Nem mesmo o lançamento de criptomoedas está regulamentado no Brasil, quem dirá as regras para quem negocia esses ativos. Mas isso não está impedindo os empreendedores do país de apostar na febre das moedas digitais: já há corretoras e banco operando, comprando e vendendo principalmente bitcoin, além de outras criptomoedas. E no fim desta semana, a primeira bolsa para a negociação desses ativos, com sede em Curitiba, deve entrar em operação.
A Wuzu deve começar a operar na próxima sexta-feira (23), segundo seu co-fundador Anderson Nery. Ainda neste mês, segundo informações do jornal Valor Econômico, é esperada também a estreia da H3, outra plataforma que se apresenta como bolsa, mas que não vai operar exatamente como a Wuzu.
A base da Wuzu é a B3, a Bolsa de São Paulo, ou seja, o mercado financeiro tradicional. Dito isso, a primeira característica da plataforma, que recebeu aporte de 11,11% da Superjobs Ventures, é que ela tentará levar a lógica do mercado de ações tradicional para o universo das criptomoedas, concentrando-se apenas na custódia desses ativos e no atendimento de corretoras, com serviços como a gestão de carteiras de criptomoedas, e não de clientes finais.
Isso deve tornar a operação da Wuzu mais segura do que a das corretoras em funcionamento hoje, que, na prática, atuam como corretoras e bolsa ao mesmo tempo.
“Os processos que estamos utilizando são os que já foram testados com grandes clientes nos Estados Unidos, e ainda implementamos medidas de segurança adicionais. Basicamente, colocamos uma camada a mais. Se o hacker conseguir entrar numa corretora ele não conseguirá nos acessar porque a nossa conta tem uma certificação específica, que inviabiliza um ataque de acesso direto, via internet, às criptomoedas negociadas”, explica Nery.
O desafio da Wuzu está em dar o tratamento B3 (confiável, mas com transações apenas em horário comercial), às corretoras dos investidores de criptomoedas, que precisam de um sistema 24 horas. A ideia pode, inclusive, auxiliar nas discussões em andamento para a regulação das criptomoedas no Brasil e, se der certo, servir de modelo para outros lugares do mundo. Outra vantagem desse modelo seria uma cotação mais sólida das criptomoedas, já que elas estariam sendo negociadas por diferentes corretoras em um mesmo local.
É neste potencial de liquidez e segurança, inclusive, que a Superjobs Ventures acreditou quando se propôs a acompanhar o amadurecimento da ideia da Wuzu e também a investir na startup. “Nós entendemos que o time que está por trás da Wuzu [Nery e André Carrera] tem total capacidade para executar a ideia e revolucionar o setor. O modelo de negócios deles é muito atraente. Eles têm uma visão de como introduzir a ideia no Brasil e, posteriormente, exportar isso para fora”, afirma Marcos Botelho, fundador e CEO da Superjobs Ventures, fundo de investimentos que “evoluiu”, ainda em 2017, para ser uma venture builder. Ou seja, seu papel agora é ir além dos aportes, acompanhando “as dores” dos empreendedores desde o início, auxiliando-os tecnicamente, e também atraindo novos investidores e parceiros para que tudo dê certo.
A meta da Wuzu é fechar 2018 com pelo menos 10 corretoras e bancos, incluindo alguns tradicionais, como clientes e com 25% da fatia nacional de negociação de criptomoedas. Parece ambicioso demais? Não é.
Em 2017, as negociações com bitcoin, segundo a plataforma bit-Valor, que divulga informações das corretoras e se propõe a montar um índice da criptomoeda no país (BRXBT) mas não passa por nenhuma auditoria externa, chegaram a mais de R$ 8,3 bilhões. Parece muito, mas lá fora, principalmente nos mercados asiáticos, as negociações com criptomoedas chegam a dezenas bilhões de dólares todos os dias.
Ainda segundo o relatório de dezembro de 2017 da bit-Valor, FoxBit, Mercado Bitcoin e Negocie Coins são as corretoras/bolsas com maior participação no mercado brasileiro atualmente, com fatias de 41,5%, 32,7% e 11,2% do setor no país, respectivamente.
Como vai funcionar
Como já mencionado, a Wuzu não atenderá clientes finais, apenas corretoras e bancos. As moedas negociadas serão, neste primeiro momento, bitcoin, bitcoin cash (uma derivação do bitcoin), litecoin e ethereum.
A remuneração da startup ocorrerá da mesma forma que numa bolsa tradicional, por meio do pagamento de emolumentos, ou seja, taxas em cada operação de corretagem, só que com valores bem abaixo do mercado atual, promete Nery.
Para as corretoras, serão garantidas margens em reais e exigido a gerenciamento de exposição ao risco de seus clientes. O saldo da conta, no caso de uma instituição financeira, só passará pela Wuzu na hora da liquidação da negociação.
Segundo informações do Valor Econômico, a H3 terá uma operação semelhante a da Wuzu, com exceção da parte de garantias e gerenciamento de riscos.
Para Nery, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central começaram a olhar para as criptomoedas apenas muito recentemente e uma proposta de regulação para o setor ainda deve demorar. “Mas acho que o entendimento que os órgãos têm demonstrado é de um imenso conhecimento do mercado”, avalia.