel é parte fundamental dos resultados. Como as empresas não conseguem repassar esse risco para seus clientes, as suas margens ficam expostas em um ambiente tão instável. Ainda que seja a política preferida pelo mercado, tudo indica que ela é inviável para boa parte dos clientes do monopólio”, constata o economista-chefe da Nova Futura.

Com a oposição voltando suas forças para o presidente da Petrobras, Pedro Parente, e os petroleiros anunciando uma paralisação a partir de quarta-feira (30) – ainda que a estatal tenha feito um apelo para que isso não ocorra –, tudo tende a se agravar. Isso se traduz num viés de baixa para as ações da Petrobras para as próximas semanas.

Na avaliação do editor-analista da Empiricus, Max Bohm, o maior receio do mercado é mesmo o da saída de Pedro Parente. No mercado, há rumores de que ele já estaria de saída para a BR Foods, embora o governo jure de pé junto que não quer que ele saia da presidência da estatal. “O mercado está cético. O investidor se questiona ‘será que toda a vez que alguém pressionar a Petrobras, vai ser assim?’.”

“As taxas de juros mais longas estão subindo com força, mostrando aumento da aversão ao risco Brasil. Os juros para 2021 estão saindo a 8,80% e os para 2025 a 10,95%. Essa alta dos juros coloca duas questões em relação à queda da Selic: os recentes ganhos para o financiamento da dívida e os efeitos da queda a retomada da atividade econômica estão quase eliminados”, alerta Silveira.

Para Bohm, a expectativa de 2,37% para o PIB deste ano que saiu no boletim Focus desta segunda-feira (28) está otimista demais. “As perdas destas duas semanas ou mais vai se refletir nos resultados do segundo trimestre das companhias, o que vai mexer também no PIB. De forma conservadora, boa parte dos analistas já trabalha com uma expectativa de 2% a partir de agora.”

Até a renda fixa está sofrendo com a crise dos caminhoneiros

Desde quarta-feira (23), o IMA, índice da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) que mostra as variações das carteiras de títulos públicos, registrou queda de 0,37%. Os índices de prazos mais longos apresentaram as perdas mais significativas: o IMA-B 5+, subíndice que é composto por NTN-Bs acima de cinco anos, e o IRF-M 1+, que acompanha os prefixados acima de um ano, recuaram 1,24% e 0,55% respectivamente.

A greve aumentou a incerteza e a volatilidade que vinham desde a última reunião do Copom, quando houve a manutenção da Selic a 6,5%. O Tesouro Nacional cancelou os leilões de venda de NTN-Bs, LTNs e NTN-Fs previstos para esta semana para evitar uma maior oscilação dos preços e, em contrapartida, anunciou novos leilões diários de compra e de venda das NTN-Fs para dar referência de preços desses papéis ao mercado, com vencimentos em 1/1/25, 1/1/27 e 1/1/29.

Segundo o economista do App Renda Fixa, Carlos Simão, o que aconteceu, na prática, é que o cenário de incertezas elevou os juros futuros, com isso os juros comercializado no Tesouro Direto também subiram. “Os títulos comprados antes do Copom e da greve perderam um pouco, já que foram comprados com taxas menores”, explica ele.

“Para o investidor que quer comprar títulos, é um ótimo momento,e vitando os pré-fixados. Para quem precisa vender, o momento é de segurar um pouco mais, até que o cenário melhore e fique mais claro”. Isso pode levar esta semana ou ainda mais, tudo depende de como a crise vai se desenrolar.

Simão também lembra que haverá um efeito pós-greve nos títulos públicos, já que o desabastecimento tende a gerar pressão inflacionária no país.

Empresas estão pensando duas vezes se entram na bolsa

A expectativa em relação à mudança da política monetária nos Estados Unidos aumentou a seletividade dos investidores em relação aos seus investimentos, sobretudo nos mercados emergentes. Somado a isso, a recuperação da economia brasileira em ritmo muito mais lento do que o esperado e agora o cenário turbulento da greve dos caminhoneiros e das eleições também contribuem para a maior cautela na escolha dos ativos pelo investidor. Os efeitos desse cenário já são vistos no mercado de capitais brasileiro.

Neste ano, das emissões de ações no "pipeline" (jargão do mercado financeiro para negócios em fase de preparação), algumas não tiveram sucesso, evidenciando a seletividade dos investidores. Entre elas, Blau Farmacêutica, Ri Happy e Grupo Dass. Outras desistiram ao sondar o mercado, como JHSF Malls e Centauro, por exemplo. Em relação a emissões externas, a Light e a usina Coruripe aguardam momento mais propício para emitirem.

"Agora, o mercado está 10 vezes mais seletivo. Os investidores não vão comprar qualquer 'case', mas de empresas com fundamento, que tenham base de crescimento, do setor", diz o vice-presidente executivo do Itaú BBA, Alberto Fernandes. Segundo ele, uma possível mudança da política monetária nos Estados Unidos tem afetado todos os emergentes e desviado a atenção dos investidores.

O aumento do nervosismo dos mercados começou nas últimas semanas, com a elevação da aposta de que a alta de juros nos EUA pode ter um ritmo maior do que previsto inicialmente. Com isso, o dólar vem se valorizando em relação a outras moedas e criando um ambiente menos favorável para a entrada de fluxo de capital nos emergentes.

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