Os obstáculos ao crédito para microempreendedores individuais e micro e pequenos empresário (com faturamento de até R$ 3,6 milhões), por grandes bancos, mais interessados em garantir negociações de menor risco, têm sido combustível para o crescimento das fintechs brasileiras que resolveram olhar para esse público. Ainda que dentro de alguns limites, essas startups de serviços financeiros ligadas a instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central e/ou investidores individuais oferecem como vantagens processos menos burocráticos e 100% online, por meio de modalidades de crédito que vão de empréstimo com garantia à antecipação de recebíveis.
Conheça algumas das fintechs e seus produtos para micro e pequenas empresas
As micro e pequenas empresas precisam de capital de giro em torno de R$ 200 a R$ 250 mil, mas a maioria das fintechs oferta uma parte disso, entre R$ 100 e R$ 150 mil. São alternativas muito novas e a tendência é de que, à medida que se consolidem, as fintechs possam expandir cada vez mais os limites e atender a todos os níveis, avalia a especialista em gestão financeira e controladoria Flávia Malheiro, professora de cursos técnico e de aprendizagem do Senai/PR. “Inclusive os bancos podem tornar-se parceiros num futuro, para dar um respaldo melhor a essa fatia”, destaca.
A alternativa apresentada pelas fintechs também é uma opção vantajosa ao público investidor. Algumas delas atuam no segmento peer to peer lending (ou empréstimo coletivo). Nesta modalidade as startups conectam os tomadores em busca de retornos acima da média aos micro e pequenos empresários que precisam de dinheiro para seu negócio. Assim trabalha a Nexoos, que em dois anos de atuação financiou cerca de R$ 50 milhões em operações de crédito.
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Pela plataforma, pessoas comuns podem emprestar dinheiro a empresas, na forma de investimento, revela o CEO da Nexoos, Daniel Gomes. “Para as empresas, as taxas de juros podem ser até 70% menores que as vigentes nos bancos tradicionais. Uma vez que a solicitação é aprovada, em ambiente totalmente online, é apresentada aos investidores, que avaliam as propostas e têm livre escolha”, explica. Em 2016, um levantamento do Sebrae e do BC apontou que a média dos juros cobrada pelos bancos nesse tipo de empréstimo era de 4,5% ao mês, enquanto as taxas entre as fintechs chegava a 2,25% ao mês.
No mesmo segmento da Nexoos opera a Kavod Lending, que garante retornos em taxas pré-fixadas a partir de 1,10% ao mês, por meio de recebíveis de cartão de crédito, veículos ou imóveis das próprias empresas que procuram o aporte, conforme a disponibilidade e nível de risco delas. “A rentabilidade é mais do que o dobro do que a oferecida pelos bancos. O investimento, por sua vez, não é duas vezes mais arriscado”, explica o CMO e fundador da Kavod, Renato Douek.
Recebíveis em até um dia
A espera que chega a pelo menos 30 dias por intermédio de um banco, dura no máximo um dia numa fintech. É o que promete a TrustHub, especializada em antecipação de recebíveis e crédito a empresas com faturamento anual entre R$ 100 mil e R$ 30 milhões. Fundada em novembro de 2017, a fintech concedeu R$ 20 milhões em crédito, com uma média de 45 operações por dia.
“Com esse mercado aquecido, esperamos antecipar R$ 5 milhões por dia, até o final deste ano”, estima o diretor de meios de pagamentos da TrustHub, Alexandre Góes. Após um rápido cadastro na plataforma da startup, o cliente ganha uma conta de pagamento digital e solicita a antecipação de recebíveis com o envio de duplicatas. “Não há burocracia em nenhum momento do processo, o que é uma das principais queixas dos empresários.”
Crédito com garantia também é opção ofertada pelas fintechs
Como uma alternativa para aquisição e financiamento de imóveis, nasceu em 2017 a Bcredi, fintech do Grupo Barigui, que atua há mais de dez anos na oferta de crédito com a opção de usar um imóvel como garantia. Com juros menores e maior prazo para pagamento, almeja descomplicar o processo.
“As pequenas empresas, seja pessoa física ou jurídica, têm muita dificuldade porque na maioria das vezes são difíceis de serem analisadas. E, como nos últimos anos a poupança diminuiu, está muito difícil aprovar os créditos, então [o empréstimo com garantia de imóvel] surge com uma alternativa mais garantida”, comenta a cofundadora da Bcredi, Maria Teresa Fornea.
O imóvel como garantia, muito difundido nos Estados Unidos, engatinha no Brasil. O desafio é criar uma experiência menos dolorida possível. “A ideia é transformar uma operação burocratizada em uma operação baseada em tecnologia, com foco na experiência do usuário.”
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As micro e pequenas empresas — microempreendedor individual (faturamento anual até R$ 60 mil); microempresa (faturamento anual até R$ 360 mil), e pequena empresa (faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões) — representam nada menos que 98,5% dos empreendimentos do país e configuram 27% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Além disso, são responsáveis por gerar 54% das vagas formais no mercado de trabalho. Apesar do forte impacto social, o risco não atrai o interesse dos grandes bancos. “O conservadorismo é um ponto que gera muita desconfiança. As fintechs estão investindo nas falhas dos bancos e os produtos estão mudando, cada vez mais inovadores e tecnológicos. Talvez sejam um esboço do que serão nossos bancos no futuro.”
Veja como operam algumas fintechs de oferta de crédito
Biz Capital: libera em até cinco dias úteis créditos de até R$ 150 mil para capital de giro, para empresas que faturam até R$ 5 milhões ao ano. Taxa de juros de 1,99% a 4,99% e 24 vezes para quitação.
BCredi: oferta crédito com garantia de imóvel: de R$ 50 mil a R$ 1,5 milhão, 15 anos para pagar e taxas de 1,15% a.m. + IPCA. Usa até 50% do valor do imóvel em crédito, tem carência de até 180 dias para franquia e liberação do crédito em até 10 dias; e financiamento imobiliário: crédito de R$ 50 mil a 1,5 milhão, até 20 anos para pagar, taxa a partir de 1% a.m. + IGP-M. Financia até 70% do valor de imóvel e permite uso de FGTS.
Kavod Lending: empréstimo coletivo para operações de R$ 100 mil até R$ 750 mil reais, a empresas de faturamento mínimo de R$ 6 milhões por ano. Créditos a partir de R$ 100 mil, com taxa de juros de 1,1% a.m. e prazo máximo de 24 meses para pagar. O aporte mínimo dos investidores é de R$ 10 mil por operação.
Nexoos: empréstimo coletivo para empresas com faturamento anual de R$ 250 mil a R$ 30 milhões, pelo menos dois anos de mercado. O prazo varia de três a 24 meses para quitar, com taxa de juros de 1,4% a 3% e no máximo R$ 500 mil liberados em até sete dias. Para o investidor, o valor mínimo do aporte é de R$ 2 mil por empresa, devendo ser um mínimo de três companhias na primeira operação. Pode emprestar até 5% do valor solicitado.
TrustHub: adquire duplicatas das PMEs com faturamento anual de R$ 100 mil e R$ 30 milhões, com vencimento em até 60 dias e liberação do crédito em até duas horas. Taxa de juros de 2% a 6%. Os créditos são de R$ 50 mil, em média, variando conforme os recebíveis da empresa.
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